Capítulo 18

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     Depois do jantar ficamos um tempo conversando coisas aleatórias. Os pais de Peter estavam muito contentes falando sobre a divisão e relembrando como eram a vida deles antes de tudo ser destruído. Fora a tanto tempo que algumas coisas não existiam na época que moravam com os "humanos" assim ele dizia como se não pertencesse mais a raça.

A lua já adentrava parte da sala quando resolvemos ir dormir. Eu não iria dormir obviamente, tinha um plano em mente que eles não estavam incluídos. Demorei um pouco para tomar coragem de levantar da cama, os suspiros de sono já ecoavam a casa quando por fim eu decidi. Flora estava virada para o canto assim como Peter. Levantei devagar da cama e vesti o colete que Megan havia roubado do castelo e minha camisa já era de manga comprida e estava bem quente. Caminhei devagar pelo corredor quase rezando para que ninguém acordasse. Abri a porta da cozinha e a fechei com cuidado.

A lua estava alta e clareava todo o vale, um arrepio rondava minha coluna e o formigamento nos dedos me deixava apreensivo, mas, eu precisava fazer isso. Caminhei sobre o capim seco a passos lentos porque o barulho acordaria alguém ou alguma coisa. A brisa suave tocava minha nuca como um beijo, o silêncio era estranho. A árvore estava longe, teria que caminhar muitos minutos. Segui o caminho feito por passos de pessoas e animais. Subi a colina ofegante, sentindo as pernas falharem.

Me aproximei da árvore e a encarei alguns segundos, a copa escura era medonha e todo o tronco era apenas uma silhueta engolida pela escuridão. Debaixo dela apenas alguns feixes de luz adentravam, o chão coberto de folhas não rangia. Fiz o movimento que Flora fez, mas nada aconteceu. Peguei no bolso um saquinho marrom que ela escreveu com carvão "Atravessar". 

O saquinho marrom estava cheio de um pó que estava escuro, peguei na mão uma pitada e salpiquei em mim fechando os olhos. Um brilho amarelo tomou meu corpo e quando abri os olhos eu estava do lado de dentro da árvore invisível para quem estivesse de fora. As fadas dormiam encolhidas no canto do pote, haviam várias que eu não tinha visto. Uma borbulhar de cores que brilhavam como glitter no sol saltava do armário fechado. Abri o primeiro pote.

— Você voltou... – a voz embargada de sono da fada me deixou brevemente feliz.

Eu iria cumprir minha promessa.

Coloquei a fada nas mãos e depois a apoiei sobre a bancada de Flora. Aos poucos elas acordaram uma a uma, sorrindo e saltitando no pote de vidro. As luzes coloridas tomaram o lugar assim que abri outro armário. Arregalei os olhos de susto.

— Fica de olho nela, eu vim escondido. Se ela souber nós dois morremos. –falei a uma fadinha azul que emanava tons de azul claro e branco.

Ela sorriu e flutuou até a entrada voando próximo a porta invisível. Libertei todas. E vasculhei o lugar em busca de algo que pudesse esconder elas de alguma forma. Mas não achei nada ali. Apenas folhas, armário velho e poeira que levantava com a brisa do vento.

— Como eu vou levar vocês daqui? Estão brilhantes demais... –falei quase pra mim mesmo. Cocei a cabeça algumas vezes.

— ...Vamos voando Luke. – Uma fada verde disse tocando minha mão.

Dei um pulo, eu tinha me esquecido que elas sabiam o meu nome. Ela soltou uma risadinha tímida. Olhei em volta e estava tudo limpo, acenei para elas que flutuaram tilintando como sinos de natal. Eram muito barulhentas, eu temia que alguém ouvisse. Pedi que elas se segurassem em mim com toda a força e usei novamente o saquinho marrom. A luz amarela me envolveu nos atravessando para fora da árvore. Do lado de fora a brisa fria arrepiou meu pescoço. Subindo a colina sairíamos um pouco longe da árvore oca, mas não tinha outro caminho. Se meus amigos me vissem agora estariam rindo, eu parecia um carro alegórico de tantas luzes presas a mim ou até mesmo uma árvore de natal.

Através do Espelho {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora