23 - Plutão

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O ponteiro dos segundos no relógio tiquetaqueava alto, cada som ecoando pela sala. A pressão ao meu redor parecia estar aumentando, quase sufocante. Agora eram seis e meia. Miriam e eu estávamos sentadas frente a frente no apartamento e, desde o nosso confronto na emissora de TV, mal tínhamos falado.

Eu queria começar uma conversa, mas não sabia o que dizer. Estava com medo de que ela terminasse comigo.

— Quer uns bolinhos?

— Não vamos terminar!

A pergunta e a resposta não combinavam muito bem. Miriam hesitou um pouco após minha resposta inesperada.

— Não terminar, então.

— É isso?

— Sim.

— Isso não está certo — Murmurei, olhando ao redor nervosamente. — Você deveria ficar brava, você deveria explodir! Minha mãe está no conselho de diretores da sua empresa.

— Ser rica é crime?

— Mas eu pedir para meu pai comprar ações do Canal S só para mudar seu horário de trabalho para que você pudesse voltar para casa mais cedo e não viajar a trabalho. Mas, em vez disso, ela usou seus direitos de acionista majoritária para cancelar seu programa... Isso não é irritante?

— Sinceramente? Não, não estou bravo.

— Mas eu mentir.

— Você não mentiu; você simplesmente não contou. Além disso, eu não sabia que sua mãe estava no conselho. Estou mais chocada com o quão rica você deve ser para comprar essas ações e entrar para o conselho tão rapidamente. Você é como um personagem de um drama de TV.

"..."

— Você é muito legal — Miriam fez beicinho, jogando um pouco de água do copo para mim em uma bronca brincalhona. — Todo mundo no trabalho provavelmente acha que consegui meu emprego por meio de conexões.

— Bem, tecnicamente, foram conexões, conexões de sopa de macarrão! Achei que você ficaria mais brava, como uma heroína de TV que segue seus princípios.

— Isso é ficção. No mundo real, quem não gosta de pessoas ricas? As heroínas da TV são apenas personagens idealizadas. Eventualmente, todos nós procuramos alguém financeiramente estável como parceiro. Ninguém quer lutar. — Miriam riu, olhando para mim como se estivesse prestes a derreter. — Não acredito que você fez tudo isso por mim.

— Bem, já que você não sabia, eu pedi um avião para minha mãe, mas ela disse não.

— Pare de brincar.

"..."

— Espere, você está falando sério? — Os olhos de Miriam se arregalaram em choque genuíno. — Você é realmente a criança que pode comprar o que quiser, hein?

— Sim — Sorri, sentindo-me um pouco orgulhosa. — Eu estava preocupada que você ficaria brava comigo por me dar tanto prazer.

— Você se dá tanto prazer, mas é fofa demais para ficar brava. Você é realmente perfeita. — Miriam riu, olhando para mim de brincadeira.  — Tem mais alguma coisa que você não me contou? Primeiro, você me disse que teve uma perda de memória estranha e temporária, e agora você está praticamente no conselho de diretores. O que vem depois?

— Eu te amo.

— Não é surpresa, e essa fala não funciona mais.

— Bem... tudo bem, eu vou te contar.

— O quê?

— Eu amaldiçoei aquele cara Toi para perder o braço.

Miriam olhou para mim, com os olhos arregalados como um personagem de desenho animado. Eu dei a ela um sorriso culpado, mas minha expressão só a fez cair na gargalhada.

GOD Vol.2 - Quando Deus tem amor Onde histórias criam vida. Descubra agora