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Alice Veiga

Depois do jantar, a noite parecia que seria tranquila, com todos reunidos na sala. Gabriely e Endrick estavam no sofá, rindo de alguma coisa no celular, enquanto Veiga e Pamella conversavam em voz baixa no outro canto. Richard e eu estávamos sentados próximos, mas sem dizer muito desde aquela conversa rápida que ele teve com Pamella. Algo nele parecia diferente, mais pensativo, e isso me deixava um pouco desconfortável.

A calmaria foi interrompida pelo som distante de trovões, seguidos por uma leve mudança no vento que entrou pela janela. Eu sabia o que aquilo significava. Uma tempestade estava a caminho. Tentei ignorar o aperto que começou a crescer no meu peito, mas, conforme os trovões ficavam mais altos e as luzes começaram a piscar, o medo se instalou.

— Acho que vem chuva forte por aí — Gabriely comentou, sem dar muita importância.

Eu tentei disfarçar, focando minha atenção em qualquer outra coisa. Mas, então, veio um estrondo que fez a casa tremer levemente, e eu senti meu corpo enrijecer. Desde pequena, sempre tive pavor de tempestades, e por mais que tentasse controlar, o medo sempre tomava conta de mim.

— Tá tudo bem, Alice? — Richard perguntou, percebendo minha tensão.

— Eu... eu tô bem — menti, tentando forçar um sorriso.

Mas ele me conhecia o suficiente para saber que não era verdade. Antes que eu pudesse me mover, veio mais um trovão, ainda mais alto, e foi o suficiente para me fazer pular no sofá, me encolhendo instintivamente. Senti meus olhos começarem a marejar, e tudo o que eu queria era que aquilo passasse logo.

— Acho que alguém não gosta de tempestades... — Endrick comentou, rindo de leve, mas Gabriely deu um leve tapa no braço dele, sinalizando para ele parar.

Antes que Richard pudesse fazer algo, Pamella, que estava observando tudo de longe, decidiu agir. Ela se aproximou de nós, colocando uma mão dramática sobre o peito e fingindo estar assustada.

— Ai, eu também tô com medo! — ela disse, forçando uma expressão de pânico exagerado. — Essas tempestades me deixam apavorada!

Eu sabia que ela estava fingindo. Pamella sempre adorava ser o centro das atenções, e agora, ela estava claramente tentando tirar proveito da situação para se aproximar de Richard. Eu só queria que ela não fizesse isso nesse momento, quando eu realmente estava tentando manter o controle do meu medo.

Richard olhou para Pamella de forma estranha, quase sem acreditar na atuação dela, mas ele manteve a calma. Sem dizer nada para ela, ele se voltou para mim, se aproximando um pouco mais no sofá.

— Tá tudo bem — ele disse, sua voz baixa e reconfortante. — Eu tô aqui, Alice. Vai passar logo.

Eu não consegui responder. Só balancei a cabeça, tentando me concentrar nas palavras dele e não no barulho ensurdecedor da tempestade que rugia do lado de fora. Senti o corpo de Richard mais próximo ao meu, e, sem perceber, acabei me inclinando levemente para ele, buscando conforto.

Pamella, no entanto, não ficou nada satisfeita com isso. Ela se aproximou ainda mais, quase colando em Richard, e eu sabia que ela estava tentando criar uma cena.

— Ai, Richard, você pode ficar aqui comigo também? — Pamella disse, com uma voz manhosa, se inclinando em sua direção.

Eu sabia que Richard era educado demais para afastá-la de uma vez, mas ele manteve a atenção em mim, o que, de certa forma, me trouxe um pouco de alívio. Ele colocou uma mão gentil sobre a minha, ignorando completamente o exagero de Pamella.

— Você tá segura, Alice — ele repetiu, olhando nos meus olhos.

Aquelas palavras, ditas com tanta sinceridade, fizeram meu medo diminuir um pouco. Não era só a tempestade que me assustava, era o que estava acontecendo dentro de mim também. O jeito como Richard estava sendo atencioso comigo, a forma como ele parecia preocupado... Tudo isso mexia comigo mais do que eu queria admitir.

Pamella, percebendo que sua estratégia não estava funcionando, cruzou os braços e fez uma expressão de desdém, visivelmente frustrada. Veiga, que estava assistindo tudo, deu uma leve risada, claramente entendendo o jogo que ela estava tentando jogar.

A tempestade lá fora continuou, mas, aos poucos, os trovões começaram a se distanciar. Senti meu corpo relaxar um pouco, ainda perto de Richard, mas com o medo já diminuindo.

— Tá vendo? Já tá passando — ele disse, sorrindo de leve.

Pamella se levantou abruptamente e foi para a cozinha, claramente irritada com a falta de atenção que esperava receber. Todos na sala, menos Gabriely e Endrick, que continuavam rindo de algo no celular, notaram sua saída abrupta. Mas ninguém comentou.

Enquanto a tempestade diminuía, percebi que, por mais desconfortável que aquela situação tivesse sido, Richard esteve ao meu lado o tempo todo, me apoiando. E isso, mais do que qualquer coisa, fez com que eu me sentisse segura.

Continua...

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora