Vintiquattru. - 100 a 0.

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Entre idas e vindas da Itália até o Brasil já fazem três meses daquele tormento. Marina continua no hospital, com melhoras graduais mas sem previsão de volta; a gravidez ia bem, os médicos prezavam muito pela saúde do bebê que descobrimos ser um menino forte e saudável. Periodicamente os pais dela vinham a visitar já que eles tem uma vida no Brasil, eu acabei alugando um apartamento aqui e comecei a vir todos os dias para o hospital. Meus pais também vieram mas não aguentavam ficar muito tempo e logo caiam no choro.

Conheci algumas pessoas legais aqui no país mas nada que pudesse superar os meus amigos do Brasil que eu tanto sentia falta. Todas as vezes que eu voltava para o meu país natal, era mágico. Era recebida com flores pelo Jorge, muitos abraços e risadas pelos meus outros amigos.

Eu e Jorge acabamos nos afastando naturalmente, algo que já era de se esperar mas sempre que eu voltava a nossa química e conexão voltava também.
Meus amigos sentiam minha falta e eu sentia muita falta deles também, sentia falta da minha família, da minha casa, das batalhas e de fazer o que eu amo. Mas tive total ciência de que eu estava na Itália por amor, amor por alguém que sempre me amou e me acolheu, amor pela minha melhor amiga.

Todos os dias eu lidava com o sentimento de incerteza por não saber o que me esperaria quando abrisse a porta do quarto, não saber qual seria notícia do dia ou o que mudaria em Marina. Vê-la ali me doía o coração, ela estava incapaz, não respondia, não falava, não dava seus sorrisos lindos e seus olhos já não brilhavam, se quer abriam.

- Oi meu bem, tô aqui de novo. - me sentei ao se lado pegando em sua mão que tinha remédios na veia - Quando cê vai voltar, hein? - essa era uma das perguntas que eu fazia a ela todos os dias

- Saudades de você. Seu baby tá forte, tá bonito. Quero esperar você acordar para saber qual nome tu vai dar, espero que seja algo bonito pra combinar contigo. - dei um meio sorriso

- Ansiosa pra ver essa criança nascer, ver ela correndo e brincando. Já montei o quartinho dele lá em goma, sabia? Tá a coisa mais linda do mundo, todo decoradinho do jeito que você sempre me disse. - acariciei sua barriga por cima do tecido que cobria

- O cara que te fez isso tá preso, acredita? Pois é, ele foi condenado a dez anos de prisão no regime fechado, achei pouco mas melhor do que nada. - suspirei pesado me sentindo cansada - Seu sonho era ficar grávida, lembra? E agora que você tá, não pode aproveitar.

Os sons dos aparelhos eram as únicas respostas que eu tinha para as minha perguntas e devaneios. As conversas que eu tinha com ela variavam muito, eu chorava, ria, me sentia ansiosa e as vezes esperançosa. Eu consegui um médico brasileiro e agora ele acompanhava o caso dela.

- Bom dia, Aya. Como vai? - nós viramos colegas e ele era gentil comigo sempre preocupado com a minha saúde mental - Vamos ver a evolução da Marina? Ver o progresso dela. - sempre dava um jeitinho de deixar tudo mais leve e tentar me dar mais esperança

- Oi doutor Morelli. Estou indo, né? - ri baixo

Ele começou a fazer os exames iguais a todos os dias, examinando cada coisinha detalhadamente e logo sua expressão mudou.

- Temos boas notícias! - comentou e eu me animei - Poderemos desentubar ela amanhã pela tarde, aumentamos a dose de alguns remédios e ela reagiu super bem, estou surpreso pela rápida melhora. - eu sorri contente, em três meses essa era a melhor notícia que nós tivemos

Ele percebendo minha emoção estendeu a mão para mim e me cumprimentou de forma breve mas o suficiente para sentir firmeza que daria tudo certo a partir de agora.

- E o nenê? Como vai? - questionei curiosa

- Vou pedir para trazerem a máquina de ultrassom agora. Volto daqui a meia hora, pode contar a notícia para ela. - ele deu uma risadinha e eu também já que o mesmo tinha me visto várias vezes conversando com ela

RETALHOS - BaskOnde histórias criam vida. Descubra agora