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O sol se escondia lentamente no horizonte, tingindo o céu com um laranja suave e dourado. Enquanto Boris e eu caminhávamos pela trilha que levava ao espaço onde aconteceria a atividade de vôlei, o som de nossos passos era abafado pela terra úmida e pelas folhas secas espalhadas pelo chão.

O final de tarde trazia consigo uma melancolia tranquila, a brisa leve fazia as árvores sussurrarem segredos antigos. As sombras se alongavam ao nosso redor, criando formas que pareciam tentar esconder tudo aquilo que eu não queria lembrar.

Ao lado de Boris, sentia um conforto tênue, como se sua presença me desse um breve alívio em meio às turbulências dos últimos dias.

— Porra... — murmurou Boris, sem olhar para mim, os olhos fixos na quadra adiante, onde a figura do meu irmão se destacava.

Assim que nos aproximamos, o som dos outros jogadores e das risadas foi gradualmente substituído por um silêncio tenso, pesado. Patrick estava lá, de uniforme do acampamento, a bola de vôlei em uma das mãos, passando os dedos de forma impaciente pela superfície de couro.

Quando nossos olhares se cruzaram, percebi o rancor estampado em suas feições. Era um sentimento que conhecia bem, e que parecia aumentar a cada encontro. Não houve trocas de cumprimentos, apenas uma corrente de ressentimento mudo que percorria o espaço entre nós.

— Olha só quem resolveu aparecer... — provocou ele, um sorriso sarcástico tomando conta de seu rosto, enquanto os amigos ao redor soltavam risadas abafadas. — Achei que fosse passar o resto do verão chorando no quarto.

As risadas deles ecoaram pelo local, e eu senti o meu rosto queimar de raiva. O boato de que eu havia passado alguns dias no quarto, chorando, havia se espalhado pelo acampamento, e agora parecia que Patrick fazia questão de usar isso como munição na frente de todos.

Antes que eu pudesse formular qualquer resposta, Boris deu um passo à frente, a expressão dele tensa, a voz firme e carregada de desafio.

— Vai se foder, Patrick — disparou, encarando o irmão de maneira fixa, como se tentasse atravessar o escudo de arrogância que Patrick sempre mantinha.

Patrick soltou uma risada seca, sem nenhum sinal de humor, e girou a bola entre as mãos. — Cara, vai defender ela agora? — provocou, com desdém evidente em cada palavra. — Acho que você não sabe nem metade do que ela realmente é.

Boris me lançou um olhar rápido, e eu percebi uma tempestade de sentimentos em seus olhos—raiva, mas também algo mais profundo, uma compreensão silenciosa do que eu estava passando.

— Você não sabe porra nenhuma sobre ela — retrucou Boris, tentando manter a voz firme.

Eu segurei o ar, tentando manter as lágrimas longe dos olhos, mas o nó na garganta só aumentava. — Deixa pra lá, Boris... — murmurei, a voz quebrada pelo cansaço. — Ele não vai mudar.

Patrick deu de ombros, o sorriso amargo ainda estampado em seu rosto, mas por um breve momento, eu notei algo diferente em seu olhar—um cansaço que parecia refletir o meu.

Boris colocou uma mão no meu ombro, um toque leve, mas que parecia tentar me ancorar ali. Patrick bufou, avançando com um movimento repentino, e antes que eu pudesse reagir, desferiu um soco em Boris.

O som do impacto ecoou pela quadra, e um grito escapou dos meus lábios, se misturando à confusão ao redor. Boris cambaleou para trás, surpreso, enquanto levava a mão ao rosto. Patrick, com os olhos ainda ardendo de raiva, deu mais um passo adiante, como se estivesse disposto a ir ainda mais longe.

Foi então que Boris, sem hesitar, revidou com um soco firme no rosto de Patrick, que tombou para o lado, o sangue escorrendo pelo canto da boca. O golpe ressoou pelo ar, cortando o clima de tensão, enquanto os amigos de Patrick paravam de rir de repente, sem saber como reagir. Boris, ofegante, ainda com os punhos cerrados, o encarava com um olhar que misturava desprezo e fúria.

Patrick tentava se levantar, mas antes que pudesse se recuperar, uma figura surgiu correndo pelo campo: a monitora, com os olhos arregalados, claramente furiosa. Ela segurou Patrick pelo braço, impedindo-o de avançar para cima de Boris, e seu tom de voz não deixava espaço para desculpas.

— Que diabos vocês estão fazendo? — gritou ela, a voz ecoando pelo campo, enquanto lançava um olhar duro para Boris e Patrick. — Vocês acham que isso aqui é uma briga de bar? Para dentro, os dois!

Boris ainda estava com a respiração pesada, os olhos fixos no irmão, que cuspia sangue para o lado e o olhava de volta com ódio puro. A monitora, irritada, puxava Patrick pelo braço, enquanto tentava controlar a situação.

— E vocês, parem de assistir como se fosse um show! — ralhou para os outros campistas, que agora murmuravam, espalhando-se pelo campo, visivelmente nervosos com a tensão do momento.

Olhei para Boris, que parecia se acalmar aos poucos, embora ainda estivesse com a mandíbula tensa. Ele então virou-se para mim, e sua expressão suavizou levemente, revelando a preocupação que sentia.

— Estou bem — ele murmurou, a voz ainda trêmula, mas tentando me tranquilizar. No entanto, eu sabia que nada ali estava bem, que a briga entre eles era apenas a superfície de algo muito mais profundo do que ainda estaria por vir.

𝐜𝐡𝐚𝐫𝐦! boris pavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora