•Rio•
Hoje madruguei na chamada com a Kene, porque a Kel sumiu. Não responde e não atende o celular. Sinto que ela precisa de ajuda, mas como vou saber? Tudo que podemos fazer agora é esperar. E eu ODEIO esperar.
Levantei para arrumar as crianças para a escola. Não vou levá-las hoje; a diretora contratou uma motorista.
Enquanto penteio o cabelo de uma criança e visto o sapato de outra, minha mente está longe. Onde está a Kel? Já orei pedindo a Deus que me dê algum sinal de vida. Não consigo imaginar como a mãe dela deve estar. A senhora Rose, sempre tão preocupada...
Depois de deixar todas prontas, vou ao quarto das gêmeas.
— Uau! Vim ajudar vocês, mas acho que não precisa — comento, admirando a bagunça.
— Não mesmo! — Rayza diz com um sorriso sapeca que me dá vontade de apertar suas bochechas.
— Só precisamos de ajuda para calçar o sapato — completa Luz. Assinto e pego um par, colocando nos pés delas.
— Estão ansiosas? — pergunto, amarrando o cadarço.
— Siim, muito! — Rayza responde, olhando animada para Luz.
— Eu preferia estudar em casa, igual fazia no outro orfanato — Luz revela, com sinceridade.
— Entendo. Mas vai ser uma experiência nova. Vocês vão gostar — digo, acariciando a mão dela.
Depois de amarrar o outro tênis, ajudo a arrumar a mochila.
— Vão lá embaixo pegar o lanche de vocês — digo. Elas assentem e saem do quarto.
Arrumo a cama delas com cuidado e, em seguida, pego meu celular e entro no Instagram procurando a conta da Rose.
— Rio! — ouço a diretora me chamar.
— Sim, senhora? — respondo, olhando para ela.
— Resolvi te dar seu presente adiantado.
— Uh? — olho o envelope e imagino que seja ingresso para um show.
— Pega! — Ela me chama a atenção, e eu pego o envelope, abrindo-o.
— ...O que? — leio o papel, surpresa.
— Você vai amanhã para a Tailândia.
— ...Mas diretora, é... eu ia comprar, não precisava se incomodar.
— Rio, você vai fazer 20 anos e é tão talentosa. Quero que siga seu sonho.
— AAAAAH! Eu vou fazer faculdade de moda! — grito, dando pulinhos.
— Sim, você vai — diz ela, rindo. Eu a abraço forte.
— Muito, muito obrigada!
— De nada, princesa. — Ela se afasta para me olhar. — E você com as crianças?
— Eu não queria te falar antes para não parecer que estou te substituindo. Você é insubstituível. Mas já contratei novas cuidadoras; elas vão vir amanhã.
— Espero que elas cuidem bem das crianças.
— Vão, sim. Não se preocupe. — Assinto e a abraço novamente.
— Preciso falar com elas sobre isso, mas ODEIO despedidas. Vou chorar — falo manhosa.
— Elas vão entender. E meio que elas sabem... — olho para ela.
— Sério? — Ela assente.
— Eu tive que dar a notícia das novas cuidadoras e já as alertei sobre sua viagem.
— Obrigada. — Ela faz carinho no meu rosto e sai andando.
Olho os outros papéis e vou atrás dela para saber do que se trata.
•Faye•
Bato na porta da casa da vó da Lua e ela abre, sorrindo amplamente. Isso é o suficiente para eu chorar em seus braços.
— Querida... — Dona Beny sussurra, me levando para dentro da casa.
Fazia um tempo que eu não vinha aqui, então estranhei os móveis trocados de lugar e a parede que antes era rosa, agora era branca. Mesmo assim, a decoração continua bonita.
— Quer chocolate quente? — pergunto, assentiando e limpando minhas lágrimas.
Entramos na cozinha juntas e, ao olhar perto da pia, vejo a Lua reclamando porque queimou o dedo. Fixo o olhar ali, tentando diferenciar a realidade da minha imaginação. Quando Dona Beny faz um barulho, a Lua desaparece.
Sento na cadeira, ainda olhando aquele lugar.
— O que te traz aqui? — Dona Beny pergunta, passando as mãos na minha coxa.
— Vim para investigar umas coisas, mas não consegui encontrar.
— O que? — Ela pergunta, curiosa.
— 1 de novembro — murmuro, com a voz embargada.
— Sua luta?
— É... Você assistiu? — levanto e me aproximo dela.
— Sim. Mas o programa foi cancelado. Até hoje não entendo o que aconteceu... — Mostro a ela minha cicatriz no ombro. — Levei uma facada, mas até hoje não sei quem foi.
— Procura na delegacia — ela sugere. Assinto.
— Vai ficar aqui quantos dias?
— Não sei.
— Quer cookies? — Ela sorri, e já sabendo que sim, começa a fazer.
— Você... sabe aonde está minha afilhada?
— Não. O pai dela não está mais com ela.
— Como? Eu fiz ele prometer que deixaria com a senhora.
— Você esqueceu, Faye? Não se pode confiar nele. — Bufo, passando a mão no rosto.
— Posso ficar no quarto da Lua? — Ela me olha, pensativa.
— É claro. Levo lá quando estiver pronta — ela diz. Assinto e saio da cozinha, entrando no corredor com três portas.
Paro em frente à última e abro a porta. Como imaginei, tudo está como ela deixou. A decoração com as luas que eu dei de presente na época, as luzinhas no teto que contávamos, sempre tentando adivinhar qual piscava primeiro.
Me aproximo da cama dela, apago a luz, acendo as luzinhas e me deito contando cada uma. Dessa vez não há ninguém para tirar minha concentração.
— 237 luizinhas, Lua — sussurro, olhando ao meu lado. Vejo ela ali com um sorriso largo, e quando vou abraçá-la, quase caio no chão.
Me repreendo por ainda cair nas pegadinhas da minha imaginação.
Acendo a luz e abro a gaveta, vendo nossas fotos de formatura do ensino médio. Rasgo a cara do Danilo, deixando apenas nós duas.
— Faye! — Dona Beny entra com uma bandeja onde tem um copo com chocolate quente e cookies.
— Tudo me lembra ela.
— Eu entendo — diz ela, olhando em volta, provavelmente também não entrando aqui há tempos.
Aprecio o cookie acompanhado do chocolate quente.
— Obrigada — digo, terminando.
— Você pode dormir aqui se quiser.
— Tá — respondo, e ela me abraça. Permito-me chorar novamente em seu colo. Me aconchego mais e acabo dormindo.
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MINHA AFILHADA IRRESISTÍVEL /LÉSBICA FAYE PERAYA
Roman d'amourRio cresceu no orfanato lúpus,após viajar para Tailândia ela consegue alugar um quarto em uma casa de uma mulher muito atraente. Só não esperava que essa pessoa a conhecesse.