Capítulo 19

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        Quando eu acordei ainda estava escuro, e por um momento eu pensei que haveria sol naquele lugar. A cela cimentada tinha cheiro de ferrugem, empoeirada pelo tempo e mal cuidada por eles. Um som estridente ecoava na minha mente, latente e persistente, percebi que era o fogo que se agitava nas tochas. Olhei a volta, mas a claridade das tochas ardia meus olhos como brasa. 

Fechei os olhos e podia ouvir o sangue correndo nas minhas veias. Era alto o bastante para tinir minha cabeça. Tapei meus ouvidos me ajoelhando. O grito permaneceu entalado na minha garganta, e quanto mais eu me encolhia mais o som aumentava. O que estava acontecendo comigo?!

Então tudo silenciou.

De repente e sem avisar.

Abri os olhos devagar tentando me acostumar com a luz que ainda era irritante. Pisquei algumas vezes e me levantei devagar apoiando na parede, a textura da parede parecia ter som. Recuei devagar. Suspirei fundo algumas vezes.

Senti uma fome por sangue tão intensa que me fazia quase me rasgar inteiro. O estômago roncava alto, se contorcia e se revirava. Ao longe ouvi algumas vozes, riam e falavam entre si. Levantei os olhos esperando que eles se aproximassem. Percebi que meu peito não subia e nem desciam, o ar não enchia meus pulmões. A pulsação latente do meu coração não estava mais presente. Uma voz me chamou.

— Luke... Frank quer te ver...

A melodia na voz aumentava minha fome. Avancei na grade sem pensar, a sombra recuou assustada e eu continue encarando.

— Logo você vai se alimentar... eu não sou uma presa... –a voz parecia calma o que estava me deixando muito irrito.

A sombra esticou o braço em minha direção e eu abaixei a cabeça para evitar a luz em meus olhos. O homem segurou meu braço levemente e me guiou para fora, não disse nada enquanto ele me levava a algum lugar, as tochas queimavam meus olhos e eu desviava dando um sobressalto.

— Você se acostuma com o tempo... – a voz ainda era arrastada.

Grunhi.

Despois de muitos corredores e portas, nós chegamos num salão amplo redondo, provavelmente era a torre do castelo com pedras que estavam expostas. Por mais que eu tentasse observar os detalhes os meus olhos pareciam sensíveis demais para focar em alguma coisa. Os flashes duravam segundos até que eu conseguisse capturar algo. Vampiros sentavam em círculos, encapuzados e cabisbaixos. A luz que vinha do centro do salão era de uma claraboia. 

Abaixo da luz uma mesa de madeira ensanguentada onde pendia correntes e cordas escuras. O cheiro de sangue adentrava meu nariz tão ávido e medonho que doía minha consciência, mas era delicioso. Eu precisava, eu ansiava, eu desejava mais que tudo aquele sangue que escorria da mesa, comecei a me debater e dois vampiros me seguraram com força meus braços para atrás das minhas costas.

— Ele ainda não se alimentou... – o cara do meu lado disse trocando de lugar com outro vampiro que era mais forte.

— ... Bom, preciso dele assim... – Uma voz masculina ecoou alta no meio do salão.

Os vampiros me mantinham preso pelos braços até que me fizeram ajoelhar. O vampiro que jazia no meio do salão caminhou lentamente até mim, eu o via distante entre os flashes de luz que desciam da claraboia. A capa deslizava sobre o piso como se flutuasse, ele parou a minha frente e levantou meu queixo para cima. Unhas grandes alongava seus dedos gélidos. 

Ele tombou a cabeça de lado e me analisou por longos minutos e soltou com desdém o meu queixo, voltou ao centro do salão. Os burburinhos curiosos circularam pelo salão aumentando aos poucos.

Através do Espelho {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora