28°M.

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MARATONA.
4/4.

Lorrane Moraes.

Quase duas horas já tinham se passado desde que o tiroteio começou e até agora nenhum sinal da Lívia e nem do Ícaro. Estou desesperada!

Já liguei um milhão de vezes pro celular dos deles e também mandei um monte de mensagens e todas sem resposta alguma. Onde eles se meteram cara??? Não estou mais aguentando essa angústia!

O pior é que eu estou com uma sensação ruim dentro do meu peito, e normalmente quando sinto essas coisas, é porque aconteceu algo ruim ou ainda vai acontecer. Sou muito sensitiva e isso me assusta às vezes.

Entrei no perfil de fofocas aqui do morro e ainda não tinha nenhuma notícia ou informação sobre a invasão. Assim como eu, pelo visto todo mundo estava no escuro em relação ao que estava acontecendo na favela.

Fiquei andando de um lado pro outro na sala de casa aflita, até que me deu cinco segundos de coragem e loucura ao mesmo tempo e eu resolvi sair e ir atrás da minha irmã e do Ícaro!!!

Vesti uma calça legging por ser mais confortável caso eu precisasse correr, coloquei uma blusa de frio com touca e  calcei um tênis. Peguei o meu celular e saí de casa com cu trancadissímo!!! Não passava nem sinal de wi-fi de tanto medo.

Toda hora eu me assustava com o barulho dos tiros próximo a mim. O meu coração estava super acelerado e a minha respiração estava totalmente descompensada.

Vários caras aqui do morro passaram por mim de moto e também correndo, uns me xingaram e tudo. Eu estava morrendo de medo mas precisava ir atrás da minha irmã!

Cheguei em um beco e simplesmente travei! Me deu uma crise de pânico do nada e eu comecei a chorar que nem uma maluca sentada no chão, atrás de uma lixeira que fedia horrores.

Escutei uns passos se aproximando da minha direção, e naquele momento eu só pensei que ali seria os meus últimos minutos de vida.

[...]

O tiroteio ainda continuava intenso, eram tiros que não acabavam nunca e vinha de lugares que você menos imaginava.

O morro estava parecendo um cenário de guerra, tinha vários corpos no chão, pessoas machucadas... Triste de ver! Eu estava apavorada com essa situação.

Eu moro aqui desde que nasci mas nunca presenciei uma invasão dessa forma, sabe?? Sempre fiquei dentro da minha casa trancada e guardada quando essas coisas aconteciam, e agora ver tudo isso tão de perto é extremamente chocante!

Pelo o que eu consegui ouvir da conversa do Grego com os seguranças dele, quem estava invadindo o morro era a milícia e eles estavam atrás do Terror. Queriam a cabeça dele a qualquer custo. Confesso que isso me preocupou, independente da vida que ele leva, eu gosto do Terror e não quero o mal dele de jeito nenhum.

Grego: Tu tá suave po?— me encarou..

Lorrane: Tô sim.— sorrir sem ânimo.

Grego: Tem certeza? Tú tá pálida parece po.

Lorrane: Eu tô bem. Relaxa!

Na verdade eu não estava nada suave, estava apavorada, angustiada e também muito preocupada. Só que eu percebi que o Grego aparentemente também não estava legal, os seus olhos demonstravam preocupação e por isso preferi não falar nada do que estou sentindo. Eu não queria me tornar mais uma preocupação pra ele nesse momento, apesar que já estou sendo né? Olha a situação que estamos.

Ele não tem obrigação nenhuma comigo, ele podia muito bem me largar onde me encontrou ou em qualquer outro lugar e foda-se, mas ele fez só contrário e está me protegendo desde do momento que me achou naquele beco.

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