033

226 17 0
                                    

Alice Veiga

Depois que Pamella saiu do quarto, me joguei na cama, tentando processar tudo o que tinha acontecido. A conversa tinha sido mais intensa do que eu esperava, e a mistura de emoções – raiva, frustração e até uma pontinha de pena – estava me deixando exausta.

O som da chuva lá fora era agora apenas um sussurro suave, e, por um momento, a tranquilidade me acalmou. Fechei os olhos, tentando me concentrar na ideia de descansar, mas minha mente estava inquieta, principalmente quando pensava em Richard. O fato de ele estar dormindo no mesmo quarto que eu, por conta daquele sorteio meio desajeitado, só deixava tudo mais complicado. Eu sabia que ele estava cansado, mas como eu poderia dormir sabendo que ele logo entraria no quarto?

Alguns minutos depois, ouvi a porta se abrir lentamente. Richard entrou com o passo silencioso, fechando a porta atrás de si. Eu estava deitada de costas, tentando fingir que já estava quase adormecida, mas o som dos passos dele me deixou completamente desperta.

— Alice? — ele sussurrou, olhando para mim. Eu virei a cabeça na direção dele, me esforçando para parecer tranquila.

— Oi — respondi baixinho, a voz soando um pouco mais calma do que eu realmente me sentia.

— Eu tô exausto — ele disse, soltando um suspiro enquanto tirava a camisa. Meu coração deu um salto ao vê-lo se preparando para deitar. Richard parecia tão à vontade, como se dormir no mesmo quarto que eu fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez para ele fosse, mas para mim, definitivamente não era.

— Eu também tô — falei, tentando agir com naturalidade. — Foi muita coisa pra um dia só.

Ele sorriu de lado enquanto se aproximava da cama.

— É, foi um dia bem cheio. — Ele hesitou por um segundo antes de continuar. — A Pamella... ela foi falar com você?

Engoli em seco. Não queria mentir, mas também não sabia se estava pronta para contar cada detalhe daquela discussão.

— Foi — admiti, me virando um pouco para encará-lo melhor. — A gente conversou, mas não foi nada muito amigável. Acho que ela está frustrada com toda essa situação.

Richard suspirou novamente, passando a mão pelos cabelos, claramente incomodado com o que eu disse.

— Eu imaginei que ela faria isso. Pamella é... intensa, quando quer algo — ele disse, com um tom de exasperação. — Mas eu não vou deixar isso afetar a gente.

"A gente." Essas palavras me pegaram de surpresa. O que exatamente ele queria dizer com isso? Meu coração começou a bater mais rápido enquanto eu tentava decifrar o que ele realmente sentia.

— O que você quer dizer com 'a gente'? — perguntei, me forçando a encarar o assunto de frente.

Richard hesitou por um instante, como se estivesse escolhendo as palavras certas.

— Eu quero dizer que, apesar de tudo, nossa amizade não pode mudar por causa dela. Eu... — Ele parou, respirando fundo. — Eu gosto muito de você, Alice. Não quero que nada nem ninguém se meta entre a gente.

Aquela confissão simples foi o suficiente para me desarmar. O cansaço dele era evidente, e talvez não fosse o melhor momento para discutir sentimentos tão complexos, mas a proximidade dele e a sinceridade de suas palavras deixaram meu coração confuso. Eu também gostava dele. Mais do que deveria, talvez. Mas será que valia a pena colocar isso em jogo?

Antes que eu pudesse responder, Richard deitou ao meu lado, ainda respeitando a distância entre nós, mas a presença dele era impossível de ignorar. O quarto, antes tão silencioso, agora parecia carregar a tensão do que não estava sendo dito.

— Você quer falar sobre isso amanhã? — ele perguntou, já com os olhos fechados, quase vencido pelo sono.

— Acho que sim — sussurrei, virando-me de lado, tentando encontrar uma posição confortável. — Amanhã a gente vê o que faz.

Mas, no fundo, eu sabia que a conversa de amanhã não seria fácil. Com tudo o que estava acontecendo entre nós e Pamella, as coisas só pareciam ficar mais complicadas.

No entanto, por agora, o som da respiração tranquila de Richard ao meu lado foi o suficiente para me fazer fechar os olhos e, finalmente, deixar o sono me dominar.

Continua...

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora