Capítulo 2

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    A névoa fria cobria toda a extensão da estrada. Pensei que não havia clima mais adequado. Eu mal enxergava o asfalto, empurrava com lentidão a bicicleta. O chão sob meus pés era escorregadio, coberto de poças reluzentes de chuva e pilhas de folhas em decomposição.

Observei a cruz alguns minutos. Estava perdido em meus pensamentos quando Sam se aproximou. Parecia ter pedalado uma montanha inteira, estava ofegante e as palavras quase inaudíveis.

— Acho que se você ficar olhando pra ela... Vai doer mais...

— O que você disse? –o encarei.

— Eu li num livro uma vez. Minha mãe ia ao cemitério ver o túmulo de minha avó toda semana, a dor só foi embora quando ela parou de ir.

Continuei o encarando.

— Só estou dizendo o que eu li. –Ele ergueu as mãos.

— Vamos nos atrasar. –Montei a bicicleta. Sam logo me alcançou.

Era bizarramente estranho que o colégio compartilhasse um espaço com a floresta. Eles realmente não temiam pela vida desses adolescentes. Tanta coisa aconteceu nesse lugar. Ou uma criança sumia ou era achada na floresta completamente assustada, às vezes passava anos sem dizer uma só palavra.

E claro havia aquelas que nunca mais falavam.

Eu aqueci as mãos umas nas outras logo que desci da bicicleta. O guidão parecia de gelo. Suguei o nariz algumas vezes. Sam prendia sua bike numa corrente, fiquei olhando.

— Acho que ninguém roubaria uma bike velha, descascada e sem freio. –comentei.

— Pode zombar, mas é a única que eu tenho. Então... - ele levantou me encarando, — É melhor do que andar a pé. –Sorri.

— Ah, vocês estão aí. –Max colocou a bike do lado da minha, encarou a minha por alguns segundos. Eu o encarei sem entender.

— Vamos trocar? –seus olhos castanhos pareciam suplicar.

— O que? De jeito nenhum!

— Droga! –Max resmungou.

— Pelo menos você tentou. – Ryan riu me encarando. Balancei a cabeça.

O grupo estava reunido e apesar da conversa descontraída eu percebia que eles estavam ariscos. Evitavam contato visual comigo.

— Não vi a Amber ainda, será que veio a aula? – Ryan ajeitou a mochila preta nos ombros e topou em mim por um segundo me desequilibrando. Ele me puxou de volta.

— E você como está? –seus olhos desviaram dos meus. Assunto difícil geralmente deixa qualquer um desconcertado. Suspirei antes de responder.

— Pra falar a verdade eu não sei. –Sorri. Ele ergueu a sobrancelha direita.

Subimos as escadas de forma sincronizada.

A grama verde da entrada se estendia até a esquina e ao fundo do colégio as árvores altas estavam bem verdes e balançavam com a brisa, alguns pingos de chuvas desciam do céu como agulhas. O frio cortante apressava a todos para entrarem. Pareciam formigas num formigueiro. Houve alguns empurrões na minha frente, a situação era engraçada, mas minha expressão não me permitiu rir daquilo.

Permanecemos em silêncio pelo longo corredor gelado. As paredes azuis deveriam me acalmar, mas não acalmava e as luzes acesas àquela hora me davam agonia. O céu se escurecia ainda mais, o frio aumentava. Talvez chovesse. Ficamos lado a lado abrindo os armários e uma foto de Flin caiu da porta pousando no piso acinzentado. Dava pra sentir os olhos deles em mim quando me abaixei para pegar a foto. Os olhei e eles desviaram os olhos.

Através do Espelho {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora