Uma semana depois
John ainda me evitava.
Seus olhos pareciam distantes e ele nunca me encarava, eu preferi não me aproximar temia que ele me atacasse de novo. Ele estava no celeiro quando parei para recuperar o fôlego apoiando o balde com batatas no chão. A porta entre aberta exibiu a silhueta dele rastelando o silo no chão cimentado. Ele me viu e abriu mais a porta.
— Preciso falar com você. –Ele me encarou pela primeira vez.
Eu hesitei em ficar ali e ele percebeu. Apoiou o rastelo na parede de madeira do celeiro e se aproximou. O suor na testa escorria e ele limpou com a camisa cor palha. Os cabelos grisalhos estavam bagunçados, e ele não parecia se importar.
— Eu preciso levar o balde para Flora e ... –menti e ele ergueu uma sobrancelha me interrompendo, — Ela pode esperar, por favor escute.
Fiquei em silêncio.
Peter passou por nós curioso e John o seguiu com um olhar até ele ir pra casa e entrar.
— Eu sinto muito por ter feito aquilo com você. Eu perdi o controle. – Ele falou devagar, consigo ver em seus olhos cansados, o arrependimento.
— Estava tudo agitado aquela noite... –tentei sorrir e ele ficou sério de novo.
— Não Luke, eu não deveria ter feito isso com você nunca! Você salvou essa aldeia inteira e salvou meus filhos, minha esposa e amigos... E perdeu sua namorada.
A última palavra doeu no meu peito. Balancei a cabeça.
— Tudo bem John, já estou sem dor. –Sorri de leve e ele coçou a cabeça.
— Eu não queria te causar dor, devo pedir desculpas a Peter também por lhe causar dor. –Ele comentou se afastando de cabeça baixa. Ergui uma sobrancelha.
Então ele havia batido em Peter aquele dia. Suspirei.
— John, eu vou embora hoje. Por favor não sinta culpa. Vocês estão livres agora. –falei pausando as palavras porque me doíam.
Não queria deixá-los, mas meus pais precisavam de mim e eu ansiava por esse dia. Tellus tomou posse da liderança dias atrás sendo o novo dono dos reinos e os unindo. Lado da lua e lado do sol agora se fundiram em um eclipse. Tellus destruiu os portais assim que chegou ao castelo e de lá ele fala com os aldeões. Os duendes e gnomos são seus protetores, as fadas preencheram cada espaço de magia e agora ninguém irá atravessar sem permissão. O portal do lado do sol ficou ativo me esperando, e estou aos poucos me despedindo. Eu não quero ir, mas eu preciso.
— Eu não podia deixar você ir sem saber que eu sinto muito filho. –Ele se aproximou e me abraçou. Retribui o abraço sentindo o nó na garganta.
— Vamos comer juntos antes de levarmos você até o portal. –Ele sorriu e eu sorri de volta.
Camélia encheu a mesa com todas as refeições mais incríveis que já vi. Há uma cesta com pães e frutas. Legumes de vários tipos em travessas de madeira. Um tipo de carne frita que exala o melhor cheiro que eu já senti. Girassóis decoram a mesa. Assim que sento a mesa Flora me serve os legumes, pães e a carne. Eles sorriem apesar de tristes. Flora senta do meu lado tocando minha perna.
— Você vai fazer muita falta. –Camélia diz me servindo um suco amarelo. A encaro.
— Porque não deixa pra ir daqui uns dias? Eu não consegui me despedir direito. –Flora comenta sorrindo.
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Através do Espelho {CONCLUÍDA}
FantasyA cidade de Aurora Valle amanheceu cinzenta aquele dia, era o primeiro dia de Luke após os acidentes. Olhares pesados sobre ele o deixava cada vez mais incomodado, seus amigos lhe contaram sobre a lenda e porque fizeram isso? Logo ele tão curioso! A...