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Richard Rios

Acordei com a luz fraca da manhã invadindo o quarto. O som da chuva da noite anterior tinha cessado, mas a atmosfera ainda estava úmida, com o cheiro fresco de terra molhada. Eu me espreguicei lentamente, tentando processar os acontecimentos do dia anterior. O rosto de Alice me veio à mente, e uma mistura de sentimentos me invadiu. A conversa com Pamella, os olhares de Alice... tudo estava confuso.

Virei a cabeça e a vi ainda deitada, dormindo profundamente. A respiração dela era suave, e seu rosto parecia tão calmo, quase angelical, alheio à confusão que eu sentia. Por um segundo, fiquei ali, observando-a. Como tudo se complicou assim tão rápido? Alice, Pamella... Eu precisava dar um jeito nisso.

Saí da cama com cuidado, tentando não fazer barulho para não acordá-la. Eu sabia que precisaríamos conversar, mas não queria pressioná-la logo cedo. Talvez, com o tempo, as coisas fossem se ajeitar. Coloquei a camisa e saí do quarto, decidido a pensar em tudo com mais clareza.

No corredor, encontrei Endrick encostado na parede, olhando pela janela com uma xícara de café na mão.

— Acordado cedo, hein? — brinquei, tentando aliviar o peso da manhã.

Ele me olhou de lado, esboçando um sorriso de canto.

— Nem dormi direito. Casa cheia, muitas coisas rolando — ele disse, balançando a cabeça como se tentasse afastar os próprios pensamentos. — E você? Dormiu bem com a Alice?

— Dormir, eu até dormi, mas... — hesitei por um momento. Endrick era meu amigo, mas às vezes eu não sabia se ele entenderia completamente o que eu estava passando. — Cara, acho que me meti em uma situação mais complicada do que eu esperava.

Endrick riu baixinho, tomando um gole de café.

— Você acha? Todo mundo tá vendo que a Pamella tá de olho em você, e a Alice... bem, a Alice não tá lidando bem com isso.

Balancei a cabeça, concordando.

— Eu não quero machucar nenhuma das duas, mas é difícil. Alice é minha amiga, e a última coisa que eu queria era que ela se sentisse mal por causa disso. E Pamella... ela é complicada, mas tá deixando claro o que quer.

Endrick suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Mano, você vai ter que resolver isso logo. A Alice não vai falar nada, mas dá pra ver que tá mexendo com ela. E se você não falar, vai acabar perdendo a amizade dela. É isso que você quer?

A pergunta dele me atingiu como um soco. Não, eu definitivamente não queria perder Alice. Ela era importante para mim, mais do que eu tinha coragem de admitir. Mas como eu poderia esclarecer tudo sem causar ainda mais problemas?

— Não, eu não quero perder ela — respondi, mais para mim do que para ele. — Vou falar com a Alice. Hoje. Acho que chegou a hora.

Endrick assentiu, olhando para mim com uma expressão de apoio.

— Boa. Eu sei que você vai dar um jeito. Só... seja sincero, cara. A Alice merece isso.

Eu sabia que ele tinha razão. Eu precisava ser honesto com Alice, falar tudo o que estava preso dentro de mim antes que as coisas ficassem ainda mais confusas. Saí da cozinha decidido a resolver isso, mas, ao dar meia-volta, encontrei Pamella no corredor, encostada na parede, olhando para mim com um sorriso no rosto.

— Acordou cedo, Richard? — ela perguntou, o tom insinuante de sempre presente na voz.

Eu suspirei internamente. Ainda teria que lidar com Pamella. Mas primeiro, Alice.

— Pamella, preciso conversar com você mais tarde — disse, tentando não soar ríspido.

Ela arqueou uma sobrancelha, curiosa.

— Claro, quando quiser — respondeu, dando de ombros.

Passei por ela sem dizer mais nada, indo direto para o quarto. Quando entrei, Alice já estava acordada, sentada na cama com uma expressão de quem não tinha dormido tão bem quanto parecia.

Ela olhou para mim, e eu soube naquele momento que a conversa que eu temia estava prestes a acontecer.

— A gente precisa conversar — dissemos ao mesmo tempo.

Continua...

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora