CAPÍTULO 02

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Acordei com a luz suave do dia filtrando-se pelas pesadas cortinas do quarto. O ambiente era completamente novo, mas transmitia um pouco de conforto. A luz do sol que conseguia entrar era acolhedora; a lareira ainda crepitava suavemente, já quase em cinzas, anunciando o novo dia que acabara de nascer. As lembranças da noite anterior trouxeram um frio na barriga. A ideia de ter sofrido um acidente, passado dois anos em coma e agora estar completamente sozinho em uma mansão imensa com um homem desconhecido, que nem meu parente era, ainda pesava em minha mente.

Enquanto recapitulei cada detalhe, senti um aperto no peito; a angústia fez meus olhos marejarem, e uma lágrima deslizou pela minha bochecha, aumentando minha aflição. Embora os sentimentos fossem confusos, dentro de mim ainda existia um Elliot que vivera vinte e três anos e conhecia tudo sobre sua vida... Dorian... O nome dele ecoou em minha mente. Era um homem sério, com um sorriso malicioso, respostas diretas e uma aparência marcante. Quem era ele? Por que era meu responsável? Como minha família o conhecera? Será que eu o conhecia antes do acidente? Eu precisava revisitar meu passado para viver meu futuro a partir de agora.

Minhas lembranças eram nebulosas, como se uma névoa espessa encobrisse meu passado. Sentei-me na cama e tentei me mover, mas meu corpo ainda estava fraco e pesado, o que me fez ansiar pela fisioterapia para ganhar mais independência. Eu estava magro, sem músculos, minha pele era pálida. Meus dedos finos pareciam frágeis. Tudo o que conhecia nos últimos dois anos era o que o hospital me oferecia; agora precisava me readaptar ao mundo, desde o sol até os alimentos.

Com dificuldade, consegui me arrastar um pouco, puxando a cadeira de rodas ao lado da cama. Após muita luta e uma sensação de que meus pulmões estavam exaustos pelo simples esforço, posicionei-me para sair do quarto.

O silêncio do corredor imenso era assustador. Os quadros antigos nas paredes, as estatuetas, tudo adornava com perfeição a arquitetura antiga e elegante. A mansão exalava opulência, mas também mistério. Era estranho imaginar uma família morando ali. Quem eram os Sinclair? O que faziam? Que negócios meus pais tinham?

Agora, com a luz do sol iluminando cada canto da casa, tudo parecia mais majestoso do que na noite anterior. Havia um grande jardim com uma fonte ao centro e inúmeras portas ao longo do corredor. Algumas portas me causavam uma estranha familiaridade, como se eu soubesse o que havia por trás, mas não conseguia lembrar. Na sala principal, vi uma mesinha com um pequeno caderno e uma caneta. Aproximei-me, peguei o caderno e, por um segundo, encarei as páginas em branco. Não lembrava como era deslizar uma caneta sobre o papel, mas, de forma natural, meus dedos agiram por conta própria, o que me trouxe uma alegria imensa por algo tão simples.

"Minhas memórias"
"Elliot Sinclair, Dorian, hospital, Dr. Adrian, mansão, família Sinclair"

Um cheiro delicioso invadiu o ar, e imediatamente me lembrei de... Croque Monsieur. A memória surgiu com força: o pão macio, o sabor do queijo, o molho quente sobre a massa. Minha boca salivou; anotei minha nova descoberta no caderno e fui guiado pelo aroma até uma enorme sala de jantar. Estranhamente, sabia exatamente como chegar ali, o que me dava uma sensação de pertencimento. Ao entrar, vi alguém além do senhor Dorian. Uma senhora de meia-idade, com cabelos grisalhos presos em um coque impecável, ajeitava o avental branco. Seus movimentos eram cuidadosos, organizando a mesa com esmero. Havia tantas variedades de frutas e bolos que me perguntei se haveria mais alguém para comer conosco. O cheiro de café e as jarras de suco coloridas eram atraentes.

— Apenas observar não vai lhe alimentar, mestre Elliot — disse a senhora, sem olhar para mim.

— Desculpe, bom dia — falei com um sorriso simpático. — Fiquei impressionado com seu zelo.

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