Fui acordado pela penumbra do meu quarto e abri os olhos devagar firmando as vistas aos poucos, a luz entrava pela fresta e a sombra da cortina desenhava no chão formas estranhas. Virei para o lado e o sono pesou sobre meu corpo me puxando para ele novamente. Comecei a sentir frio, o frio subia e descia minhas pernas. Algo úmido começou a molhar meu corpo.
O frio estava intenso; entrava por cada brecha da minha roupa arrepiando meus pelos ardendo meu corpo a cada centímetro. Tudo o que via era uma parede impenetrável de breu. Uma escuridão completa, tão espessa que m arrepiava. Estendi as mãos, agarrando o nada. Só depois, notei que não estava em meu quarto. O cheiro de mofo e mato invadia minhas narinas ardendo e me sufocando. Pressionei as mãos contra o chão. Madeira duras, frias e molhadas. O medo se avultou quando juntei as peças.
Não. De novo não! Não me lembrava de ter atravessado o espelho de novo, mas aquele lugar com certeza não era meu quarto. Ouvi passos darem a volta por mim, mas a escuridão não me permitia ver muita coisa, a lua brilhava do lado de fora e a contra luz deixava aquele lugar escuro demais para ver alguém ali, mas percebi quando a sombra passou na pequena fresta. Uma silhueta escura e rápida.
— Quem está aí? – perguntei deixando a voz falhar.
— Olá... Luke – a voz feminina era suave, pousava no ar.
Mas, me arrepiava dos pés à cabeça, a memória daquelas pessoas me deixava com medo. Não consegui deixar o coração calmo, ele saltitava no peito me deixando ofegante demais.
— Não precisa nem dizer que se assustou, seu coração está pulsando alto nos meus ouvidos. Tum, tum, tum...
Fiquei em silêncio. A voz feminina percorria por todos os lados daquele cômodo. Rondava minha cabeça me desconcertando, me arrepiando. Mentalmente eu torcia para que ela não ouvisse meus pensamentos desesperados. Mas eu estava errado. Ela riu alto.
— Eu não vou matar você. E você não precisa me ver. Acho que respondi as principais perguntas. Mas, acho que você quer... ver onde você está?
A pergunta soou alta naquele silêncio. Raspei a garganta. Não concordei visto que ela estava na minha cabeça, senti as bochechas queimarem e senti alivio ao perceber que ela não veria essa cena ridícula. Tentei me mover pela madeira molhada, mas o ranger me assustou e o ser que me sondava chamou minha atenção.
— Onde você pensa que vai? – Ela perguntou.
Engoli seco.
Ela poderia estar apenas em um canto, mas a sua presença próxima a mim se fazia presente pelo ambiente inteiro. Estava em todo lugar e ao mesmo tempo em lugar nenhum naquela escuridão. Aos poucos a luz da lua adentrou o ambiente, subia lentamente pela janela ao meu lado, encarei a janela me questionando como ela estava ali o tempo todo e eu não tinha percebido a brisa fresca do lado de fora. A garota a minha frente estava com o braço esquerdo no alto abaixando com a luz da lua, a palma direcionada para o chão. Parecia manipular a luz.
Usava uma capa preta luminosa sobre o corpo, a abertura na frente se prendia na altura das clavículas. Ia até o chão e por dentro no pouco tecido que aparecia era vermelha. Os cabelos da garota estavam bem escuros e iam até seus cotovelos, as leves ondas não me pareceram assustadoras até meus olhos subirem para o seu rosto ainda escurecido. Ela me olhava séria.
— Você sempre chega tarde aqui. – Ela abaixou o braço por completo o escondendo dentro da capa. Suspirou quando percebeu meus olhos a encarando.
— Aqui está sempre de noite. – comentei, a voz ainda falha.
— Não precisa ter medo de mim, não vou devorar você. – Ela cruzou os braços.
—Não tenho certeza. – Engoli seco, a garganta tão seca que ardia.
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Através do Espelho {CONCLUÍDA}
FantasíaA cidade de Aurora Valle amanheceu cinzenta aquele dia, era o primeiro dia de Luke após os acidentes. Olhares pesados sobre ele o deixava cada vez mais incomodado, seus amigos lhe contaram sobre a lenda e porque fizeram isso? Logo ele tão curioso! A...