O Sussurro Do Silêncio

CAPÍTULO 07

A luz suave da tela era a única fonte de claridade na sala, além das chamas oscilantes na lareira. Eu estava afundado no sofá, os óculos de grau me ajudando a focar nas pequenas letras do artigo que abri sobre a morte da adolescente que Philippe mencionou na última consulta. Minha cabeça ainda estava cheia das suas palavras e suposições, além da história da testemunha do acidente dos meus pais. Isso me enchia de questionamentos, junto a essa ideia, me prendi também ao caso da adolescente. Parece que as pessoas bem sucedidas de Eldengrove, não tem histórias felizes e por essa razão estava dedicado a leitura a minha frente.

Na tela, lia sobre a jovem Helen Morozov, filha dos fundadores da Eldengrove Pharmaceuticals, uma empresa bem-sucedida que dominava o setor de medicamentos na região. Helen tinha apenas dezesseis anos quando foi encontrada morta. De acordo com o artigo, ela se suicidou na árvore em frente a mansão da família. No entanto havia muitas perguntas em torno do ocorrido. A adolescente não tinha depressão ou qualquer distúrbio psicológico. No entanto três dias antes de falecer desativou todas as suas redes sociais, doou tudo que tinha em seu quarto para uma instituição de caridade e suas roupas estavam todas rasgasdas no closet pessoal. Não teve nenhuma testemunha e seu corpo foi encontrado as seis horas da manhã. Hellen se enforcou e nenhuma outra substância foi encontrada em seu corpo.

Depois do funeral, o artigo mencionava que a Eldengrove Pharmaceuticals começou a enfrentar uma série de problemas financeiros, até ser dissolvida por completo cerca de um ano depois. A riqueza e a reputação dos Morozov desmoronaram, e eles desapareceram do cenário social de Eldengrove.

O silêncio absoluto da sala só era quebrado pelo estalar da lenha na lareira. Eu deslizava o dedo sobre o touchpad, passando para um outro artigo que detalhava ainda mais a falência da família Morozov. Era estranho; eles eram um dos pilares da sociedade da cidade, praticamente intocáveis em termos de status e influência. E, ainda assim, uma tragédia que parecia desconectada do negócio deles foi o suficiente para puxá-los ao fundo do poço. Uma empresa tão robusta não deveria ter desabado assim, a menos que... houvesse mais coisas sob a superfície. Fiquei imaginando se essa morte também escondia algo sombrio, da mesma forma que o acidente dos meus pais parecia cada vez mais estranho e o assassinato do senhor Victor também.

Minha mente estava mergulhada nas palavras do artigo, mas eu senti o leve odor amadeirado e inconfundível da colônia de Dorian antes de ele sequer dizer uma palavra. Era uma mistura familiar de madeira de cedro e um toque de nicotina que, agora, parecia fazer parte do próprio ambiente daquela casa. A presença dele era como uma tempestade silenciosa; mesmo quando ele não dizia nada, eu sentia seu poder quase palpável. Em parte, era intrigante, mas também era um lembrete constante do quanto ele parecia estar em todos os lugares, monitorando cada passo meu.

- Boa noite, Dorian - Digo antes mesmo que sua voz pudesse tomar o espaço.

- Estou fácil assim? - Ele se aproxima de mim, movendo-se de forma tão silenciosa que qualquer outra pessoa se assustaria ao notá-lo, mas eu já estava me acostumando - Curioso, Elliot. - Sua voz saiu baixa e arrastada, com o habitual toque de sarcasmo. - Desde quando o interesse por jovens falecidas e farmacêuticas em ruínas se tornou um passatempo seu?

Não me virei em nenhun momento, mantendo a atenção fixa na tela, sem tirar os óculos e sem me deixar levar por suas provocações.

- Desde quando você surgiu em minha vida e inha recuperação se tornou uma tormenta - respondi, com o mesmo tom de sarcasmo e malícia que ele usava.

Ele deu uma risada baixa, inclinando-se para olhar a tela por cima do meu ombro. Pude sentir a respiração dele próxima ao meu pescoço, mas fiz um esforço para ignorar o arrepio que me percorreu.

- Helen Morozov, hein? Isso é... inesperado. Ela morreu faz tanto tempo, pensei que você se ocupava mais em investigar seus próprios... fantasmas. - Ele enfatizou a palavra "fantasmas" de uma maneira que me fez estreitar os olhos e finalmente virar o rosto em sua direção.