16

29 7 2
                                    


O dia estava ensolarado, mas a ansiedade apertava meu peito com uma linha invisível. Eu precisava de um tempo sozinha, longe da agitação do acampamento. Depois de andar um pouco pelas barracas, vi um grupo de meninas conversando perto do refeitório.

Elas estavam animadas, anunciando que à noite haveria uma sessão de filmes, e os alunos deveriam levar cobertas e travesseiros. "Vai ser tão divertido!", disseram, com suas vozes cheias de entusiasmo. Mas, apesar da empolgação no ar, minha mente estava em outro lugar.

Decidida a me distrair, continuei andando até ver o cartaz de uma oficina de tricô pendurado em uma parede de madeira desgastada. Sempre tive vontade de aprender, e o fato de não haver muitas pessoas inscritas me levou a ter coragem. Quando entrei na sala, a monitora me olhou com uma expressão séria.

— Você provavelmente não vai conseguir terminar a peça, mas pode levar o material para casa.

A franqueza dela, em vez de me desanimar, me motivou.

Passei horas cercada por novelos coloridos, concentrada nos movimentos das agulhas. O som ritmado era quase hipnótico, enquanto o murmúrio das atividades do acampamento ecoava ao fundo. Quando finalmente saí, o sol ainda brilhava, mas o peso no meu peito não tinha desaparecido.

Caminhei em direção ao dormitório e vi o meu irmão com a namorada de longe, rindo. E quando ele me avistou, virou o rosto, me ignorando por completo. Eu respirei fundo, tentando não me abalar, e continuei andando. Boris, que costumava ficar no xadrez pelo gramado, tinha sumido, e eu me senti ainda mais solitária.

Tentei mandar uma mensagem para a minha avó, mas o sinal estava péssimo. A falta de contato com ela começava a pesar. Ela sempre sabia como me confortar, mesmo à distância, e naquele momento eu sentia falta disso. Depois de várias tentativas frustradas, desisti e voltei ao meu dormitório.

Tomei um banho frio, esperando que isso aliviasse a saudade. A água gelada me fez estremecer, mas trouxe certa clareza. Talvez o banho fosse o que eu precisava para desacelerar, ao menos por um momento. Quando me deitei na cama, o cansaço me envolveu, mas mesmo enquanto fechava os olhos, sabia que o peso daquele dia não iria embora tão facilmente.

[...]

Depois de dormir por algumas horas, fui acordada pelo som das meninas se arrumando para o filme. Elas riam e trocavam comentários animados, o que me trouxe de volta ao mundo.

Levantei-me devagar, ainda meio sonolenta, e escolhi uma roupa confortável. Vesti uma camiseta larga e calça de moletom. Peguei a minha coberta mais macia e um travesseiro pequeno, e saí do dormitório.

Caminhando em direção ao gramado, pude ver as luzes que pendiam nas árvores ao redor, criando uma atmosfera mágica. Pequenos pontos de luz piscavam como estrelas entre os galhos, e no centro de tudo estava uma enorme tela branca, erguida para projetar o filme. No chão, lençóis e cobertores estavam espalhados, com alunos já se acomodando. O ar estava fresco, e uma leve brisa fazia as luzes balançarem suavemente.

Quando cheguei mais perto, olhei em volta, tentando achar um bom lugar para me sentar. Havia risadas por toda parte, o som abafado de conversas e o leve estalar de pipocas sendo estouradas perto do refeitório. Estava distraída, observando tudo, quando, de repente, tropecei.

Meu coração acelerou por um segundo enquanto eu me desequilibrava, caindo de joelhos. Ao olhar para trás, percebi que alguém tinha esticado a perna sem querer. Antes que eu pudesse reagir ou levantar sozinha, uma mão se estendeu na minha direção.

— Ei, você está bem? — uma voz preocupada perguntou.

Olhei para cima e vi que era um garoto do terceiro ano. Ele tinha um sorriso gentil, os olhos brilhando sob as luzes das árvores. Levantei-me com a ajuda dele, ajeitando a coberta e o travesseiro que quase tinham caído.

𝐜𝐡𝐚𝐫𝐦! boris pavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora