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Alice Veiga

Depois de assistir parte do filme na sala com todo mundo, eu já estava exausta. A tensão do dia, a tempestade, e, claro, aquele momento na varanda com Richard haviam me desgastado. Decidi que era hora de subir e descansar. O filme parecia estar entretendo o pessoal, e ninguém notou quando me levantei silenciosamente.

Caminhei pelos corredores da casa, com a luz fraca iluminando o caminho até meu quarto. Abri a porta, me sentindo aliviada por finalmente ter um momento para mim mesma, longe de toda a confusão. Mas mal tive tempo de respirar, porque, logo atrás de mim, Pamella apareceu, fechando a porta com um baque que me fez pular.

— A gente precisa conversar — ela disse, a voz firme e carregada de algo que eu não esperava: raiva.

Eu sabia que Pamella não estava gostando de como Richard e eu estávamos mais próximos nos últimos dias, mas não imaginava que ela fosse ser tão direta assim. Tentei manter a calma, respirando fundo antes de responder.

— Pamella, agora? Não acho que seja o melhor momento. Eu só quero descansar.

— É claro que você quer descansar, né? — ela falou, cruzando os braços e se aproximando, com os olhos fixos nos meus. — Depois de passar o dia inteiro tentando chamar a atenção do Richard.

Suas palavras me atingiram como um soco. Eu não estava "tentando" nada. As coisas simplesmente aconteceram, e, até agora, eu mal sabia como lidar com isso. Mas Pamella parecia ver as coisas de um jeito muito diferente.

— Eu não tô tentando nada, Pamella — respondi, sentindo o calor da raiva subir pelo meu corpo. — Eu e Richard somos amigos, você sabe disso.

— Amigos? — Ela riu, mas o som era seco, sem humor. — Ah, por favor, Alice. Dá pra ver nos seus olhos. Você gosta dele, e não é de agora.

Fiquei sem palavras por um segundo. Será que estava tão óbvio assim? Eu não queria que as coisas fossem desse jeito, mas não conseguia controlar o que estava sentindo. Ainda assim, Pamella não tinha o direito de vir aqui e me acusar assim.

— Mesmo que isso fosse verdade, não é da sua conta, Pamella — falei, tentando manter o controle. — Você não tá com ele, e eu nunca desrespeitei ninguém.

Ela se aproximou ainda mais, os olhos faiscando de raiva.

— Não tô com ele? — Pamella repetiu, rindo de novo. — Talvez não oficialmente, mas eu sei muito bem que a gente tinha algo antes dessa viagem. E você simplesmente chegou e começou a se meter onde não devia!

Isso me pegou de surpresa. Não sabia que ela e Richard tinham qualquer tipo de envolvimento. Ele nunca mencionou nada sobre isso, e Pamella não havia mostrado interesse real até a viagem.

— Se você tinha algo com ele, por que nunca disse nada? — perguntei, a voz um pouco mais firme agora. — Eu não sou adivinha, Pamella. Se ele não te falou nada, talvez seja porque ele não sente o mesmo.

Ela ficou em silêncio por um momento, e pela primeira vez, vi algo além de raiva em seu rosto. Vi insegurança. Pamella não era o tipo de pessoa que mostrava fraqueza, mas, naquele instante, parecia que toda a sua atitude estava desmoronando.

— Eu só... eu só queria uma chance — ela murmurou, desviando o olhar por um momento. — E você apareceu e estragou tudo.

Pamella parecia mais vulnerável agora, mas isso não apagava o que ela estava fazendo. Eu entendia o que era gostar de alguém e ver essa pessoa se aproximar de outra, mas não podia deixar que ela me culpasse por algo que não estava sob meu controle.

— Eu não estraguei nada — falei suavemente, tentando ser honesta. — Eu também não sei o que tá acontecendo entre mim e o Richard. Mas eu não vou me afastar dele por sua causa, Pamella. Se ele gosta de você, isso é algo que vocês dois precisam resolver. Mas não me culpe por algo que você não fez nada para proteger.

Pamella me olhou por um longo tempo, como se estivesse processando minhas palavras. O silêncio entre nós era pesado, carregado de emoções não ditas. Ela finalmente suspirou, balançando a cabeça levemente.

— Talvez você tenha razão — ela disse, sem a mesma agressividade de antes. — Mas eu ainda não vou desistir.

Ela deu meia-volta, sem dizer mais nada, e saiu do quarto, deixando a porta entreaberta atrás dela. Eu fiquei ali, imóvel, sentindo o peso da conversa sobre mim.

Pamella estava magoada, mas isso não mudava o que eu sentia. A confusão entre mim e Richard ainda pairava, e, por mais que eu quisesse acreditar que tudo se resolveria de forma simples, sabia que as coisas iriam ficar mais complicadas daqui para frente.

Continua...

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora