Atravessei arbustos sem fim me arranhando em todos eles. Porcaria! Mais à frente o vislumbre mais bonito que eu já vi e abaixo do morro que eu estava havia outra vila. Casinhas pequenas de madeira, telhados alaranjados, pequenas cercas. A paisagem verde adentrava a vila em formas de arbustos com flores, uma pequena horta na lateral direita vasta aos olhos, frutas que emoldavam a vila.
Árvores floridas e verdes cercava toda a volta. Observei um pouco as pessoas ali, escondido atrás de uma árvore. Pessoas sorridentes e normais como eu. Cães e gatos que circulavam pelos caminhos de pedras redondas. O sol estava baixo parecia querer se por. O tempo ali passava muito rápido., e talvez se eu ficar por aqui eu fique mais seguro.
Desci pela lateral da árvore me esquivando das raízes quando algo segurou o meu pé direito. Um cipó esverdeado se enroscava no meu pé com tanta força que doía. Tentei chutar e esfregar o outro pé, mas era impossível. Considerei até morder para ver se talvez causasse dor ou algum desconforto, mas nada adiantava. Eu estava preso. Aquilo me puxou montanha abaixo em meio a terra e as pedras levantando poeira.
Tentei me desvencilhar, mas os cipós eram fortes demais. Puxei um galho seco da arvore e bati até os braços arderem, estava quase perdendo as esperanças deixando os cipós me levarem para a gruta escura num morro isolado quando aquilo me soltou recuando rápido me rodando no ar. Cai de boca no chão cortando o lábio, o sangue pingou na terra alaranjada. Não sei se aquilo queria apenas me assustar, mas recuou e não voltou até eu atravessar a cerca de madeira envelhecida. Estava com sede, com fome. A vila havia uma cerca imensa, hortas infinitas tomavam grande parte daquela montanha.
Atrás de mim a escuridão pairava no céu. A névoa negra vasculhava esse lado também por algum motivo. Me escondi entre algumas madeiras atrás da primeira casa. A névoa escura pairou alguns segundos sobre a casa e eu prendi a respiração, logo depois ela voltou flutuando para o lado que eu vim. A vila ficou em silencio durante a passagem da névoa e depois voltou os burburinhos. Sorrisos altos, alguns bravos e o relinchar de cavalos. Andei escondido atrás das casas, e pra minha sorte eu não avistei cães ou gatos. Ao longo da vila havia alguns paióis, era um bom lugar para eu me esconder caso voltasse a chover.
Um cavalo marrom me observou entrar por uma brecha da porta entre aberta, a palha seca era barulhenta e em meio a palha alguns sacos com grãos me esconderam bem. Antes tive que negociar com o cavalo um pouco de água, ele recuou comendo o feno perto da porta, tomei da água no recipiente de madeira, fresca e doce. Enxaguei a boca com o sangue cuspindo no chão e me cobri com o feno torcendo para que não tivesse nenhum animal peçonhento ali.
O sol baixou mais, os meus olhos lacrimejaram. O tom avermelhado tomava o céu assim como eu via da minha janela, mas agora via de uma fresta cheia de farpas escondido de um ser que eu jurava ser mitológico. Suspirei devagar e silencioso porquê eu não queria assustar o cavalo e chamar atenção. Eu não tinha um plano de como encontrar Megan e agora que estava sozinho e eu só queria me esconder daquele vampiro. Ela deixou bem claro que o medo atrai qualquer um deles porque o sangue pulsa mais rápido.
Suspirei mais uma vez. Queria que Sam e Ryan estivesse aqui e talvez Max, mas ele não teria coragem de correr de um vampiro. Meus lábios curvaram um sorriso imaginando a cena. Alguns camponeses voltavam do rio atrás da vila, vinham conversando e carregava muitos peixes em cestos ou presos em galhos. Roupas em tons amarronzados, cabelos compridos e barbas compridas ou mal feitas.
Me encolhi no canto quando um deles contornou o celeiro com um pedaço de pau aceso com fogo em tecidos e parou na porta. O riacho já estava escuro, entoa imagino que aquela tocha era pra isso. O cadeado balançou tinindo e eu fechei os olhos quase rezando para que o cavalo não falasse. Ele entrou no celeiro assoviando e retirou o cavalo conversando com o bicho.
— ... vai dar uma volta amigo... vou repor suas frutas de manhã.
A única parte que me interessou foi quando ele disse frutas. Meu estômago roncou. O homem fechou o celeiro trancando o cadeado. Agora eu estava preso. Pela pequena fresta das paredes de madeira vi as tochas se repartirem em várias regiões se adentrando entre as laterais da casa. O sol já estava quase se pondo e a lua subia aos poucos do outro lado do céu., mas o tom rosado com azul ainda permanecia. Ao longe algumas vozes ainda estavam presentes.
Eu bem que poderia esperar eles dormirem e escapar dali, mas eu estava muito cansado. O frio congelava as minhas pernas aos poucos, eu estava com fome e meu estomago não parava de reclamar. Vou esperar as frutas de manhã e assim eu posso pensar no que fazer logo que ele abrir a porta. Me enfiei entre o feno e consegui fechar os olhos. A brisa gelada tocava meu rosto vindo pela fresta da parede. Nunca desejei tanto a minha cama. Aqui não é meu lugar.
Respirei um feno seco quando suguei o nariz, o mesmo me fez espirrar. Tapei a boca com medo de que alguém tivesse ouvido. Ouvi um som crocante vindo da minha esquerda. Ainda com receio levantei com dificuldade e vi por uma brecha dos sacos e do feno o cavalo comendo peras e maçãs. Lambi os lábios. Eu poderia atacar o cavalo de tanta fome que eu estava, ele se afastou quando me viu e foi tomar água. Me aproximei devagar e peguei duas maçãs e uma Pêra e voltei para o meu esconderijo. Comi uma maçã inteira até as sementes, e a Pêra eu guardei no bolso.
Devorei a segunda maçã e dessa vez cuspi as sementes marrons. A porta do celeiro se abriu. Estremeci. A voz do homem estava mais alta do que na noite anterior. Fechei os olhos ainda de boca cheia, o caldo da maçã escorreu pela lateral da minha boca. Segurei um riso. Era uma situação muito hilária. O homem saiu do celeiro e levou o cavalo consigo e novamente trancou o celeiro. Eu estava preso de novo.
Resmunguei mentalmente. Resolvi voltar a dormir.
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Através do Espelho {CONCLUÍDA}
FantasyA cidade de Aurora Valle amanheceu cinzenta aquele dia, era o primeiro dia de Luke após os acidentes. Olhares pesados sobre ele o deixava cada vez mais incomodado, seus amigos lhe contaram sobre a lenda e porque fizeram isso? Logo ele tão curioso! A...