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A chave gira na fechadura e a porta do apartamento se abre com um leve rangido. Orm entra, seus ombros tensos e seu olhar distante, como se o caminho até ali tivesse sido percorrido no automático. Do sofá, Ling se levanta apressada, o corpo cheio de expectativa ao ver Orm de volta. O alívio surge em seus olhos, algo que ela tenta disfarçar com um sorriso leve.

— Você voltou... — as palavras escapam de sua boca em um sussurro quase imperceptível.

Porém, antes que pudesse completar o pensamento, Orm para. Seus olhos a percorrem de cima a baixo, sem emoção. Uma análise fria, impessoal, como se estivesse vendo uma estranha. Ling, parada no meio da sala, sente o alívio se dissipar ao encarar aquele olhar distante.

Orm não diz nada. Apenas suspira de leve, como se carregasse o peso do mundo em seus ombros. Ela estava confusa demais. Suas memórias, os sentimentos misturados, as dúvidas sobre Ling... Era como tentar resolver um quebra-cabeça do qual faltavam peças importantes. Cada passo que dava parecia envolto em sombras.

Ling, percebendo o silêncio prolongado, dá um pequeno passo à frente, sua voz hesitante:

— Orm?

Ela tenta chamá-la, mas Orm não responde. Seus olhos, ainda enevoados pela confusão, focam no corredor que leva ao quarto. Ela desvia de Ling como se não estivesse ali, como se o espaço entre as duas fosse preenchido apenas por uma barreira invisível.

Cada passo de Orm é pesado, sua respiração curta e descompassada, como se o simples ato de estar no mesmo ambiente que Ling fosse uma carga insuportável naquele momento. A dor em seu peito era algo que nem ela mesma conseguia compreender. Ela queria falar, queria gritar, mas as palavras se perdiam antes de chegar aos lábios.

Ling, sentindo o distanciamento, tenta de novo, um pouco mais alto desta vez:

— Orm... fala comigo.

Orm parou à porta do quarto por um breve segundo. Era como se tivesse ouvido, como se estivesse a ponto de responder, mas o peso das memórias voltando à tona era forte demais. A imagem de Ling jovem, aquele sorriso caloroso, o toque suave... tudo contrastava com a frieza que ela agora sentia. A confusão estava sufocando sua capacidade de entender o que era real.

Ela abriu a porta e desapareceu para dentro do quarto, fechando-a suavemente atrás de si. O silêncio que ficou na sala era quase ensurdecedor.

Ling ficou ali, com a mão ainda erguida, como se pudesse segurar algo que já havia escapado. Ela não sabia o que fazer. As dúvidas, o medo de perder Orm de vez, a culpa... tudo se misturava em sua cabeça. Por um breve momento, ela apenas ficou parada, encarando a porta fechada, desejando poder atravessá-la, mas temendo que, se o fizesse, afastaria Orm ainda mais.

No silêncio, as únicas palavras que ecoavam em sua mente eram: Você voltou... mas será que ainda está aqui?


O corpo de Orm permanece imóvel no meio do cômodo, como se a simples ideia de dar mais um passo fosse impossível. Seus olhos se perdem no vazio, fixos em algum ponto indefinido da parede, mas sua mente está longe, em algum lugar onde o tempo parecia confuso e distorcido.

Sua respiração, antes controlada, agora falha. Cada inalação é irregular, como se o ar não fosse suficiente para acalmar o tumulto dentro de si. O coração bate acelerado, pulsando em suas têmporas, e suas mãos começam a tremer. Orm tenta manter o controle, mas então os flashes começam.

Ling sorria, aquela expressão calorosa que costumava derreter qualquer parede que Orm erguesse.

O abraço apertado, o conforto.

—Eu vou amar você para sempre.

Os olhos castanhos de Ling, aqueles que um dia brilharam com amor, agora pareciam carregar lembranças que pesavam demais para Orm.
A traição, suas asas perdidas... A dor era quase física. Seu corpo começa a ceder, as pernas enfraquecendo.

a Dança do Eclipse- LingOrmOnde histórias criam vida. Descubra agora