CAPÍTULO 11

3 2 4
                                    

Mais um sonho... dessa vez algo novo. Estava com mãos pequenas, ninhas pernas eram curtas, me sentia na infância, algo por volta dos cinco ou seis anos. Mal me sustentava de pé, enquanto caminhava no piso de mármore negro e frio, que parecia ecoar com o peso do silêncio. O ambiente era vasto, uma catedral profana esculpida em escuridão e decadência. O teto erguia-se alto, sustentado por colunas de pedra que pareciam chorar sombras, detalhadamente esculpidas com figuras grotescas que se contorciam, como se presas na própria matéria. A luz era fraca, vinda de castiçais enormes, com velas que chamejavam em tons de vermelho-sangue e dourado.

Meus olhos infantis e inocentes continuavam a observar tudo de baixo para cima. As paredes eram forradas de tapeçarias escuras, decoradas com símbolos que eu não reconhecia, mas que pareciam arder com um tipo de poder escondido, quase ameaçador. Por um instante, o ar parecia denso, quase difícil de respirar. Havia algo de frio ali, algo gélido e estranho que penetrava até os ossos. Era possível ver outro da minha altura , talvez crianças como eu, mas na agiam como tal, nao havia um traço de agitação ou alegria, me fazendo segurar ainda mais firme as mãos dos meus pais, enquanto meu corpo parecia se encolher assustado.

Todos estavam mascarados e encapuzados, envoltos em tecidos vermelhos e pesados que arrastavam no chão. Os desconhecidos estavam dispostos em um círculo ao redor de um altar negro no centro do salão, que parecia engolir qualquer traço de luz. Cada pessoa trazia uma máscara esculpida em um completo preto. Mesmo ocultos, eu sabia que me observavam e isso me enchia de medo, fazendo eu me agarrar ainda mais aos meus pais.

Senti uma mão pesada em meu ombro, e quando olhei para cima, vi meu pai. Ele estava coberto pelo mesmo manto vermelho, mas seu rosto estava oculto por uma máscara de ouro escuro, diferente dos outros. Podia sim, ser qualquer outra pessoa, mas eu tinha certeza que era o meu pai. Thomas... Aquele rosto sem vida me encarava, mas os olhos me diziam quem estava ali comigo e me trazia paz.

A mão do meu pai me conduziu até o centro do salão, cada passo ecoando, o som absorvido pela escuridão ao redor. Ao me aproximar do altar, pude ver melhor o que estava sobre ele: um livro imenso, de capa negra e desgastada, com marcas gravadas em prata e ouro, e o que parecia ser um cálice feito de osso, onde um líquido espesso e escuro repousava.

Um dos encapuzados avançou, trazendo uma tocha cujas chamas tremeluziam, iluminando parcialmente os rostos mascarados ao redor. Em sua mão, ele segurava algo que cintilava à luz: uma adaga de lâmina prateada, incrustada de rubis que pareciam pulsar como corações vivos. Ele a ergueu, e todos começaram a murmurar em uma língua estranha, quase como um cântico, mas áspero e gutural, algo que me provocava calafrios mesmo sem entender as palavras. Era como se cada sílaba invocasse algo além do que os sentidos poderiam alcançar.

Senti meu pai se afastar um pouco, mas não completamente. Ele estava perto o suficiente para que eu soubesse que ele me observava, que ele esperava algo de mim. Uma voz feminina sussurrou meu nome - baixa, quase um gemido. O som ecoou pelo salão, e eu reconheci o tom, algo familiar, mas ao mesmo tempo distante, como um eco de memórias esquecidas. Minha mãe.

- Mãe.. Mãe!! Mãe!! Mãe!! - grito como socorro.

Ela apareceu entre as figuras encapuzadas. Diferente dos outros, sua máscara era branca, quase angelical, contrastando com o vermelho do manto. Ela me olhou, mas seu olhar parecia triste, quase suplicante. Estendi minha mão para ela, mas antes que pudesse tocá-la, senti o peso de outra mão nas minhas costas, me puxando para o altar. A angústia me abraçava assim como o medo e as lágrimas que transbordavam pelo meu rosto, enquanto minha garganta continuava a gritar mesmo dor pela minha mãe.

Caí de joelhos, sentindo a frieza do mármore se arrastar pela minha pele. Os cânticos aumentaram, e os encapuzados começaram a girar em um círculo ao meu redor, suas sombras se alongando e dançando contra as paredes. As luzes das velas oscilavam, fazendo com que os rostos vazio de suas máscaras parecessem rir de mim, zombando do meu medo. Não sei como notei algo assim, mas era o que eu sentia.

A figura com a adaga se aproximou mais uma vez, colocando a lâmina diante dos meus olhos. Pude ver meu próprio reflexo - um rosto infantil, apavorado, que não entendia o que estava acontecendo. Em um movimento lento e deliberado, ele trouxe a lâmina até meu pulso, deixando-a pressionada ali, como uma ameaça silenciosa. O murmúrio dos cânticos tornou-se ensurdecedor, como um trovão que vinha de todas as direções.

Eu gritei, mas ninguém reagiu. Eles continuavam girando, os mantos vermelhos formando um borrão ao redor de mim. Era como se estivessem mergulhados em uma dança macabra, ritmada pela minha própria angústia. E então, as sombras começaram a se alongar, a ganhar vida própria, saindo das paredes como mãos escuras que tentavam me agarrar.

O homem que segurava a adaga murmurou algo que não entendi, e em um movimento rápido, ele cortou levemente a palma da minha mão, deixando o sangue escorrer pelo mármore do altar. Eu senti a dor, aguda e real, e vi o líquido escuro pingando e se misturando ao cálice de osso. Algo começou a pulsar no ar, uma presença invisível, mas esmagadora.

- ME TIRA DAQUI!!! ME TIRA DAQUI!!! ELLIOT! ELLIOT ACORDE!!! POR FAVOR! POR FAVOR PARE!!!










O Sussurro Do Silêncio Onde histórias criam vida. Descubra agora