Capítulo 32

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        Já havia alguns dias que eu estava preso naquela cama e ligado a equipamentos barulhentos. Suspirava exasperado e entediado. A tv noticiava sobre mimo tempo todo como se eu fosse uma celebridade, teorias surgiam a cada novo jornal em diversos canais. Teorizavam sobre afogamento, sobre minha mãe, sobre Thomas e isso era irritante. Thomas surgia na tv ao meu lado, as imagens do acidente, meu quarto sendo revirado e meus amigos sendo interrogados como marginais. Eu precisava ir pra casa. As enfermeiras me furavam o braço todos os dias e me perguntavam diariamente sobre meu estado.

Uma psicóloga me incomodou a semana inteira questionando os motivos pelos quais eu fugi de casa, motivos que eu não tinha. Quase disse a ela sobre a aldeia, mas eu teria que explicar para meus pais e então eu desisti. Numa última tentativa ela me sugeriu que eu talvez tenha tido um surto psicótico devido ao trauma do luto de Thomas ou de Flin. O que era absurdo para mim. Mas eu não podia contar a ela, suspirei algumas vezes fingindo estar dormindo e só assim ela saía do quarto.

O médico de cabelos escuros e olhos bem redondos circulou em volta da minha cama anotando informações numa prancheta, assim como fez nos últimos dias.

— Vou examinar novamente seus olhos. –Ele avisou ligando uma lanterna minúscula em meus olhos e encarando minhas pupilas.

— Onde estão meus pais? –perguntei ainda rouco.

Ele sorriu.

— Era uma surpresa.... – Ele pareceu desanimado, — Eles virão hoje te ver.

Suspirei.

— Como você se sente? Passou a franqueza? O enjoo? Dói aqui? –ele apertou minha perna levemente roxa onde John havia chutado. Fiz careta.

— Eu estou bem. –O encarei.

— Amanhã eu te dou alta, hoje será um dia muito emotivo e preciso te observar mais. –Ele sorriu. Tombei a cabeça de lado.

— Pode desligar o som dessa coisa? –ergui o dedo apertado pelo aparelho branco.

— Ah claro, mas não tira. As enfermeiras estão monitorando seus batimentos e o seu oxigênio. – Ele apertou alguns botões na máquina ao meu lado.

— Desculpe eu não sou mal educado assim, mas ficar aqui está me irritando. –Suspirei ao dizer. Ele me encarou.

— É normal ficar irritadiço depois de se perder numa floresta. Todos nós entendemos.

Franzi o cenho. Então eles achavam que eu havia me perdido?

— Quanto tempo eu fiquei fora? –me ajeitei pra sentar e ele ajeitou o travesseiro nas minhas costas jogando o cordão da camisola branca para trás.

— Seis meses, eu acho. –Ele ergueu as sobrancelhas balançando a cabeça lentamente de forma positiva.

Era muita coisa pra assimilar e minha cabeça doía quando eu tentava recuperar mais memória da aldeia, mas guardava Megan em um lugar seguro. Toquei os lábios me lembrando de Flora. Peter tinha sido um bom amigo, queria que ele pudesse vir comigo.

— Descansa. Eles vêm mais tarde. – Ele piscou o olho direito e saiu do quarto.

Deitei de novo pra dormir. Ele havia me dado outro remédio no soro.

Acordei com uma movimentação no quarto, alguns cochichos. Uma enfermeira enchia o soro com mais algum remédio quando olhei pra ela ainda sonolento, vi que ela sorriu e lentamente levantou a cama por um controle. A cama se elevou lentamente revelando os burburinhos que eu ouvia.

Através do Espelho {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora