Capítulo 16

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Arthur Mendes

Acordei antes do sol nascer, algo raro para mim, especialmente depois de noites intensas como a de ontem. Mas minha mente estava inquieta demais para me permitir descansar. A conversa com Lucas, seus olhos magoados e o peso do momento ainda ecoavam na minha cabeça.

Saí do quarto em silêncio, não querendo incomodar ninguém, e fui até a varanda. O ar fresco da madrugada me envolveu, ajudando a clarear os pensamentos. Sentei no banco de madeira, observando as primeiras luzes do dia aparecerem no horizonte.

Peguei o celular e liguei para Léo. Ele sempre foi o cara que ouvia tudo, sem julgamentos, e sabia me dar as respostas que eu precisava ouvir, mesmo que fossem difíceis.

— Fala, cara, tudo bem? — Ele atendeu, a voz ainda grogue.

— Ei, te acordei? — Perguntei, tentando não parecer tão tenso.

— Não, eu tava de bobeira. O que rolou? Tá tudo bem?

Suspirei, passando a mão pelos cabelos.

— Não sei. Acho que sim. Ou não. Sei lá.

— Arthur... — Ele arrastou o tom. — Vai direto ao ponto.

— Eu falei pro Lucas que sou o pai dele. Bom, na verdade ele escutou a minha conversa com a Isadora.

Houve um silêncio do outro lado da linha antes de Léo finalmente responder:

— Uau. E como foi?

— Confuso. Ele ficou magoado. Perguntou por que eu não tava com ele antes.

— E o que você disse?

— Falei a verdade. Que eu não sabia sobre ele até agora. Mas, cara... — Minha voz falhou um pouco. — Ele me olhou como se eu tivesse falhado com ele.

— Porque, de certa forma, ele sente isso. — Léo respondeu, direto. — Mas você não pode se culpar por algo que não sabia. Você fez o que precisava fazer agora, e é isso que importa.

— Será que importa mesmo? — Perguntei, mais para mim do que para ele.

— Claro que importa, Arthur. Você tá lá, certo? Tá tentando ser pai agora. Ele vai perceber isso com o tempo. Só não espera que tudo se resolva da noite pro dia.

— É, você tem razão. Mas é difícil. Eu quero que ele me aceite, sabe? Quero ser alguém importante pra ele.

— E vai ser. Só não força. Vai devagar. Ele é uma criança, mas crianças são resilientes. Dá tempo ao tempo.

Assenti, mesmo que ele não pudesse ver. Era o que eu precisava ouvir, mas não tornava tudo mais fácil.

— Valeu, cara. Não sei o que faria sem suas broncas.

Léo riu.

— Relaxa. Qualquer coisa, me chama. Agora vai lá e faz valer a pena.

Desliguei a chamada e fiquei um tempo ali, observando o céu mudar de cor. Era hora de seguir em frente, mas antes disso, precisava conversar com outra pessoa.

{...}

Encontrei meu pai na varanda principal da casa. Ele já estava de pé, com uma xícara de café em mãos, observando o movimento dos peões que começavam o dia na fazenda.

— Bom dia, pai. — Disse, puxando uma cadeira ao lado dele.

— Bom dia, Arthur. Dormiu bem?

— Mais ou menos. — Respondi, olhando para o campo. — A noite foi longa.

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