Niende.- Enjoei.

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- Quero minha cama, minha casa e o resto da minha dignidade. - choraminguei - Dói tudo Nina, meu corpo não se mexe. - ela me olhou e riu

- Foi atropelada é? Eu hein.

- Sei lá, tem dipirona? - ela confirmou e saiu do quarto para buscar

Hoje já era quarta, aleluia. Ontem fui no coliseu, rimei e perdi na final para o Malagueta rimando ideologia. Foi muito bom rimar com ele, nunca tinha visto esse tipo de rima vindo dele e me surpreendeu para o bem.

Orochi tinha proposto de irmos para o Tanque juntos e de lá sairmos para algum lugar e eu topei. Provavelmente sairíamos para a Lapa ou algo assim.

- Como que cê vai pra lá? - Marina questionou abrindo o armário

- Não sei, provavelmente algo fresco. Calor do cacete que tá aqui, credo. - passei a mão no pescoço sentindo o suor escorrer pelo meu corpo

Me juntei a ela perto do armário e tirei uma blusa regata branca, um shorts jeans de lavagem clara e um chinelo ou seja, básico do básico.

Batalha começou, Peke contra Pivete. Pensem num confronto bom, minha mandíbula doía de tanto rir com esses dois, até eu fui citada no meio da rima.

Peguei uma bebida pra mim e acabo trombando com Fael que acendia um cigarro. Ele me olhou de cima a baixo e sorriu, me puxou pelo pulso e tirou um de seus fones.

- Fica aqui comigo. - sua voz saiu arrastada e baixa - Tu sumiu, andou por onde?

- Por que tá tão preocupado agora? Você some e depois quer satisfação? - comentei me escorando na parede

- Eu sumi? - riu irônico

- Sim, depois da resenha que a gente ficou. - dei um longo gole na minha bebida - Mas não te devo satisfação nenhuma Rafael, assim como tu não me deve. - pisquei e me retirei do local

- Bora Aya, tá rolando a batalha. - Orochi diz e saímos correndo ficando de lado para o palco

A praça estava cheia, era algo lindo de se ver e me remetia aos velhos tempos mas agora com muito mais estrutura e visibilidade.

O sorriso no rosto de Orochi transparecia o que nós sentíamos naquele momento, é gratificante ver a semente que plantamos anos atrás dando frutos.

Agora seria Fael contra Malagueta, vou fazer panela...pro Malagueta. Brincadeira, mas ele de fato mandava muito.

Começou o confronto e a plateia estava na vibe, Mz sabia o que fazia e realizava muito bem.

- Tá fazendo o que da vida? Voltou a rimar né? - Orochi questionou alto em meio aos gritos da plateia

- Sim, nada sério. Tenho minha gravadora, o studio de fotografia e as faculdade. - falei simples e foquei nas rimas que rolavam

- Voltou pra ensinar a nova geração a rimar? - ele questionou brincando

- Eles já aprenderam com a gente tempos atrás, agora a surra é ao vivo.

Eu sentia falta desse clima, o Tanque foi e ainda é minha casa. Talvez eu me arrependesse de ter sido reconhecida ou buscar a fama, CLT nem deveria ser tão ruim assim... mas o que esse lugar me proporcionou nenhum emprego poderia fazer igual.

Acabei saindo de casa aos 14, vim morar aqui em São Gonçalo por causa da batalha mesmo, vendia de tudo, doces, bijuterias e bonecas, tudo isso para poder alugar uma kitnet pra mim. Me arrependo e muito por isso, meu coração implorava por ficar ao lado dos meus pais e minha mente sabia que seria importante fazer aquilo. Fiquei apenas um ano morando sozinha aqui pois no ano seguinte fui para São Paulo para a Aldeia.

RETALHOS - BaskOnde histórias criam vida. Descubra agora