Capítulo 2: O Chamado do Destino

23 3 17
                                    

O amanhecer no continente humano era sempre uma promessa de um novo dia, mas para Calyon, a rotina do castelo havia começado a parecer sufocante. Como príncipe herdeiro, ele se via cercado por conselheiros e tutores, todos insistindo em prepará-lo para o trono de um reino fraco. No fundo, ele sabia que as expectativas para seu futuro iam muito além das fronteiras daquele reino, mas a extensão de seu verdadeiro destino ainda lhe era desconhecida.

Calyon estava nos jardins do castelo, absorto em seus pensamentos, quando sentiu algo diferente no ar. Um tremor fraco sob seus pés, como se a própria terra sussurrasse para ele. Era uma sensação de algo vindo, algo grande. Ele esticou a mão, como se tentasse agarrar o que estava no vento, e então... um flash de memórias atravessou sua mente.

Por um momento, ele não era mais o jovem príncipe no jardim. Ele estava flutuando no vazio, cercado por estrelas e escuridão. Figuras etéreas dançavam ao seu redor — deuses e demônios, criaturas antigas que transcendem o tempo. E no centro de tudo, havia uma força desconhecida que o chamava, como um farol na noite.

De repente, o mundo ao seu redor voltou ao normal, e ele se viu ofegante no jardim. Seu coração batia rápido, e o peso daquela visão misteriosa pressionava sua mente.

“Calyon!” Uma voz firme o chamou de volta à realidade. Era Vion, o conselheiro mais próximo de seu pai, o rei. O homem velho e de cabelos brancos se aproximou rapidamente, suas sobrancelhas franzidas em preocupação. “Você está bem? Parecia que tinha visto um fantasma.”

Calyon balançou a cabeça, tentando dissipar a confusão. “Estou... bem, só me perdi nos pensamentos.”

Vion observou-o por um momento, seus olhos estreitos fixos no príncipe. “O rei está à sua espera no salão do trono. Algo importante está para ser discutido.”

Sem outra palavra, Vion virou-se e caminhou na frente, deixando Calyon sozinho com seus pensamentos por alguns segundos antes de segui-lo.

---

O Salão do Trono estava mais silencioso do que o normal. Os guardas estavam presentes, mas havia uma tensão no ar, como se todos estivessem aguardando algo fora do comum. O Rei Alden, pai de Calyon, estava sentado em seu trono de pedra, sua postura severa refletindo os anos de governança sobre um reino em constante ameaça de invasão e ruína.

“Calyon, meu filho, aproxime-se,” disse o rei com uma voz cansada, mas firme.

Calyon caminhou até o centro da sala, curvando-se levemente em respeito. “Pai, o que houve?”

O rei suspirou profundamente antes de falar. “As fronteiras do nosso reino estão sob ameaça. Relatórios de espiões falam de movimentações estranhas de demônios abissais no sul, perto dos territórios das outras raças. O Conselho de Guerra quer que reforcemos nossas defesas, mas... há mais em jogo.”

Ele fez uma pausa, seu olhar se fixando em Calyon. “Há algo de que eu nunca falei, mas agora chegou a hora. Há segredos em nossa linhagem, segredos que você precisa conhecer para poder proteger este reino... e a si mesmo.”

Calyon ficou tenso. As palavras de seu pai estavam carregadas de um peso que ele nunca tinha sentido antes. “Segredos? Sobre nossa linhagem?”

O rei assentiu. “Sim. Você herdou um poder muito maior do que imagina. Esse poder, Calyon, tem a ver com sua conexão com as forças mais antigas do universo... o espaço e o tempo.”

Calyon ficou em silêncio, tentando processar o que acabara de ouvir. Ele já havia sentido algo diferente dentro de si, mas ouvir essas palavras de seu pai confirmava as suspeitas que ele tinha, mas nunca ousara acreditar.

“Esse poder,” continuou o rei, “é o legado do Ancestral Humano, uma figura esquecida pela história, mas cujo sangue ainda corre em nossas veias. Ele era capaz de manipular o tempo e o espaço, e seu desaparecimento deixou muitos mistérios não resolvidos. Agora, cabe a você descobrir como usar essa herança.”

Calyon sentiu uma mistura de excitação e medo. “Mas... como posso fazer isso? Onde começo?”

O rei sorriu levemente, mas havia tristeza em seus olhos. “Eu não tenho todas as respostas, mas você não está sozinho nessa jornada. Você será guiado por aqueles que conhecem o caminho, e o Dao Celestial protege sua linhagem por razões que até nós desconhecemos.”

Antes que Calyon pudesse responder, um mensageiro entrou correndo no salão, ofegante. “Majestade, notícias urgentes! Um exército de demônios foi visto se aproximando da cidade fronteiriça de Velaris!”

O rei se levantou abruptamente. “Então é verdade... eles estão atacando.”

Calyon fechou os punhos. “Deixe-me ir, pai. Eu posso ajudar.”

O rei olhou para o filho por um momento, como se pesasse o futuro de ambos em seus olhos. “Você ainda não está pronto, mas terá que aprender em campo. Prepare-se, Calyon. Sua jornada começa agora.”

---

Enquanto as preparações para a batalha eram feitas, Calyon se via sozinho no pátio do castelo, olhando para o horizonte. O peso de suas responsabilidades o pressionava, mas também havia uma chama de determinação crescendo dentro dele.

Ele sabia que o que estava por vir não seria fácil. Ele enfrentaria não apenas os demônios, mas também os segredos de sua própria linhagem e os mistérios do mundo ao seu redor.

Mas, por enquanto, havia uma batalha a ser lutada, e ele estava pronto para dar o primeiro passo em sua longa jornada.

---

Fim do Capítulo 2.

Crônica da divisão EternaOnde histórias criam vida. Descubra agora