B. Memórias desbloqueadas 💌

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E se uma frase fosse suficiente para fazer Ramiro lembrar-se de pequenas partes de todas as versões do futuro que deixaram de existir?

Mexer com o tempo é perigoso e incerto, cada decisão tomada pode gerar uma série de consequências e ninguém jamais saberia o impacto das mudanças numa linha do tempo até que estas acontecessem.

Então e se? Se um conjunto de palavras o levasse de volta ao que passou, qual seria sua reação? Onde ele buscaria por respostas? Como seria para a sua mente saber que perdeu e ganhou seu grande amor tantas vezes e que a vida é nada além de incertezas?

E se...

[...]

DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO

Os convidados foram embora horas depois. Kelvin e Ramiro arrumaram o básico, mas decidiram em comum acordo deixar o que faltava para a manhã seguinte, pois ambos já estavam cansados demais para lidar com o resto da bagunça.

Havia sido um ótimo dia, cheio de sorrisos e promessas de um amanhã, felicitações e palavras bonitas. Já não havia mais nada a ser dito quando se deitaram lado a lado, o braço de Ramiro enrolado na cintura de Kelvin mantendo-o perto de seu corpo enquanto eram tomados pelo sono.

Mas então amanheceu, e Kelvin não saberia dizer ao certo o que o levou àquela lembrança e constatação, mas simplesmente aconteceu. Quando a luz atravessou a janela e Ramiro acordou, sorrindo para ele como se fosse a coisa mais preciosa em todo mundo, o menor simplesmente disparou sem pensar:

— Eu amo saber que sempre estive certo e que realmente o Sol se levanta e se põe com seu sorriso.

Ao invés da risada calorosa ou uma fala carinhosa, a resposta de Ramiro foi uma expressão confusa ao mesmo tempo em que disse:

— Por que falou isso?

— Nada. — Kelvin esticou a mão, tocando o cabelo do noivo e acariciando-o. — É só algo que eu sempre pensei.

— Nós falamos sobre isso alguma vez?

— Sim... — ele parou ao notar que sua resposta deveria ser "não", afinal, aquela conversa existiu para si mesmo, mas não para Ramiro. — Quer dizer, não, acho que não... Mas nós falamos sobre tantas coisas...

O silêncio tomou conta do quarto, só que ainda havia algo não dito ali.

— Amor, você ficou chateado com isso? Por acaso Evelyn Hugo é seu preconceito literário? — brincou.

— Não é isso... Eu achei que me lembrava de você me dizendo isso, mas é estranho... Você era e não era você. Eu era e não era eu.

Kelvin parou de repente com a carícia, sentando-se quase assustado.

— Como assim?

— Talvez tenha sido só um sonho e eu fiquei com isso na cabeça. — Ramiro tentou evitar o assunto, sentando-se também, mas desta vez, era Kelvin que parecia ter mais a falar. — Foi só um sonho, não foi? Não pode ter sido real...

— O que, exatamente, não pode ter sido real? Uma conversa sobre um livro?

— Uma conversa sobre um livro, uma ligação para te acalmar numa época em que eu nem deveria te conhecer... — ele fechou os olhos e apoiou a testa em suas mãos, como se sua cabeça estivesse começando a doer.

Kelvin precisou engolir o choro quando disse:

— Rams, talvez seja melhor se...

— Não pode ter sido real. Você estava perto o bastante para uma mensagem, mas longe demais do aqui e agora, e doía tanto que algumas noites era como se eu estivesse perdido e nunca mais fosse me encontrar. Como se o mundo estivesse pegando fogo e eu parado observando, desejando queimar junto dele... Mas se fosse verdade, você não estaria aqui agora.

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