O sol estava baixo no horizonte quando Calyon e Lira entraram no coração da floresta. O ar era úmido e fresco, e uma leve brisa agitava as folhas acima deles, criando sombras que pareciam desenhar padrões no chão. Cada passo que davam parecia ecoar no silêncio sagrado da floresta, como se fossem os primeiros a caminhar por ali em séculos.
Eles avançaram, ambos cautelosos. Calyon observava o ambiente com atenção, os olhos sombrios e concentrados. Algo no ar transmitia um peso invisível, como se cada centímetro da floresta estivesse carregado de um poder que não poderiam compreender.
Logo à frente, encontraram a clareira onde se erguia o Coração Arcaico. A gigantesca árvore cristalina pulsava com uma energia de outra era, suas folhas brilhando em um verde etéreo e suas raízes se espalhando pelo chão como tentáculos de energia viva. Cada ramo parecia conter fragmentos de luz, como estrelas presas em suas veias.
Lira parou ao lado de Calyon, seus olhos refletindo fascinação e reverência. — Isso… é inacreditável. Nunca imaginei ver algo assim.
— Nem eu. Parece que estamos olhando direto para o passado, para um poder que já existia muito antes de nós — respondeu Calyon, a voz séria, tomada por uma sensação de respeito profundo.
Ao darem mais alguns passos, uma figura espectral surgiu ao lado de um dos ramos mais altos. Era um velho mago, com um semblante austero e olhos que pareciam faíscas de um fogo ancestral. Outras figuras espectrais começaram a aparecer ao redor da árvore, todos com expressões sérias, observando-os em silêncio.
— Vocês sabem onde estão pisando? — perguntou o velho mago, sua voz reverberando como se ecoasse em várias dimensões.
Calyon manteve o olhar fixo na figura espectral. — Sabemos que estamos diante de algo muito maior do que nós. É por isso que estamos aqui.
O velho mago observou Calyon com um ar intrigado e, após um breve silêncio, fez um gesto em direção ao tronco da árvore. — Se possuem coragem para desvendar segredos, toquem o símbolo gravado no tronco e contemplem o que ele revelará.
Os outros magos espectrais se dispersaram ao redor da clareira, desaparecendo entre as sombras e deixando apenas o velho. Lira assentiu para Calyon, e ambos tocaram o símbolo, um sol rodeado por símbolos desconhecidos. Ao fazê-lo, uma onda de luz os envolveu.
No instante seguinte, encontravam-se em um campo de batalha antigo. Magos enfrentavam monstros de sombras e criaturas que pareciam saídas de pesadelos, e a energia que emanava de cada ataque era assustadora, como se o ar estivesse saturado com o peso de eras de lutas e sacrifícios.
Lira observou a cena com os olhos arregalados, absorvendo cada detalhe. — Estes… são os nossos ancestrais.
Calyon assentiu lentamente, impressionado com a intensidade da batalha. — Não imaginava que as lendas fossem tão reais, tão brutais. Nem sei como conseguiram sobreviver a isso.
Uma figura familiar apareceu em meio ao campo de batalha. Era o próprio mago que os havia guiado até ali, mais jovem, com feições endurecidas e um olhar feroz. Ele liderava um grupo de magos contra uma criatura colossal, u feito de uma escuridão absoluta, cujos olhos brilhavam como chamas.
O cenário era de pura destruição, mas também de coragem. De volta à clareira, a visão terminou abruptamente, e eles se viram novamente diante do Coração Arcaico, que pulsava suavemente, como se estivesse cansado pelo fardo de tantos segredos. O velho mago estava lá, observando-os com um olhar sábio e sombrio.
— Então, viram o que precisavam? — perguntou o mago, sua voz carregada de significados profundos.
Lira respirou fundo, ainda impactada pelo que presenciara. — Vimos uma batalha ancestral. Acho que ainda estamos tentando entender o que isso significa para nós.
O mago assentiu, uma expressão grave cruzando seu rosto. — As respostas muitas vezes se escondem nas memórias. Há coisas que não podem ser explicadas, apenas vividas. Vocês ainda têm um longo caminho, jovens. O passado está cheio de segredos, e talvez, apenas talvez, vocês descubram que fazem parte dele de maneiras que não esperavam.
As figuras espectrais desapareceram, deixando Calyon e Lira sozinhos na clareira novamente. Por um momento, ficaram em silêncio, absorvendo tudo o que haviam visto e sentido.
— As lendas realmente são vivas — murmurou Lira, pensativa.
Calyon assentiu, um olhar firme no horizonte. — E parece que estamos destinados a fazer parte delas.
Ambos se afastaram da clareira com uma nova determinação em seus corações, sabendo que aquela experiência havia mudado algo dentro deles, os aproximando mais dos segredos do passado que tanto buscavam compreender.
Fim do capítulo 29.
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Crônica da divisão Eterna
FantasyNo vasto e misterioso mundo de Nana, oito continentes são governados por raças poderosas, enquanto o continente humano luta para sobreviver como o mais fraco. Calyon, o jovem príncipe herdeiro, carrega uma linhagem ancestral enigmática com o poder s...