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Faltavam menos de duas semanas para o fim do acampamento. Cada amanhecer trazia um peso maior, uma sensação de que, em breve, tudo aquilo terminaria. O sol, as risadas ecoando pelas árvores, o cheiro de fogueira à noite... e Boris.

As férias de verão estavam acabando, e com elas, a segurança que eu sentia ao lado dele. Logo, eu voltaria para a escola, e com isso, os boatos também voltariam a me assombrar.

- Você quer que eu pegue mais uvas? - a voz dele me trouxe de volta ao presente.

Olhei para ele, as mãos cheias de uvas, os lábios manchados de vermelho, como se tivesse acabado de morder uma fruta madura. Ele adorava uvas, e era quase engraçado ver o quanto se dedicava a comer cada uma com tanta concentração. Uvas. Uvas. Uvas. Ele tinha ido até a mesa de café da manhã três vezes, e agora estava se oferecendo para ir de novo, como se nunca se cansasse.

- Não, estou satisfeita - respondi, forçando um sorriso, embora meus pensamentos estivessem distantes. Ele devolveu o sorriso, aquele sorriso fácil, que sempre me fazia sentir um calor estranho no peito, e se virou, indo mais uma vez até a mesa de café.

Observei-o enquanto caminhava, o sol refletindo no seu cabelo bagunçado. Ele parecia tão à vontade, tão alheio ao turbilhão de emoções que borbulhavam dentro de mim. Minha atenção estava nele, mas, ao mesmo tempo, não pude deixar de notar quando Sophie, uma das meninas do meu dormitório, se aproximou dele. Ela tinha sido maldosa comigo uma vez, e agora estava ali, com um sorriso que não era nada genuíno.

Meu coração deu um salto quando a vi se inclinar para cochichar algo no ouvido dele. Boris, distraído, riu baixinho, e aquele som me atravessou como uma faca. O que ela havia dito? E por que ele estava rindo?

Eu odiava como me sentia. Não é justo.

Cruzei os braços, olhando para longe, tentando ignorar as minhas bochechas ficando quentes. Eu queria levantar, fazer alguma coisa, talvez ir até lá e interromper a conversa. Mas minhas pernas pareciam coladas ao chão, e tudo que eu podia fazer era observar de longe, com o coração pesado e uma sensação de perda crescente.

Estava tentando lembrar como tudo tinha começado. Alguma garota me viu ao lado dele, e de repente, era como se eu tivesse acendido um holofote sobre ele.

Antes, ninguém parecia notá-lo, mas agora, elas o cercavam, lançando olhares, rindo alto demais quando ele passava. A sensação estranha de vê-las agir assim me corroía por dentro, e eu não sabia exatamente como lidar com isso.

Era Boris. O meu Boris.

Não "meu", mas ele havia sido a única pessoa com quem eu realmente estava conversando naquele verão.

Sem ele, eu provavelmente teria passado as semanas me sentindo isolada, sufocada pelos meus próprios pensamentos. Ele me entendia de uma forma que mais ninguém conseguia, e só de estar ao lado dele, tudo parecia fazer mais sentido.

Boris voltou da mesa de café com um pote de uvas agora, segurando-o com cuidado como se fosse algo precioso. Ele se sentou ao meu lado, o sol brilhando sobre seus cabelos bagunçados, o sorriso tranquilo ainda nos lábios. Eu tentei não olhar diretamente para ele, mas era difícil.

- Trouxe num pote desta vez. Assim fica mais fácil - disse ele, colocando o pote entre nós, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. Pegou uma uva e colocou na boca, mastigando devagar, me observando de canto de olho. Eu continuei quieta, o olhar perdido em algum ponto à frente, o ciúme ainda fervendo sob a superfície.

Ele me olhou de lado, franzindo o cenho, como se estivesse tentando entender o que havia mudado.

- Você tá meio calada... - ele comentou, a voz suave, sem traço de julgamento. Pegou mais uma uva e, dessa vez, me ofereceu, estendendo a mão com uma expressão curiosa. Eu balancei a cabeça, recusando.

- Tá tudo bem? - ele insistiu, agora me encarando diretamente. Eu continuei olhando para o chão, sem saber como dizer o que estava sentindo sem soar ridícula. Ele estreitou os olhos e, então, como se uma lâmpada tivesse acendido na sua cabeça, sorriu. Um sorriso quase... divertido.

