Prefácio

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No princípio de todas as coisas, ou no fim de todas as eras, havia um ser celestial cujo nome não podia ser pronunciado, pois transcendeu os limites da linguagem e da compreensão mortal. Sua existência, além de qualquer conceito material ou espiritual, irradiava um poder tão vasto que envolvia as infinitas dimensões além da realidade. No entanto, mesmo em sua glória infinita, esse ser celestial estava sujeito à vontade inexorável do destino, aquela força silenciosa que nenhum poder, por mais grandioso, poderia resistir. E em sua sabedoria e magnanimidade, decidiu repartir sua autoridade suprema entre oito seres: quatro monarcas das trevas e quatro lordes da luz.

Entre esses seres elevados, dois destacavam-se acima de todos: Ghrian, o Lorde da Luz, e Niva, a Monarca da Escuridão. Por eras incontáveis, nutriram um ódio implacável um pelo outro, desejando não apenas subjugar o oposto, mas tomar para si o poder total que o ser celestial um dia possuíra. E, então, em um tempo fora dos limites das esferas conhecidas, em um plano de existência distante e não mapeado, esses dois rivais uniram suas forças. Juntos, almejaram derrubar o trono supremo e dividir entre si o domínio absoluto sobre as vastidões do cosmos e os reinos ocultos nos abismos da realidade.

No dia marcado pelo destino, as forças de Ghrian e Niva se fundiram em um só golpe.  A ira de sua aliança abalou os pilares das múltiplas realidades, e o ser celestial foi vencido. O trono que sustentava a ordem universal foi destruído, e o ser que antes regia todos os planos de existência se desfez em silêncio. Mas a vitória durou pouco. A traição, semente plantada no coração da escuridão, floresceu. Niva, consumida pela ânsia de poder, voltou-se contra Ghrian, golpeando-o pelas costas com uma fúria fria. Seus exércitos sombrios, as guerreiras da noite, avançaram sobre os seguidores de Ghrian, varrendo dos planos elevados os resquícios de sua luz.

Ghrian, em sua sabedoria e antecipando a traição, dividiu sua própria essência em cinco fragmentos, lançando-os nas profundezas de um vazio primordial, um abismo tão vasto e desconhecido que nem a luz mais intensa poderia alcançá-lo. Esses fragmentos caíram em reinos além do tempo e da compreensão, ocultos nas camadas mais distantes do multiverso, e lá permaneceram, esperando o tempo de sua restauração.

A traição de Niva e a fuga de Ghrian marcaram o início da primeira grande guerra entre as divindades, a Guerra de Lhoktor. Esta guerra, alimentada pela ambição e pela fúria, arrastou consigo não apenas os supremos, mas também todos aqueles que os seguiam. Os Zamorks, devotos dos Monarcas das Trevas, lutavam com ferocidade e força bruta, prontos para sacrificar suas vidas pela escuridão. Os Arautos, por outro lado, seguiam os Lordes da Luz, travando suas batalhas a partir de uma distância segura, suas armas sendo ativadas apenas pela bênção de seus mestres divinos.

Eras se passaram, e a guerra devorou tudo o que encontrou em seu caminho. Dimensões inteiras foram varridas da existência, reinos nascidos nas fendas da realidade se tornaram desertos de energia morta. O sangue dos imortais fluía como rios cósmicos, e os gritos de essências dilaceradas ecoavam pelos planos inomináveis. Com o tempo, o número de mortos se acumulou de tal maneira que não havia mais onde lançá-los. Os corpos e as essências despedaçadas foram então jogados ao antigo abismo, o mesmo em que Ghrian havia escondido sua essência.

Mas o abismo, antes um lugar de silêncio e mistério, despertou. Criaturas inomináveis, antes adormecidas nas profundezas dos reinos mais remotos, começaram a emergir, atraídas pelos fragmentos da luz perdida. Eram seres de pesadelo, nascidos das sombras mais antigas dos reinos abissais, e entre eles havia um que era o mais temido: o Caos rastejante. Seu nome era sussurrado em medo pelos que ousavam mencionar sua existência, pois ele era o predador de mundos, um ser cuja fome era infinita, capaz de consumir até mesmo a luz que Ghrian havia dispersado.

Enquanto a desordem reinava entre os planos e nas profundezas ocultas, o Caos esperava. Sua ascensão estava próxima, e ele sabia que o tempo de sua fome incontrolável chegaria. E assim, os reinos, as divindades e as criaturas que se moviam entre as esferas dançavam à beira do abismo, inconscientes do desastre iminente que se aproximava.

A história das realidades múltiplas e das profundezas insondáveis está tecida em sombras e luz. Cada movimento dos supremos ecoa através das camadas da existência, e cada sacrifício molda o destino de todos os planos. Mas no final, a balança pende, e o caos aguarda pacientemente seu momento de consumir tudo o que os seres do cosmos um dia tentaram proteger.

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