Ouça "I'll Cover You - RENT" no Spotify, YouTube ou plataforma se sua preferência.
[...]
Quando entrou na sala como combinado com Kelvin, Ramiro não disse uma palavra sequer.
As teclas do piano que ficava no local eram tocadas com cuidado numa música lenta a qual rapidamente reconheceu como sendo parte do filme e musical favorito do outro rapaz.
Durante o período de internação após o "acidente", sentado ao lado daquela cama de hospital, ele o assistiu sozinho do começo ao fim algumas vezes, compreendendo de certa forma as razões pelas quais aquela produção havia assumido um primeiro lugar no coração de Santana.
Observou-o parar por um instante e olhar para o horário na tela de seu celular, mas não se moveu até a música retornar ao início mais uma vez, com a voz baixa de Kelvin soando enquanto a parte de Angel se desenrolava.
— Live in my own house, I'll be your shelter. Just pay me back with one thousand kisses. Be my lover and I'll cover you...
— Open your door... — Ramiro cantou quando a deixa para a estrofe de Collins surgiu. — I'll be your tenant. Don't got much baggage to lay at your feet, but sweet kisses I've got to spare. I'll be there and I'll cover you.
Ele caminhou até Kelvin, que não parou de tocar, mas o encarou de volta com um sorriso convidativo que levou-o a sentar-se no espaço que restava no banco diante do piano.
— I think they meant it when they said you can't buy love. — cantaram juntos. — Now I know you can rent it. A new lease you are my love, on life... Be my life.
Tentando não se perder diante da imensidão que era o talento e paixão carregados por Kelvin, o rapaz seguiu acompanhando-o ao longo de cada verso como se houvessem ensaiado a vida toda para aquele momento. Nunca havia se sentido daquela forma por mais ninguém. Nunca havia amado assim outro alguém.
— When your heart has expired... — quando o trecho chegou, Ramiro assistiu, sem compreender, os olhos de Kelvin se enchendo de lágrimas o suficiente para fazer qualquer pessoa parar, mas não ele, não alguém que vivia e amava aquilo tão intensamente. — I'll cover you... — a voz do jovem saiu mais baixa, mas não perdeu o ritmo. — Oh lover, I'll cover you, yeah, yeah, yeah yeah... Oh lover, I'll cover you...
As últimas notas soaram, desaparecendo entre os dois rapazes e então, somente então, Kelvin se permitiu soluçar.
— Ei, aconteceu alguma coisa? Você parecia bem nas mensagens.
— Tá tudo bem, eu só... Não era assim que eu tinha planejado, e a música, ela...
— Calma, vem aqui e respira. — Ramiro o puxou para seus braços. — Não acho que deveria cantá-la se te faz mal.
— Não me faz mal, eu só... Nunca tinha parado para pensar em determinados pontos sobre a perda definitiva de alguém até... Tudo acontecer... E tem tantas coisas mais...
— Quer falar sobre isso?
— Eu não poderia. — Kelvin sacudiu a cabeça. — Mas não se preocupe, vai passar, não é nada demais.
— Então devemos comer e começar nossa aula? — perguntou um tanto incerto quando o outro afastou o rosto de seu peito, tentando enxugar as lágrimas que ainda escorriam.
— Não, quer dizer, podemos comer, mas não precisamos da aula, eu só queria dizer...
— Kelvin... — falou ao mesmo tempo.
— Você primeiro... Assim eu consigo pensar em algo que não me faça parecer bobo de novo.
— Você não parece bobo. — Ramiro o tranquilizou, estendendo a mão para acariciar seu rosto.
— Pareço sim, mas vai, pode ir falando, eu vou depois.
— Tem certeza?
— Aham.
— Bem, eu... Pensei tantas vezes em como fazer isso, e Enzo tem me dito que eu provavelmente estou enrolando para algo que já existe... Algo que está estampado na minha cara. Cada vez que te vejo tenho mais certeza do que eu quero, e talvez seja meio clichê ou brega, chame como quiser, mas esse momento me deu a coragem que eu precisava para...
— Você não pode estar fazendo isso. — Kelvin o interrompeu, colocando ambas as mãos contra os lábios do outro. — Não. Diga. Essas. Palavras. — falou pausadamente antes de se afastar apenas um pouco. — Não venha pedir para sermos aquela coisa com "n".
— Por quê? Fiz algo errado? Eu... não era hora? — Ramiro pareceu preocupado com aquela atitude.
— Fez algo errado sim, você não pode me pedir em namoro. — o olhar dele foi perdendo seu brilho ao ouvir aquelas palavras. — Não quando eu planejei tudo isso para pedir você.
— Você está brincando, né?
— Por que eu brincaria com algo assim? Estou atuando em Hadestown, essa história toda de uma tarefa que nunca existiu foi apenas porque... — respirou fundo antes de prosseguir. — A questão é que nós não podemos comprar o amor quando uma hora ou outra ele chegará ao fim independente do motivo... Quando as pessoas que somos encontrarão seus finais próximos ou distantes, dependendo do caminho que seguirmos... Mas nada disso significa que não podemos tê-lo pelo tempo em que ainda estivermos aqui. Por isso eu te digo que sim, Enzo está certo. Meus amigos estão certos. Acho que só demoramos muito tempo para rotular o que já temos, pois rótulos sequer são tão importantes assim, mas eu gostaria... Gostaria de ser seu namorado. Que aceitasse ser o meu e ser parte da minha vida e das minhas loucuras, por maiores que elas pareçam, porque sequer chegam ao tamanho do meu amor... Do amor que eu sinto por você. — confessou. — Então, Ramiro Neves, essa é minha verdade: eu te amo e me faria muito feliz se eu pudesse alugar o seu lado desse amor por tempo indeterminado e pagar com os meus beijos enquanto for possível, o que diz?
— Eu digo que sim. — respondeu imediatamente. — É claro que sim. — ele avançou para deixar um selinho rápido nos lábios de Kelvin, se afastando apenas o bastante para seguir com sua fala. — E eu também amo você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tell Me Something
FanficKelvin sabe que aquele pode ser o semestre de sua vida, e sonha com o futuro brilhante que o aguarda. O que não espera é conhecer alguém como Ramiro, que o faz querer desvendar o mistério por trás de sua pessoa e de seus próprios sentimentos.