Ao fim daquela tarde reunimos todos os aldeões e repassamos o plano, mais de uma vez para os desatentos. Alguns não pareceram interessados no plano, pareciam ouvir sobre uma caçada matinal na beira do lago em busca de peixes. John ficava impaciente a cada pergunta idiota que seguia uma seguida da outra.
— Tudo isso é por causa dele? – uma garota de cabelos loiros me encarou.
— Ele só quer nos levar para longe daqui... –ele tentava explicar sem sucesso e logo um rapaz provavelmente mais velho que eu o interrompi.
— Vamos correr risco só porque essa florzinha atravessou pra cá? Fala sério Jonh isso é ridículo! –uma saliva escapou da sua boca.
— Ninguém está te obrigando a ir! Se quiser continuar a dividir comida com bruxas que come gente você pode ficar! – A voz de Peter cortou o ar vindo do fundo do celeiro logo que ele entrou batendo a porta.
A multidão cochichou entre eles mantendo os olhos curiosos em mim. Fazia frio aquela noite e a lua já subia ao céu sob a aurora do fim de tarde, e a pequena fogueira dentro de um latão não estava sendo o suficiente para me aquecer, as pessoas em voltas estavam tão frias como gelo.
— Não podemos sair sem vocês. Precisamos de todos para conseguir atravessar todos nós pelo portal! –soltei mais alto do que eu gostaria.
— Infelizmente nós não vamos Jonh, é muito arriscado e eu tenho muitas meninas... Não quero perdê-las, minha esposa morreria se algo acontecesse a elas ou a mim. – Um senhor se levantou, seu cabelo liso colou na testa suada. Seus olhos cansados me olharam e com um aceno de cabeça ele saiu levando as quatro filhas e a esposa.
Outro grupo se levantou. O homem me olhou por um tempo antes de dirigir as palavras a Jonh que me olhou quase desesperado, se mais alguém deixasse aquele recinto poderíamos dar adeus ao plano.
— Eu também não vou pelo bem dos meus filhos, Simon precisará de maridos para as filhas. –Ele acenou para mim e saiu com os quatro filhos também.
Os voluntários que ficaram dispostos a lutar por uma vida melhor pareciam curiosos com o plano, mas era nítido o medo que percorria a sala. A porta do celeiro abriu mais algumas vezes até sermos apenas um grupo pequeno. Vinte pessoas e uma vontade de lutar. Suspirei desanimado. Eu queria convencê-los a sair dali, mas eu sentia na pele o medo de largar tudo e se mudar para outro lugar, não era tão diferente como eu.
Se restabelecer seria difícil e muitos poderiam não sobreviver. Eu estava do lado deles, mas eu preferia que eles ao menos tentassem. Megan era apenas uma vampira contra outros tantos vampiros que queria a sua cabeça numa bandeja. Eu estou tentando me conformar com essa ideia estúpida.
Jonh ficou um tempo com os amigos no celeiro. A noite já caía quando sai do celeiro ainda incerto se poderia entrar na casa de Peter, eu não queria que Camélia me expulsasse dali. Flora me puxou pelo braço antes que eu colocasse o pé no degrau, a encarei a meia luz e ela parecia triste.
— Por favor não deixe meu pai e meu irmão morrer... Eu quero atravessar mais não a esse custo. Eles não merecem passar por isso de novo e dessa vez... –ela sugou o nariz, — ... Não dar certo. –Ela levantou os olhos tristes.
— Eu prometo que nada vai acontecer a vocês... –de novo estava eu prometendo algo que nem eu mesmo sabia como sobreviveria também.
Quis abraçar ela, mas ficamos apenas segurando as mãos. Megan nos encontrou na entrada, os olhos vermelhos me indicavam que ela estava caçando. Flora me levou para dentro junto de Megan. Camélia estava na cozinha tomando um chá numa xicara velha esmaltada. Aquecia as mãos na superfície quente da xicara, os olhos distantes observavam pela janela a escuridão tomando forma no céu. A lua pairava no céu, mas a névoa tampava a luminosidade toda vez que circulava o vale.
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Através do Espelho {CONCLUÍDA}
FantasyA cidade de Aurora Valle amanheceu cinzenta aquele dia, era o primeiro dia de Luke após os acidentes. Olhares pesados sobre ele o deixava cada vez mais incomodado, seus amigos lhe contaram sobre a lenda e porque fizeram isso? Logo ele tão curioso! A...