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— Minha lindinha... — a voz suave da minha avó ecoou no quarto enquanto ela me abraçava apertado, envolvendo-me em seu calor e conforto. O mundo ao meu redor estava desmoronando, e eu sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, como se não houvesse fim para a dor que me consumia.

Eu tinha passado o caminho todo chorando, a pressão no peito tornando cada respiração um desafio. A lembrança do vídeo que vazou, de mim e de Boris, se repetia na minha mente como um eco cruel. O que antes era um momento especial agora se tornara um pesadelo.

— Não... isso... Vovó... — minha voz falhava entre as lágrimas, as palavras saindo em soluços descontrolados. Era como se o ar tivesse desaparecido, como se eu estivesse afundando em um mar de vergonha e desespero. Não conseguia entender como tudo tinha acontecido tão rápido, como algo tão pessoal havia se tornado uma cena exposta para todos.

— Shhh, querida, estou aqui — ela murmurou, segurando minha cabeça em seu ombro, o cheiro familiar do seu perfume me acalmando um pouco, embora a tempestade dentro de mim continuasse. — É só um vídeo, um momento. Você é muito mais do que isso.

O abraço dela era um refúgio, mas a dor que eu sentia parecia tão intensa que não conseguia enxergar além do presente. Pensava em como todos estavam falando de mim, como os olhares tinham mudado. Era como se o mundo tivesse se voltado contra mim, e a ideia de ser julgada por algo tão privado era devastadora.

— Eu não sei o que fazer, vó... — murmurei, meu rosto enterrado em seu colo, as lágrimas manchando sua blusa. — Estou tão envergonhada... como eles puderam fazer isso comigo?

— Escute, meu amor, o que importa é quem você é, não o que outros pensam — minha avó disse, sua voz firme e cheia de amor. — As pessoas falam, mas você tem que se lembrar que tem o apoio da sua família, e isso é o que realmente importa.

Eu tentei absorver suas palavras, mas o peso da situação ainda me esmagava. Lembrei do olhar de Boris quando ele soube do vídeo, o jeito como sua expressão se transformou em preocupação e desespero. Será que ele estava tão machucado quanto eu?

— E se eles nunca pararem de falar? — Perguntei, levantando a cabeça para olhar em seus olhos, buscando alguma certeza que aliviasse meu medo.

— Com o tempo, as coisas vão se acalmar. Lembre-se de que o que importa é como você se vê e como você se sente em relação a si mesma. Você não está sozinha, S/N. Nunca esteve — ela disse, acariciando meu cabelo com ternura.

A sensação de estar segura em seus braços era um consolo, mas a insegurança ainda persistia. Eu queria acreditar que, eventualmente, tudo ficaria bem, mas por agora, apenas o calor do seu abraço e suas palavras gentis eram suficientes para me ajudar a enfrentar o que estava por vir.

[...]

Mas que droga você tem na cabeça? — meu pai gritou do outro lado da linha, e sua voz raivosa cortou o ar como uma faca afiada.

A vontade de chorar começou a surgir de novo, um nó apertando minha garganta. Era a primeira vez em meses que ele falava comigo, e o tom de reprovação era insuportável.

— Eu não tive culpa! — tentei explicar, mas a frustração transbordava na minha voz, misturada à indignação.

Mas você entende a situação, não entende? — ele respondeu, a irritação evidente em cada palavra. — Você sabe que isso suja o meu nome, suja nossa família! E agora, a cidade inteira está falando!

O peso da responsabilidade parecia esmagador, e eu queria me afastar de tudo isso. O que havia acontecido não era só sobre mim; afetava toda a minha família, especialmente ele, que era o prefeito. As consequências da minha vida pessoal estavam agora refletindo na política, e isso só tornava tudo mais difícil de suportar.

— Eu não pedi para isso acontecer! — minha voz aumentou, e quase não saía.

— Você precisa entender que cada ação tem consequências. E você só está colocando tudo a perder pela segunda vez!

Era como se eu estivesse diante de um tribunal, sendo julgada por um crime que não cometi. Eu queria desligar o celular, mas algo dentro de mim ainda buscava a aprovação dele, mesmo que essa busca fosse um fardo. O desespero e a tristeza ameaçavam me engolir, e a raiva estava se transformando em impotência.

Isso não é uma piada, S/N! — ele explodiu.

Com o coração disparado, eu olhei pela janela do meu quarto, observando as árvores balançando ao vento, como se elas soubessem o que eu estava sentindo. Queria me desligar daquela conversa, daquela pressão insuportável.

— Eu não vou ficar mais ouvindo isso! — eu disse, não aguentando mais. —

S/N, não desligue! — ele implorou, mas eu já tinha apertado o botão.

O silêncio do meu quarto me envolveu, e eu deixei as lágrimas escorregarem pelo meu rosto. Eu estava sozinha, mas era melhor do que continuar a ouvir a desaprovação de alguém que não conseguia ver além da sua imagem pública.

𝐜𝐡𝐚𝐫𝐦! boris pavlikovskyOnde histórias criam vida. Descubra agora