- Você tá com ciúmes? - perguntou, e havia um toque de brincadeira na voz dele. Antes que eu pudesse negar, ele deu uma risadinha baixa. - Isso é fofo.

Finalmente o encarei, os olhos apertados, sentindo minhas bochechas esquentarem ainda mais.

- Não é fofo - retruquei, tentando parecer firme, mas a resposta saiu mais suave do que eu pretendia. Ele apenas riu de novo, balançando a cabeça, como se não levasse aquilo tão a sério quanto eu.

- Claro que é - disse, pegando outra uva e mordendo devagar, ainda sorrindo daquele jeito que fazia meu coração acelerar. - Só significa que você gosta de mim.

Eu senti meu rosto esquentar mais ainda. As palavras dele ecoavam na minha cabeça, e meu coração parecia bater mais forte a cada segundo. Gostar dele?

Eu nem sabia direito o que estava sentindo, só sabia que aquela sensação desconfortável não saía do meu peito.

Respirei fundo, tentando me concentrar, mas minhas mãos estavam suando e eu não conseguia encontrar uma resposta que fizesse sentido. Tudo que veio foi um riso nervoso, baixinho, escapando antes que eu pudesse conter.

Boris me olhava com aquele sorriso despreocupado, completamente alheio à tempestade de pensamentos que passava pela minha cabeça.

- Eu... - comecei, mas a voz falhou, então respirei fundo de novo, tentando reorganizar as palavras. - Não é isso, é só que... - olhei para longe, tentando evitar o olhar dele. Como eu ia explicar o que estava sentindo sem soar boba?

- S/n... - ele chamou meu nome devagar, com uma doçura na voz que quase me desarmou por completo. Eu não podia encará-lo. Ele se inclinou um pouco mais perto, os olhos curiosos, ainda esperando por uma resposta que eu não sabia dar. - Tá tudo bem de verdade?

Eu balancei a cabeça, sem muita certeza, e o silêncio se alongou por alguns segundos que pareciam infinitos. Finalmente, arrisquei um olhar para ele e sua expressão não tinha mudado.

Ele me olhava com um misto de preocupação e aquele toque de diversão que me deixava confusa.

- Eu só... - murmurei, os dedos nervosos torcendo a barra da camiseta. - Eu não sei o que dizer. Não queria parecer... sei lá... boba.

Ele riu de novo, um riso suave, como se achasse graça na minha timidez.

- Você nunca é boba - disse, pegando outra uva do pote.

O silêncio entre nós se alongou, e eu sabia que Boris estava esperando por mais, por algo que eu simplesmente não conseguia admitir. Não agora. Meu coração batia tão rápido que parecia que ele podia ouvir, e minhas mãos continuavam suadas, torcendo a barra da camiseta, como se aquilo fosse me acalmar de alguma forma.

Eu gostava dele. Talvez mais do que deveria, mais do que estava pronta. Mas como eu poderia dizer isso? Admitir que eu sentia algo por ele era como abrir uma porta para um turbilhão de incertezas que eu não estava pronta para enfrentar. Além disso, ele estava ali, rindo, achando graça em como eu estava tímida, e isso só tornava tudo mais complicado.

Ele me olhava com aqueles olhos que pareciam sempre saber mais do que ele dizia.

- Sério, o que tá passando pela sua cabeça? - ele perguntou, a voz mais suave agora, quase um sussurro. Ele se inclinou um pouco mais, o rosto tão perto que eu podia sentir a leve fragrância de sabonete e o cheiro doce das uvas.

Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos que rodopiavam na minha mente. Eu não podia dizer. Não ainda.

- Não é nada - murmurei, a voz baixa, quase inaudível. - Só estou... pensando.

Boris franziu a testa, claramente não convencido, mas não insistiu. Em vez disso, ele pegou outra uva e, com um gesto inesperado, a estendeu para mim, dessa vez com um sorriso suave, sem o tom brincalhão de antes.

- Aqui - disse, como se aquilo pudesse quebrar o gelo que se formava ao meu redor. - Vai, come de novo. Elas fazem você pensar melhor.

Eu ri, um riso curto, mas peguei a uva. Mordi devagar, mais para ganhar tempo do que qualquer outra coisa, enquanto ele me observava com aquela paciência que só Boris parecia ter.

Eu sabia que ele percebia que havia algo mais, que meus silêncios e respostas curtas escondiam algo maior. Mas eu também sabia

𝐜𝐡𝐚𝐫𝐦! boris pavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora