Vocês estão autorizados a ter raiva de Ling apartir de agora.
Mas estarei nas trincheiras por ela.💕As luzes da cidade abaixo delas brilhavam como estrelas invertidas. O vento da noite soprava frio, mas a brisa carregava uma sensação de paz efêmera. Orm e Ling estavam sentadas à beira de um prédio, os pés balançando no ar, olhando para o movimento da cidade que nunca dormia.
Orm estava quieta, como sempre, observando tudo com aquele olhar analítico, tentando entender o que se passava. Já Ling, com um copo de whisky nas mãos, parecia muito mais relaxada, inclinada para trás enquanto balançava o copo levemente, fazendo o líquido dourado girar dentro do vidro.
—Você já parou pra pensar que talvez a gente esteja tão perdida quanto essas almas que estamos caçando? — Ling comentou de forma casual, levando o copo aos lábios e tomando um gole, sem tirar os olhos das luzes da cidade.
Orm virou o rosto para encará-la, uma sobrancelha levantada. —O que você quer dizer com isso?”
Ling deu uma risada curta, quase sarcástica. —Olha pra gente. Você, toda certinha, a ‘melhor das melhores’, a anja impecável. Eu, uma demônia exilada, que já nem sei qual é o meu lado. E estamos aqui, na Terra, tentando resolver um problema que nem é nosso. Talvez a gente esteja tão perdida quanto essas almas... só que fingimos ter algum propósito.
Orm não respondeu de imediato. Ela sabia que havia verdade nas palavras de Ling, mas preferia não encarar essa possibilidade. —Eu tenho um propósito. Eu faço o que precisa ser feito.
Ling riu de novo, dessa vez mais alto, balançando a cabeça enquanto girava o copo de whisky. —Claro, claro. Fazer o que precisa ser feito. Mas no fundo... você não sente que tá meio vazia? Tipo, a gente segue ordens, mas será que ainda sabemos o porquê?
Orm apertou os lábios, sem saber como responder. Havia uma parte dela que sentia o mesmo. O peso das missões, a constante luta entre o bem e o mal... no fim das contas, às vezes tudo parecia sem fim, sem respostas. Mas ela se recusava a se perder nos próprios pensamentos como Ling. —Eu faço o que é certo. Isso já basta.
Ling tomou mais um gole do whisky, deixando o líquido queimar levemente sua garganta antes de continuar. —Certo pra quem, Orm? Pra você? Pro ‘Todo-Poderoso’? Eu já estive do outro lado e, honestamente, às vezes me pergunto se não estamos todos no mesmo barco furado, tentando achar sentido onde não tem.
Orm suspirou, olhando para o céu estrelado. —Eu não estou perdida, Ling. Só... às vezes, as coisas ficam mais pesadas do que eu gostaria.
Ling se inclinou para frente, girando o copo entre os dedos, mas com uma expressão quase afetuosa. —Pesado? É claro. Você tenta carregar o mundo nas costas. Mas eu tô aqui pra te lembrar que às vezes você tem que parar de ser tão séria e só... se deixar ser, sabe? Talvez a gente nunca encontre a resposta. E tá tudo bem.
Orm desviou o olhar para o horizonte de novo, as luzes da cidade piscando ao longe como se soubessem de segredos que elas não sabiam. — Você não acha que tem algum propósito nisso tudo? As almas, o que fazemos?
Ling deu de ombros, tomando o último gole do whisky antes de pôr o copo vazio ao lado. —Talvez tenha. Talvez não. Mas isso não impede o fato de que a gente ainda tá tentando entender quem diabos somos no meio disso tudo. E, pra ser honesta, acho que somos bem mais parecidas com essas almas perdidas do que gostaríamos de admitir.
O silêncio se instalou entre elas, mas dessa vez, não era desconfortável. Era um silêncio de aceitação, uma pausa em meio ao caos, onde ambas podiam apenas... existir. Perdidas ou não.
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a Dança do Eclipse- LingOrm
FanficEm um universo onde religião e ordem ditam a verdade, até que ponto um amor pode ser considerado impossível, quando nem o céu nem o inferno conseguem conter o desejo ardente entre duas almas? Após um inesperado reencontro, paixões antigas ressurgem...