Capítulo 6

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     Depois de um banho, desci para jantar com meu pai. Ele estava bem empolgado cantando e falando sobre seu novo projeto. Fazia um tempo que ele não cozinhava em casa e hoje ele estava muito feliz por fazer isso.

— Vou esperar sua mãe hoje, será que eu consigo? – ele riu.

— Tenta. Ela vai gostar de te ver acordado. – Mordi o bife. Ele suspirou.

— O problema é que ela chega tão tarde, bom, pelo menos vai ter comida fresca. –Ele pigarreia, — Olha Luke, desculpe estar tão distante de você. O luto ainda está difícil.

Fiquei em silêncio.

— Está difícil pra nós três. –Suspirei ao dizer.

— Desculpe. – Ele acariciou meu cabelo.

Os olhos estavam brilhantes, a lágrima teimava cair. Sorri de volta.

— Tudo bem pai, vamos superar. – Ele assentiu.

— Sua mãe merece uma comida quente. Cansei de comprar comida congelada.

— Ela vai gostar. –Reforcei. Ele sorriu.

Ajudei ele a lavar a louça enquanto ele contava das fofocas do seu trabalho. Contei como levei o soco e ele riu alto. Ele deixou bem claro que só riu porque eu não provoquei, caso contrário eu estaria encrencado. Fazia meses que estávamos distantes um do outro e naquele momento eu senti o meu coração alegre. Ele era uma boa companhia.

Subi para dormir, eu tinha perdido muitas aulas então não poderia perder mais. Entrei no quarto e ele estava gelado, passei as mãos nos braços e fechei a porta. Peguei o edredom no armário e ajeitei meu corpo na cama. Pensei em fechar a janela, mas mudei de ideia.

Tirei o celular do carregador no criado mudo e o coloquei debaixo do travesseiro e deitei de lado com visão para o espelho. Estava quase pegando no sono, quando de olhos fechados percebi que algo iluminou a minha frente. Abri os olhos devagar e percebi que vinha do espelho. Fiquei firme nos cotovelos ainda com sono. Luzes e mais luzes pareciam sair pelas bordas suas bordas.

Um círculo perfeito começou a se formar no centro do espelho, ergui uma sobrancelha sem entender se estava sonhando ou estava acordado. Antes que decidisse o que fazer, algo me puxou pelos pés pela lateral da cama, o edredom veio comigo, não gritei e não fiz barulho. Estava mudo de medo. Levantei me afastando do espelho. Ele tinha uma vibração estranha e eu o observei por um tempo. Meu coração saltitava no peito, as mãos trêmulas estavam curiosas, queriam tocá-lo. Fui caminhando para mais perto e tudo à minha volta estava em completo silêncio. Parecia parado no tempo.

Toquei no espelho.

Pequenas ondulações se formaram na sua superfície. Saltei para trás. Aquilo era muito estranho. Tentei novamente e ele parecia amolecido como se fosse penetrável. Suspirei fundo e continuei passando minha mão pela superfície apalpando o espelho que estava ficando mais gelado. Outras ondulações foram surgindo como água agitada por uma gota. Porém antes que eu tocasse a outra mão meu pai bateu na porta.

O espelho se apagou e eu fui jogado no chão com um impulso. Corri para minha cama e fingi estar dormindo. Ouvi seus passos pelo quarto.

"— O que esse edredom faz no chão?"

Ele colocou o edredom sobre meu corpo e saiu do quarto fechando a porta atrás de si. O relógio marcava 21h13 da noite.

A curiosidade estava me matando e vez ou outra eu olhava para o espelho na esperança de ver aquela magia novamente, porém ele não brilhava mais. Uma pontada de decepção me fez entristecer. Fiquei observando a minha cama refletida nele pela lateral, e quase de forma momentânea eu dormi. Acordei quando senti um beijo na bochecha dado pela minha mãe que chegou tarde aquele dia. A encarei por um instante.

Através do Espelho {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora