CAPÍTULO 03

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O caminho de volta à mansão foi silencioso, com o senhor William mantendo os olhos fixos na estrada. Eu ainda sentia o toque das mãos do doutor Adrian em meu rosto, seu olhar acolhedor gravado em minha mente. A ideia de alguém reconhecer em mim traços da minha mãe, mesmo sem eu me lembrar dela, trouxe uma onda de conforto, mas também de dor. Havia tanto que eu não sabia, tantas perguntas que só se multiplicavam.

Ao chegar na mansão, com suas paredes altas e janelas antigas, fui recebido como uma fortaleza solitária. O senhor William me ajudou a descer do carro e me guiou de volta, mantendo-se em silêncio e sem sequer me olhar. No hall de entrada, Dorian estava de pé, encostado em uma coluna de mármore, com os braços cruzados, os cabelos negros caindo sobre o rosto, as roupas sempre escuras, e o olhar penetrante fixo em mim. Ele me observou chegar, com um meio sorriso que não compreendi.

- Foi uma boa sessão? - perguntou ele, em um tom ligeiramente provocador.

- Foi... esclarecedora, acho - respondi, sentindo a necessidade de manter alguma distância emocional. - Eu vi o Dr. Adrian.

- Ah, ele está bem? - comentou Dorian, num tom desinteressado.

Assenti, e ele me olhou com uma intensidade que fez o ar entre nós parecer denso. Aproximou-se da cadeira, suas mãos pairando sobre minhas costas, e sua presença intensa se fez sentir.

- Gostaria de descansar ou... conhecer mais da mansão? - Ele deixou a frase no ar, como um convite que ele sabia que despertaria toda a minha curiosidade.

- Seria bom ver mais, afinal, tenho 23 anos nessas paredes - respondi, tentando me sentir à vontade. Afinal, aquela era minha casa, como os documentos diziam, mas minha memória não trazia nenhuma lembrança.

Dorian acenou com a cabeça e começou a empurrar minha cadeira pelo vasto corredor. A cada porta que passávamos, meus olhos se perdiam nos detalhes. A mansão era uma mistura de luxo e história: esculturas antigas, tapeçarias que contavam histórias de famílias nobres, e quadros de pessoas que pareciam me observar em silêncio.

Chegamos a uma sala repleta de livros, o cheiro de papel e couro preenchendo o ar. Dorian parou e fez um gesto com a mão, como se estivesse me apresentando aquele mundo de enormes estantes e pilhas de livros.

- Aqui está a biblioteca dos Sinclair. Tem tudo o que sua família colecionou ao longo dos anos - explicou, com prontidão. - História, filosofia, literatura, alguns registros antigos...

Passei os dedos pelas lombadas dos livros enquanto tentava absorver o significado daquele lugar. Algo ali me parecia estranhamente familiar.

- E há quanto tempo você está com a minha família? - perguntei. Seus olhos pareciam sorrir ao responder.

- Estou mais conectado a você do que à sua família, então, estou aqui há pouco tempo.

- Conectado a mim? O que quer dizer? - perguntei, estranhando e arqueando as sobrancelhas.

- Que sirvo a Elliot Sinclair - sua voz ecoou próxima ao meu ouvido, fazendo minha pele arrepiar. Suas mãos pousaram sobre meus ombros, e seu toque parecia queimar minha pele. Eu não sabia por quê, mas aquela frase me deixava ansioso. - Mais um acontecimento para pôr no seu diário?

Empurrei a cadeira de rodas e me afastei dele, o tom de brincadeira me tirava a paciência. Dorian me causava sensações incômodas: uma mistura de raiva e conforto, curiosidade e ansiedade, segurança e medo. Nada nele parecia certo ou transparente; ele parecia manipular as palavras ao seu próprio prazer, e isso não me permitia confiar nele.

- Saia.

- Chateado? - Ele sorriu, provocativo.

- Se me serve, obedeça. Disse para sair - falei, ríspido e direto.

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