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— Por que me chamou aqui? — perguntei, sentando-me na cadeira em frente à diretora. O couro estalou sob o meu peso, e eu senti um frio na barriga enquanto olhava para o rosto severo à minha frente.

Do lado, uma monitora, mais nova, me encarava, os braços cruzados, como se estivesse ali apenas para observar e confirmar qualquer decisão que a diretora tomasse.

— Bem — começou a diretora, ajeitando os óculos e me olhando por cima deles. — Andei analisando os relatórios das atividades, e percebi que seu nome quase não consta em nenhuma delas.

Minha respiração falhou por um segundo. Ela estava certa. Eu sabia disso. Quase todas as tardes, enquanto os outros participavam das oficinas, eu me escondia no quarto, lendo ou vagando pelo acampamento. Na maior parte do tempo, seguindo Boris.

— Tem algum problema? — ela perguntou, arqueando as sobrancelhas de forma inquisitiva.

Eu sentia o peso do olhar das duas sobre mim. O coração começou a bater mais forte. Não queria falar sobre isso, não queria que ninguém soubesse o porquê de eu evitar aquelas atividades.

— Não... — respondi, tentando manter a voz firme. — Mas perceba... nós oferecemos várias opções, o dia todo — continuou a diretora, sua voz adquirindo um tom de paciência forçada, como se estivesse conversando com uma celebridade que precisava de tratamento especial.

— Tá... — murmurei, balançando a cabeça e mordendo o lábio inferior. — Vou arrumar algo. Vou... participar mais.

A monitora trocou um olhar breve com a diretora, como se estivessem esperando algo mais de mim, algum tipo de justificativa. A diretora inclinou-se levemente na cadeira, entrelaçando os dedos sob o queixo.

— Eu estou ciente do que aconteceu ano passado, senhorita Hockstetter — disse ela, de repente, num tom mais baixo, como se aquilo fosse algum segredo delicado. — Mas esperamos que você possa superar isso.

Soltei um suspiro longo, apertando os dedos sobre o colo. Meu peito se contraiu com a menção do "ano passado". Não acreditava que aquele assunto voltaria à tona mais uma vez, como se tudo o que acontecera pudesse simplesmente ser "superado" com algumas atividades em grupo.

— Não se trata do que aconteceu ano passado — respondi, talvez mais rispidamente do que pretendia. A monitora me olhou de lado, o rosto impassível, mas eu podia sentir seu julgamento pairando sobre mim.

A diretora manteve seu tom calmo, como se ignorasse a minha reação.

— Talvez você não goste das atividades em grupo, o que é compreensível. Nem todos se sentem confortáveis com a interação o tempo todo. Mas temos várias opções individuais... — ela continuou, folheando alguns papéis sobre a mesa como se estivesse prestes a me oferecer uma solução mágica. — Pintura, escrita criativa, até mesmo jardinagem. Algo que você possa fazer sozinha, no seu próprio ritmo.

Eu forcei um sorriso, mas por dentro, tudo que eu queria era sair dali. Aquela conversa estava me sufocando. Participar de atividades? Fazer jardinagem? Como se isso fosse me ajudar de alguma forma?

— Obrigada — disse, tentando encerrar o assunto. — Eu vou... tentar me inscrever em algo.

A diretora inclinou-se levemente para frente, sua expressão suavizando.

— Queremos que você aproveite o acampamento, Hockstetter. Não estamos aqui para pressionar ninguém, mas... é importante que todos participem. Sabemos que você pode encontrar algo que goste.

A monitora finalmente falou, sua voz baixa e firme.

— E, se precisar de ajuda com alguma coisa, estamos aqui. Não hesite em procurar a gente. O acampamento pode ser uma ótima oportunidade para se reconectar.

Eu sabia que ela queria dizer "reconectar com as pessoas", mas, sinceramente, a única pessoa com quem eu queria me conectar era Boris, e isso estava longe de ser um "projeto de grupo" que elas pudessem organizar.

— Certo... — murmurei de novo, sentindo que o peso da conversa aumentava a cada minuto. Me levantei, pronta para sair daquela sala sufocante.

Antes que eu pudesse abrir a porta, a diretora me chamou de volta.

— Hockstetter. Só mais uma coisa.

Me virei lentamente, esperando pelo próximo sermão.

— Não se esconda. Não deixe que o que aconteceu te defina.

Eu balancei a cabeça de forma automática, sem realmente processar as palavras. Saí da sala, o coração ainda batendo rápido. O que ela sabia sobre isso? O que elas entendiam sobre o que eu estava passando?

𝐜𝐡𝐚𝐫𝐦! boris pavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora