CAPÍTULO 22

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Narração
Belial - Dorian
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As chamas da lareira lançavam sombras oscilantes pela sala, preenchendo o ambiente com uma dança de luz e escuridão. A cadeira sob mim era macia, confortável, mas a sensação de frustração cravava-se como espinhos em minha mente. Com um cigarro entre os dedos e um copo de whisky na outra mão, observei as labaredas se contorcendo, refletindo o caos que se instalara nos últimos dias. Elliot estava de volta - ou, ao menos, a casca que carrega sua alma. Mas a personalidade diante de mim era a errada.

Depois de nosso retorno da mansão dos Hawthorne, ele se trancara no quarto em silêncio, uma quietude perturbadora que apenas refletia sua condição fragmentada. A consciência que me servia, que fizera o pacto e compreendia o alcance do pedido, estava soterrada em algum lugar profundo. Agora, eu tinha que lidar com uma versão que, embora soubesse a verdade, ignorava o que realmente nos unia.

Soltei uma baforada de fumaça, observando o espiral desaparecer. Como trazer de volta aquele Elliot? O verdadeiro. O que sabia seu lugar, o que... me pertencia? A ironia era cruel: ter a verdade ao alcance, mas vê-lo vagar perdido, como se estivesse no papel de espectador, não protagonista.

Os passos ressoaram de repente pelo corredor. Não me movi, mas observei com curiosidade enquanto ele aparecia no vão da porta, os ombros caídos, o rosto exausto, os olhos de mel parecendo mais fundos, cercados de um cansaço que quase inspirava pena. Quase. Vestia um pijama simples, de algodão, e os cabelos estavam desarrumados, como se tivesse passado os dedos por eles inúmeras vezes antes de entrar.

Ele hesitou por um segundo, como se calculasse o impacto da minha presença. Senti um prazer contido ao vê-lo assim, vulnerável, exposto, desprotegido em todos os aspectos. Elliot, o rapaz atraente e frágil, o dono de uma beleza que mesclava inocência e uma amargura silenciosa. Ainda assim, a força que eu ansiava estava oculta, e isso me enfurecia.

- Não consegue dormir? - quebro o silêncio com um sorriso sarcástico, sem desviar os olhos dele.

- Não é exatamente uma noite tranquila - Ele desvia o olhar para a lareira, se sentando no sofá próximo a mim

Com um risinho de desdém, rodo o copo entre os dedos.

- Você fez a escolha de matar Victor naquela noite. Assisti você se manchar de sangue e satisfazer seu desejo. Eu existo para isso. Foi você quem pediu - Insinuo, jogando uma fagulha de provocação que sei que, cedo ou tarde, incendiará a confusão dele.

Ah, finalmente, a pergunta que revela sua ingenuidade. Aperto o copo com um certo desprezo, meu riso seco quebrando o silêncio.

- Terminar? Querido, você não tem esse controle. Você abriu uma porta. Uma porta que não pode ser fechada, a não ser que eu queira - Eu o observo, vendo o impacto de cada palavra em seu rosto.

Seus olhos vacilam, a incerteza brilhando naquele mel claro, como uma criança à deriva.

- Eu... não lembro do acordo feito em nosso contrato - ele sussurra, a dúvida dele se arrastando até mim. Sua voz é hesitante, como se suspeitasse de algo que não quer acreditar.

Sorrio com uma satisfação sombria, inclinando-me na cadeira.

- Essa é a tragédia da sua condição - digo, levantando-me e me aproximando dele, o copo ainda em uma das mãos. Paro a poucos centímetros de seu rosto, sentindo sua respiração se tornar mais curta. É como encarar uma obra de arte que, ao mesmo tempo que é bela, guarda o potencial destrutivo de tudo que está por vir.

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