Isadora, uma jovem médica recém-formada em Campo Grande, vive uma rotina intensa equilibrando sua carreira e a criação de seu filho, Lucas, de quatro anos. Anos atrás, quando ainda era estudante de medicina, ela viveu um romance apaixonado com Arthu...
Depois do café da manhã, meu pai sugeriu levar Lucas para dar uma volta e mostrar os bois no pasto. O garoto mal conseguiu esconder a empolgação. Assim que eles saíram, deixando o silêncio se instalar, fiquei sozinho com Isa na cozinha.
Ela terminou de passar manteiga em um pedaço de pão e apoiou os cotovelos na mesa, olhando para o café na xícara como se estivesse perdida nos próprios pensamentos. Peguei o celular do bolso para checar as mensagens, mas ao abrir o Instagram, percebi que as notificações estavam fora de controle.
Havia várias postagens recentes mencionando meu nome. Cliquei na primeira, de um perfil de fofoca, e lá estava:
"GENTE! Nosso astro e muso nacional Arthur Mendes, a voz que embala o Brasil, deu uma pausa na agenda lotada de shows e resolveu trocar o barulho das multidões pelo silêncio da roça! Será que o sertanejo tá mais afinado com o coração do que com o violão?"
Suspirei, passando a mão pelo rosto. Deslizei para outra postagem:
"Internautas resgatam fotos antigas de Arthur e Isadora Rizzo. O que teria acontecido para separá-los? Fontes próximas dizem que Isa foi o grande amor do cantor na faculdade, mas a carreira dele acabou atrapalhando."
Entro em uma outra postagem, essa falava da Isadora, de sua carreira como médica, de sua família e como ela é privada.
- Parece que estamos mais famosos do que gostaríamos – comentei, largando o celular na mesa com um pouco mais de força do que pretendia.
Isa ergueu os olhos devagar, me encarando com uma expressão indecifrável.
- Perfis de fofoca? – ela perguntou, voltando a bebericar o café.
Assenti, soltando um suspiro.
- Estão desenterrando tudo. Fotos antigas nossas, histórias da faculdade... E, claro, agora você também virou alvo.
Ela franziu o cenho, largando a xícara no pires com um som seco.
- Isso era de se esperar, não acha? Desde que você apareceu na minha vida de novo, sabia que essas coisas iam acontecer. Não dá para manter segredo quando você é... – hesitou, buscando a palavra certa – ...você.
- Eu nunca quis isso, Isa. Não quero que fiquem invadindo sua vida, a vida do Lucas.
-Mas já está acontecendo – ela rebateu, os olhos fixos nos meus. – É tarde para se preocupar com isso agora.
Houve um silêncio pesado. A sensação de que estávamos girando em torno de algo muito maior pairava sobre nós.
- Se eu soubesse... – comecei, a voz falhando. Olhei para Isa, tentando organizar os pensamentos. – Se eu soubesse desde quando você descobriu a gravidez, tinha voltado para curtir tudo desde o início.
Ela arregalou os olhos, surpresa com minha confissão, mas eu continuei antes que ela pudesse dizer qualquer coisa:
-Minha carreira podia esperar, Isa. Porque eu nunca vou poder voltar no tempo e ver o nascimento do Lucas, os primeiros passos, a primeira palavra. Eu perdi tudo isso.
Ela respirou fundo, desviando o olhar.
- Arthur, eu... Eu não sabia o que fazer naquela época. Você estava começando a despontar, tinha tanto pela frente. Achei que contar só ia te atrapalhar.
- E você achou que esconder ia facilitar? – minha voz saiu mais dura do que eu pretendia.
Isa apertou as mãos sobre a mesa, claramente tentando manter a calma.
⁃ Não era só sobre você. Era sobre mim também. Sobre como eu ia lidar com tudo isso sozinha.
Eu passei a mão pelos cabelos, tentando conter a frustração que queimava no meu peito.
-Mas você não precisava estar sozinha. Eu poderia estar ali, Isa. Mais você escolheu que eu não estivesse.
Ela me olhou com olhos brilhando de emoção contida, mas não respondeu de imediato. O silêncio que se seguiu foi interrompido pelo som da porta dos fundos se abrindo. Meu pai e Lucas voltavam, as vozes animadas enchendo a cozinha.
Nos encaramos por mais um instante, como se ambos quiséssemos dizer algo mais, mas não fosse o momento.
- Essa conversa ainda não acabou – murmurei antes de me levantar para ir até Lucas.
Isa ficou onde estava, as mãos apertando a xícara de café, enquanto os passos de meu filho ecoavam pela casa.
Lucas entrou correndo na cozinha, os olhos brilhando de entusiasmo.
-Mamãe! O vovô me mostrou os bois! Eles são enormes! - exclamou, erguendo as mãos para demonstrar o tamanho.
Isa sorriu, mas era um sorriso tênue, frágil, que Lucas notou de imediato. Ele parou de falar, franzindo a testa como só uma criança curiosa faria.
-Tá tudo bem, mamãe? – perguntou, inclinando a cabeça, os olhos cheios de preocupação.
Isa piscou algumas vezes, como se fosse pega de surpresa. Seus dedos apertaram de leve o punho da xícara antes de relaxarem.
-Tá tudo bem, meu amor – respondeu, tentando suavizar a voz, mas não conseguiu disfarçar completamente o tom melancólico.
Lucas não pareceu convencido. Ele olhou para mim como se procurasse uma confirmação. Fiquei ali, parado, observando os dois, e algo me acertou em cheio: aquela conexão entre mãe e filho, aquele cuidado mútuo, era algo que eu ainda estava aprendendo a compreender.
Eu me abaixei até ficar na altura de Lucas.
-Sabe, campeão, às vezes os adultos ficam pensativos, mas isso não quer dizer que não estejam bem – falei, bagunçando o cabelo dele de leve. – E você sabe o que sempre ajuda?
Ele piscou, atento.
-O quê?
-Um abraço bem apertado – sugeri, lançando um olhar para Isa.
Lucas não hesitou. Foi até ela, subindo na cadeira e se jogando em seus braços. Isa envolveu o pequeno corpo dele com força, encostando o rosto no topo da cabeça dele. Ela fechou os olhos, como se aquele gesto fosse o que ela precisava para se recompor.
Fiquei de pé, observando a cena, e me peguei refletindo sobre como Lucas, com apenas quatro anos, já entendia a importância de estar presente para quem a gente ama. Não importa se não temos todas as respostas ou se carregamos nossos próprios medos; o que importa é o amor, aquele gesto simples que lembra que ninguém está sozinho.
Eles tinham muito para me ensinar, percebi. Isa, com sua força disfarçada em um sorriso calmo, e Lucas, com sua inocência tão sincera.
Eu também queria fazer parte dessa troca. Não apenas estar presente, mas aprender a dar de mim do jeito que eles precisavam. Talvez fosse isso que a paternidade significava: não só ensinar, mas estar disposto a ser transformado. . . . . Esse capítulo gente 🥹🤏🏻 Outra coisa, essas postagens estão todas publicadas no insta @web.strela
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