🇹 🇴 🇶 🇺 🇮 🇴 , 2003O sol da manhã banhava o pátio do colégio, pintando de dourado as pétalas das flores que adornavam os canteiros. Reiko caminhava entre os alunos, um sorriso gentil nos lábios. Seus ferimentos haviam cicatrizado, mas as marcas daquela noite ainda pesavam em seu coração.
A notícia da briga havia se espalhado rapidamente pela escola, e todos os olhares se voltavam para ela.
Sussurros e comentários a seguiam por onde quer que ela passasse. A maioria dos alunos a olhavam com pena, enquanto outros a evitavam, com medo dela.
Satoru estava sentado em um banco, observando Reiko de longe. Seus olhos azuis cintilavam com uma mistura de culpa e desejo.
Ele queria se aproximar dela, pedir desculpas, mas as palavras não saíam. A cada passo que ela dava em sua direção, ele se retraía, temendo afugentá-la de vez.
Nanami, ao perceber a tensão no ar, se aproximou de Satoru.
– Você deveria ir falar com ela, Gojo. – disse, sério. – Ela precisa entender o seu lado da história.
– Eu não tenho o direito de pedir perdão, Nanami. – respondeu Satoru, com a voz baixa. – Eu fui um idiota.
– Vocêé um idiota.– insistiu Nanami. – Mas se você não tentar consertar as coisas, vai perdê-la para sempre.
Satoru suspirou, mas continuou sentado, imóvel.
Enquanto isso, Reiko se dirigia para a sala de aula, acompanhada de Suguru.
Ele havia sido uma presença constante em sua vida nos últimos dias, cuidando dela e a protegendo. Suguru sabia que Reiko precisava de um amigo, e ele estava disposto a ser esse amigo.
– Você está bem? – perguntou Suguru, notando a tensão em seus ombros.
Reiko forçou um sorriso. – Sim, estou. Obrigada por tudo, Suguru.
– Não precisa me agradecer. – respondeu ele, gentilmente. – Sou seu amigo.
Ao entrar na sala, Reiko sentiu todos os olhos voltados para si.
Ela procurou por Satoru com o olhar, mas ele não estava lá. Um nó se formou em sua garganta. Ela queria tanto que ele estivesse ali, ao seu lado, mas sabia que isso era pedir demais.
As aulas se passaram em um borrão. Reiko tentava se concentrar nos estudos, mas seus pensamentos sempre voltavam para Satoru.
Ela o amava, mas também estava magoada.
Será que ele sentia o mesmo?
No final do dia, enquanto caminhava para casa, Reiko se sentia perdida. Ela não sabia o que fazer mas ao chegar em casa, encontrou uma carta sobre a mesa.
Ao abri-la, leu as palavras de Satoru, escritas com a letra cuidadosa que ela tanto conhecia.
Nela, ele pedia perdão por tudo o que havia feito e a convidava para conversar.
Querida Reiko,
"Sei que não há desculpas suficientes para o que fiz. A dor que te causei ecoa em mim a cada segundo. A raiva que me cegou naquele dia me fez cometer um erro imperdoável.
Sei que você precisa de tempo e espaço, e que minhas palavras podem soar vazias neste momento. Mas preciso que você saiba que nunca quis te machucar. Você é a única pessoa que me faz sentir vivo, a única que me faz sorrir de verdade.
Eu sei que te amo, Reiko. Sei que isso pode soar confuso, considerando tudo o que aconteceu. Mas meus sentimentos por você são verdadeiros e profundos. Aquele dia foi um momento de fraqueza, uma explosão de raiva que me levou a agir de forma impulsiva.
Quero muito ter a chance de conversar com você, de olhar nos seus olhos e pedir seu perdão. Sei que será difícil, mas preciso tentar. Se você me der essa oportunidade, prometo que farei de tudo para te mostrar que você significa tudo para mim.
Com todo o meu amor,
Satoru"
Reiko terminou de ler a carta, um sorriso irônico se formando em seus lábios.
Abaixou o papel e, com a cabeça levemente inclinada para o lado, murmurou para si mesma:
"Aposto que quem escreveu isso foi o Nanami."
A lembrança da expressão séria de seu amigo ao tentar convencê-la a conversar com Satoru a fez sorrir de novo.
Conhecendo Kento como conhecia, não era difícil imaginar o amigo arquitetando todo aquele plano para aproximá-los.
Reiko sentia um turbilhão de emoções dentro de si.
Por um lado, tinha Toji, o homem que a fazia sentir como se fosse a única mulher no mundo. Seus gestos, suas palavras e, acima de tudo, a intensidade com que a amava a faziam sentir desejada e protegida. Ele era decidido, maduro e tinha planos para o futuro, inclusive o de se casar com ela. Ao lado de Toji, ela se sentia segura, como se estivesse em casa.
Por outro lado, havia Satoru. Aquele garoto, com seus olhos azuis intensos e seu sorriso encantador, havia despertado algo dentro dela que ela nunca havia sentido antes. Aquele primeiro encontro, aquela noite... tudo havia sido tão intenso e avassalador.
Mas, após aquele surto de ciúmes e violência, a imagem de Satoru como aquele príncipe encantado começou a se desfazer. Ele parecia mais um menino mimado e imprevisível do que um homem de verdade.
A confusão em sua mente era imensa.
Amava Toji, sentia-se segura e protegida ao lado dele. Mas uma parte de si ainda se sentia atraída por Satoru, por aquela paixão intensa e avassaladora que ele despertava.
Aquele lado selvagem e imprevisível de Satoru a fascinava ao mesmo tempo em que a assustava.
No fundo, Reiko sabia que confiava mais em Toji. Ele era mais maduro, mais responsável e tinha um amor por ela que transcendia qualquer desejo físico.
Já Satoru, com seus ciúmes e seus surtos, parecia mais motivado por um sentimento de posse do que por um amor verdadeiro.
Aquele sentimento de posse, aliás, era algo que a incomodava profundamente.
A noite que passaram juntos, aquela noite que deveria ter sido mágica, havia se transformado em um pesadelo quando Satoru havia explodido de ciúmes. Parecia que para ele, ela era apenas um objeto a ser possuído, e não uma pessoa com seus próprios desejos e sentimentos.
Reiko sabia que precisava tomar uma decisão, mas a confusão em seu coração a impedia de seguir em frente. Amava os dois homens, mas por motivos diferentes. E a cada dia que passava, a decisão se tornava mais difícil.
Ainda assim, a carta de Satoru a havia tocado de uma forma que ela não esperava. As palavras sinceras e o pedido de perdão ecoavam em seus ouvidos.