CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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ATENÇÃO: O capítulo pode ter conteúdo sensível para algumas pessoas.

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Pov: Yoko Apasra

- Me deixe em paz, Faye. - Digo num fio de voz. - Eu não quero a sua companhia agora.

Tento ao máximo segurar o choro agudo que insiste em tentar escapar pela minha garganta. Minha testa segue encostada na porta e minhas mãos seguram o tranco da porta, eu queria abri-la, mas ao mesmo tempo, só desejava ficar sozinha. 

- Yoko, você não precisa passar por nada sozinha, me deixe te ajudar. - Faye continua a insistir. Eu suspiro profundamente, sem saber o que fazer.

A verdade é que eu não tinha a menor ideia do que queria. Eu desejava os braços acolhedores de Faye e seu toque quente e seguro, mas ao mesmo tempo, minha mente traiçoeira me atraía pensamentos terríveis de que eu era um fardo, que eu estava criando um caos na vida daquela mulher; que ela iria embora quando percebesse o quão fraca eu era para lidar com situações extremas. 

Após meu momento com Becky no jardim, aquela imensidão absoluta de sentimentos me atingiu mais uma vez, como se eu estivesse vivendo um pesadelo de olhos abertos. Eu senti medo, desespero, dor, eu senti como se fosse sufocar. Tentei sair do banheiro para pedir ajuda à Becky, talvez ela fizesse passar como da última vez, mas eu não consegui. Mais uma vez minhas pernas falharam, mas dessa vez minha queda foi tão forte que acabei por derrubar um dos móveis do banheiro ao tentar me equilibrar, fazendo com que todos os produtos caíssem. 

Um dos perfumes quebrou sob o meu pulso, minha pele branca ficou roxa no mesmo segundo e um enorme corte perfurou a região, espalhando sangue pelo piso branco do banheiro, manchando também as minhas roupas. Os produtos espalhados no chão, o vidro, o sangue, estava uma completa bagunça, porque eu era uma completa bagunça. 

Eu sempre me considerei uma pessoa forte, pois foi assim que as pessoas me classificaram. Minha mãe sempre repetia como eu era forte por aguentar uma mudança brusca de país e de cultura, meu pai dizia o mesmo, e quando eu os perdi, todos em volta me diziam como eu era forte por aguentar tal perda. Ize costumava dizer o mesmo quando eu falava que os comentários odiosos não me afetavam, Wanwan mencionava como eu era forte por aguentar as horas exaustivas de ensaio e a rotina intensa de uma turnê, e Eye dizia que eu era forte por me manter de pé mesmo com um maníaco me perseguindo; quanto a Faye, ela deixava claro que me achava forte por lidar com tudo isso sozinha. 

Mas talvez eu não fosse forte, só ignorava toda a dor com um sorriso. Uma vez Ciize me disse que meu copo iria transbordar, eu não entendi o que aquilo significava, até agora. Além de me sentir fraca, eu me sentia um peso, não gostava de pedir ajuda, de precisar de ajuda. Mas neste momento, eu me via completamente perdida na imensidão de sentimentos, como se me afogasse num oceano bruto mas não ousasse erguer a mão para alguém puxar. Eu sempre me salvei sozinha, mas dessa vez, eu não via mais saída. 

Eu me afasto da porta pronta para abri-la, mas então, vejo uma pequena mancha de sangue borrar o moletom no braço esquerdo. Bagunça, eu era uma bagunça

- Me deixe sozinha... Eu vou ficar bem, só me deixe sozinha. - Eu solto a maçaneta. - Eu preciso disso, por favor.

- Me deixe pelo menos ficar sentada ao seu lado. Você pode fingir que não estou ali... Só não quero te deixar sozinha. Você não precisa mais estar sozinha. - Solto um longo suspiro.

- Eu sei disso. - Admito, encostando a testa na porta. - Mas às vezes eu preciso. Por favor, Faye, me deixe um pouco sozinha.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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