020

307 20 1
                                    

Richard Rios

O caminho de volta da praia foi repleto de risadas e piadas, e eu não conseguia tirar da cabeça a expressão de Alice quando a joguei na água. Seu jeito marrento se desfez por um segundo, dando lugar a uma risada genuína. Eu adorava quando ela relaxava assim, quando deixava as preocupações de lado.

Ao chegarmos à casa de Endrick, estávamos todos exaustos, ainda com as roupas molhadas e os cabelos cheios de areia. Mas ninguém parecia se importar. A energia entre nós estava leve, descontraída.

— Acho que foi uma das melhores noites que tivemos em muito tempo — comentou Raphael, largando-se no sofá com um suspiro satisfeito.

— Concordo. Precisávamos disso — disse Endrick, indo direto para a geladeira pegar algo para beber.

Alice e Gabriely foram direto para o banheiro, rindo e falando sobre como tinham sido "sabotadas" por nós. Fiquei observando Alice de longe, enquanto ela sumia pela porta. Algo nela sempre me intrigava, talvez aquela resistência inicial, como se estivesse sempre tentando manter as pessoas à distância. E eu não podia negar que parte de mim se sentia desafiado por isso.

— Tá olhando o quê, hein? — Endrick perguntou, me pegando no flagra. — Já sei, já sei... a Alice, né?

Eu ri, tentando disfarçar.

— Não viaja, cara. Só tô pensando na noite. Foi legal sair um pouco da rotina.

Endrick não pareceu convencido, mas não insistiu. Em vez disso, ele me deu um leve soco no ombro e se jogou no sofá ao lado de Raphael.

Quando Alice e Gabriely voltaram, já trocadas e livres da areia, o clima continuou descontraído, mas algo no olhar de Alice parecia diferente. Não sei se era o cansaço ou se ela estava finalmente se permitindo relaxar ao nosso redor, mas eu gostava de vê-la assim, mais à vontade.

— Vamos pedir alguma coisa pra comer? — sugeriu Gabriely. — Tô morta de fome depois de tudo isso.

— Tô dentro! — respondi, sem pensar duas vezes.

Raphael pegou o celular para fazer o pedido, enquanto o restante de nós se acomodava pela sala, falando sobre a noite e planejando o próximo final de semana. Por mais que estivéssemos todos ali, meus olhos pareciam sempre encontrar Alice. E, pela primeira vez, ela não evitou o olhar, o que me pegou de surpresa.

Ela levantou uma sobrancelha, como se estivesse me desafiando a dizer alguma coisa.

— Tá olhando o quê, hein, Richard? — ela perguntou, repetindo as palavras de Endrick de mais cedo.

Sorri de canto, sem me dar por vencido.

— Só tava pensando como você parece menos marrenta depois de um banho de mar.

Alice revirou os olhos, mas havia um leve sorriso em seus lábios.

— Só não se acostuma. Da próxima vez, quem vai te jogar no mar sou eu.

Endrick soltou uma gargalhada alta.

— Quero só ver!

Mas, de alguma forma, o que Alice disse ficou na minha cabeça. Eu sabia que havia algo a mais por trás daquele jeito marrento, aquela resistência. E, mesmo que eu não quisesse admitir, parte de mim estava cada vez mais curioso para descobrir o que era.

A comida chegou logo em seguida, e passamos o resto da noite rindo e comendo. Quando finalmente o cansaço venceu, todos foram se dispersando para seus quartos. Eu fui o último a sair da sala, e, quando passei pelo quarto de Alice, vi que a porta estava entreaberta. Não resisti à curiosidade e dei uma olhada.

Ela estava deitada na cama, mexendo no celular, com um leve sorriso no rosto. Talvez fosse o efeito da noite, ou talvez algo dentro de mim estivesse mudando. Mas, naquele momento, eu sabia que queria entender Alice melhor. Havia algo nela que me puxava, mesmo que ela tentasse afastar todos ao seu redor.

Amanhã seria um novo dia, e quem sabe o que ele traria? Eu estava curioso para descobrir.

Fechei a porta com cuidado, já planejando o que viria a seguir.

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora