O suficiente 🍭

213 55 13
                                    

🍭

Maiara

O som do filme tocava baixinho no fundo, uma melodia suave que preenchia o ambiente com uma sensação de paz que, por algum tempo, parecia inalcançável. Maraisa dormia profundamente, seu corpo pequeno aninhado entre nós, e o bichinho de pelúcia ainda apertado contra o peito, como uma âncora em seu mundo de sonhos. Eu a observava, notando a tranquilidade em seu rosto, e por um instante, deixei-me esquecer de tudo. Apenas o presente importava. Apenas esse momento de serenidade, em que o amor parecia suficiente para nos proteger de tudo.

Gustavo se ajeitou ao meu lado, sem soltar minha mão. O toque dele era firme, um lembrete silencioso de que ele estava ali, comigo, de que não carregava mais esse fardo sozinha. Eu sabia que ele entendia o peso que eu sentia em relação à Maraisa. Ele sabia o quanto eu havia dedicado minha vida a protegê-la, e nunca questionou isso, nem por um segundo. Em vez disso, ele se juntou a mim, me apoiando de maneiras que eu nem sabia que precisava.

- Ela está melhorando – ele sussurrou, como se não quisesse quebrar o silêncio suave que nos envolvia. – Vai levar tempo, mas eu posso ver. Ela está mais tranquila agora.

Eu assenti lentamente, mas as palavras não vinham. Parte de mim sabia que ele estava certo, que Maraisa estava começando a encontrar um pouco de paz em meio ao caos que sua mente criava. Mas outra parte de mim, aquela que conhecia cada nuance da sua fragilidade, ainda estava apreensiva. Sabia que os momentos de calmaria podiam ser apenas isso: momentos. E a tempestade podia voltar a qualquer hora.

- Ela é forte – Gustavo continuou, apertando minha mão um pouco mais. – Como você, Maiara. Vocês duas são. E eu estou aqui. Não vou a lugar nenhum.

Eu me virei para ele, sentindo as lágrimas se acumularem mais uma vez. As palavras dele sempre tinham esse efeito sobre mim, quebravam minhas barreiras cuidadosamente construídas. Eu queria ser forte, para Maraisa, para ele, para nós. Mas era difícil. Difícil admitir que, por trás dessa fachada de força, havia uma menina assustada, com medo de falhar.

  - Eu não sei o que faria sem você – confessei, minha voz quebrando. – Eu me sinto tão perdida às vezes. Tão... sobrecarregada.

Gustavo me puxou delicadamente para mais perto, descansando meu rosto em seu peito. Seu cheiro familiar me acalmava, me lembrava que, mesmo nos momentos mais sombrios, eu tinha um porto seguro. Ele não precisou dizer nada. Seu abraço falava por ele, e naquele momento, era tudo o que eu precisava.

  - Você nunca estará sozinha, Mai – ele sussurrou depois de alguns segundos, beijando o topo da minha cabeça. – E eu sei que tudo isso parece impossível agora, mas nós vamos superar. Juntos.

Ficamos ali por um tempo indeterminado, apenas existindo no conforto um do outro, enquanto o filme continuava a passar na tela. Eu podia sentir o calor do corpo de Maraisa ao meu lado, sua respiração suave, e isso me trouxe um pouco de alívio.

No entanto, sabia que essa calmaria era apenas parte de um longo processo. Maraisa ainda tinha um caminho árduo pela frente. Os comportamentos infantis, a dependência emocional, o trauma que ela carregava... eram tantas camadas que precisávamos desvendar, tantos medos para enfrentar. Mas, ao mesmo tempo, havia uma força nela que eu não podia ignorar. Ela queria melhorar. Queria encontrar um jeito de viver sem as sombras que a perseguiam. E enquanto ela quisesse lutar, eu estaria ao seu lado, segurando sua mão em cada passo.

- Sabe – Gustavo falou, rompendo o silêncio. – Quando você me pediu em casamento lá embaixo, eu fiquei surpreso. Não porque eu não quisesse, mas porque... bem, eu sempre imaginei que seria o contrário. Mas agora, vendo tudo isso... vendo como você cuida dela, como luta todos os dias... Eu percebo que é isso que eu quero também. Quero estar com vocês. Quero essa família.

Eu me afastei um pouco, olhando para ele com olhos marejados. Havia algo tão sincero na maneira como ele dizia aquelas palavras, algo que fazia meu coração se aquecer de um jeito que eu não conseguia explicar.

- Você tem certeza? – perguntei, minha voz quase um sussurro. – Porque isso não vai ser fácil. Eu sei que você sabe, mas... tem muita coisa que ainda vai acontecer, Gustavo. E eu não sei se estou preparada para isso.

Ele segurou meu rosto com as duas mãos, me olhando diretamente nos olhos, como se quisesse que eu sentisse a profundidade das suas palavras.

- Eu nunca estive tão certo de algo na minha vida, Maiara. Eu fui feito para isso. Para amar você, para amar a Maraisa. Não importa o que aconteça, nós vamos superar tudo juntos.

Eu sorri, mesmo que as lágrimas começassem a rolar pelo meu rosto. Havia tanto amor naquelas palavras, tanto comprometimento, que não havia como duvidar. Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que talvez, só talvez, as coisas fossem realmente ficar bem.

- Eu amo você – murmurei, inclinando-me para beijá-lo.

O beijo foi suave, tranquilo, como uma promessa silenciosa de que, independentemente do que o futuro trouxesse, nós enfrentaríamos juntos. E enquanto nos afastávamos, senti o peso da responsabilidade diminuir um pouco, como se, ao compartilhá-lo com ele, eu finalmente pudesse respirar de novo.

O futuro ainda era incerto, claro. Maraisa ainda teria dias difíceis, assim como eu e Gustavo. Mas, naquele momento, sob a luz suave da televisão e com nossa pequena família unida, eu soube que, de alguma forma, encontraríamos um caminho.

E, por mais assustador que o mundo lá fora pudesse ser, sempre teríamos um ao outro. Sempre teríamos o nosso pequeno mundo, onde o amor era suficiente para nos proteger.

🍭Máscaras✨Onde histórias criam vida. Descubra agora