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As duas caminhavam pelo parque, lado a lado, em um silêncio que era tão confortável quanto inquietante. A brisa leve balançava as árvores ao redor, enquanto o som suave das folhas acompanhava seus passos. Por fora, nada além de tranquilidade. Por dentro, porém, a mente de ambas estava repleta de pensamentos, lembranças e sentimentos mal resolvidos, cada uma travando suas próprias batalhas silenciosas. Mas nenhuma das duas ousava falar. De alguma forma, aquele silêncio era bom. Seguro.

De repente, o som de um carrinho de sorvete quebrava o momento. Ling, sem dizer nada, se afastou rapidamente, indo atrás do sorveteiro. Orm parou no lugar, observando-a confusa. Não entendeu o que Ling estava fazendo e apenas ficou ali, com as sobrancelhas franzidas, esperando.

Quando Ling voltou, tinha um sorvete nas mãos, com um sorriso quase travesso no rosto.

— Pistache — disse Ling, estendendo o sorvete em direção a Orm.

Orm hesitou. Ela olhou para o sorvete por alguns segundos, sentindo uma leve pontada no peito. Sabia que aceitar aquilo não ajudaria a manter os sentimentos no fundo, onde eles deviam ficar. Todo aquele cuidado, aquelas pequenas coisas que Ling fazia, sempre desestabilizavam suas defesas. Mesmo algo tão simples quanto um sorvete de pistache.

— O que foi? — Ling provocou, inclinando a cabeça de leve. — Não gosta mais deste sabor?

Orm olhou para o sorvete, depois para Ling. Soltou um suspiro e, mesmo contra sua vontade, um pequeno sorriso escapou de seus lábios, segurou o sorvete e, por um instante, ficou apenas olhando para ele, a expressão pensativa.

— Eu gosto... — murmurou, antes de dar um pequeno suspiro. — Mas faz muitos anos que não como. Pistache me lembra você…

A confissão saiu sem que ela planejasse, e logo afastou os pensamentos, erguendo o olhar para Ling, tentando disfarçar a vulnerabilidade que sentia.

— Não tinha de doce de leite, não? — perguntou, como se quisesse mudar o rumo da conversa, mantendo uma distância segura dos sentimentos que vinham à tona.

Ling deu um sorriso, aquele tipo de sorriso que trazia algo mais, uma mistura de nostalgia e provocação.

— Ah, então você ainda lembra?

O tom brincalhão, porém cheio de significado, fez Orm engolir em seco. Era claro que lembrava. Como poderia esquecer?A loira revirou os olhos e voltou a caminhar, tentando ignorar o turbilhão de emoções que Ling sempre parecia provocar. Enquanto caminhava, a sensação de nostalgia se instalou profundamente nela.

A brisa suave e o som distante de risadas e conversas no parque traziam memórias vívidas de um tempo mais simples. A nostalgia a envolveu, transportando-a de volta para aqueles dias, onde os encontros no parque e os fins de tarde despreocupados com Ling eram a rotina.


Os raios dourados do sol começavam a se pôr, lançando uma luz quente e reconfortante sobre o parque. Orm, mais jovem e cheia de vida, ria ao lado de Ling enquanto as duas caminhavam despreocupadamente. Era um daqueles fins de tarde perfeitos que pareciam se estender para sempre, onde o mundo inteiro parecia estar em paz.

— Pistache de novo? — provocava Ling, oferecendo o sorvete para Orm.

— Você sabe que é o meu favorito — respondeu Orm, aceitando o sorvete com um sorriso brilhante.

Sentaram-se em um banco próximo, saboreando os sorvetes enquanto conversavam sobre qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo. As risadas eram fáceis, os olhares carregados de cumplicidade. Cada momento compartilhado parecia eterno, cheio de uma alegria pura e simples.

— Um dia, vamos ter que provar todos os sabores desse carrinho de sorvete — disse Ling, com um brilho nos olhos.

— Acho que não posso fazer isso. Provar todos os sabores de uma vez pode acabar resultando em uma grande dor de barriga.

a Dança do Eclipse- LingOrmOnde histórias criam vida. Descubra agora