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Eu e Boris estávamos caminhando pela floresta, de manhã cedo. O sinal tocou, sinalizando que era hora de sair dos dormitórios, e nós dois estávamos prontos para mais um dia no acampamento. O sol começava a despontar, filtrando-se pelas copas das árvores e aquecendo o ar fresco da manhã. O cheiro da terra molhada e das folhas verdes era revigorante, mas havia algo no ar que me fazia sentir um aperto no peito.

Ele andava ao meu lado, seu rosto animado enquanto falava sobre um dos seus filmes favoritos: "Edward Mãos de Tesoura". Seus olhos castanhos brilhavam intensamente, mas havia uma tristeza sutil neles que eu não conseguia ignorar. Boris se tornava mais atraente quando falava sobre algo que realmente amava, mas, ao mesmo tempo, percebia que havia um eco de solidão nas palavras dele.

— As pessoas só veem o Edward como um monstro, mas ele é muito mais do que isso — disse ele, seu tom profundo e reflexivo capturando minha atenção. — Ele representa a solidão, sabe? É um artista que quer se conectar, mas que acaba machucando as pessoas, mesmo que sem querer.

Enquanto ele falava, uma parte de mim se sentia estranha. Edward era um reflexo perfeito de Boris, que, assim como o personagem, havia se mudado para a cidade e se tornara uma figura "estranha" aos olhos dos outros. Havia algo fascinante nele, uma aura de mistério que atraía as pessoas, mas também o isolava.

E a forma como eu me esforçava para me encaixar, mas sempre parecia estava há um passo atrás, me perdendo nas minhas próprias inseguranças.

— O que mais me toca é como Burton mostra esse contraste entre o mundo colorido ao redor dele e a escuridão que o "Eddie" carrega. Porque ele só quer ser aceito... Isso me faz pensar sobre todos nós, sobre como, às vezes, somos sentenciados antes de sermos realmente conhecidos — ele disse, parando para olhar as árvores ao nosso redor, como se estivesse buscando algo a mais na natureza.

Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras e refletindo sobre a vida de Boris. Era triste pensar que ele poderia se sentir como Edward, sempre um pouco deslocado, sempre ansioso por aceitação. Havia um peso em suas palavras, e eu me perguntava se ele sabia que também havia algo belo na sua estranheza, uma beleza que muitos não conseguiam ver.

— Se eu pudesse fazer algo como o diretor...— continuou ele, a voz carregada de emoção —, eu adoraria contar histórias que mostram a beleza na imperfeição. Eu quero que as pessoas sintam algo ao assistir, que se vejam nas histórias.

O jeito como ele falava me deixava intrigada e, ao mesmo tempo. Era como se Boris estivesse revelando partes de si mesmo, desnudando suas inseguranças em cada frase. Ele não era apenas bonito; havia uma sensibilidade que fazia meu coração acelerar, mas também um medo de que ele nunca encontrasse seu lugar no mundo.

Ele era como eu.

Enquanto continuávamos a caminhar, envolvidos pela beleza melancólica da floresta, o sol brilhando nas folhas parecia um contraste gritante com a escuridão que eu sentia em meu coração. E, naquele momento, percebi que o verdadeiro filme da vida dele era mais complexo do que qualquer história que Burton pudesse contar.

𝐜𝐡𝐚𝐫𝐦! boris pavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora