- NARRADORA.Dois meses depois..
16h25
O céu está coberto por uma densa camada de nuvens cinzentas, e uma brisa suave percorre os caminhos do cemitério, levando folhas secas que dançam em um balé melancólico. Samanun caminha entre os túmulos, os olhos fixos no chão, enquanto seus pensamentos a envolvem como um manto pesado. É um daqueles dias em que a luz parece se esconder, e a tristeza paira no ar, como se o próprio lugar estivesse em luto.
Ela chega ao túmulo do pai, um monumento elegante e perfeitamente detalhado. As flores que deixou na semana anterior já murcham, e Samanun se agacha para substituir as flores secas por um pequeno buquê de margaridas brancas. São suas flores favoritas, e o contraste entre a delicadeza das pétalas e a dureza do mármore a faz sentir uma dor aguda no peito.
Os meses que se passaram desde sua morte não suavizaram as bordas afiadas das lembranças. O passado vem à tona em flashes - gritos, silêncios pesados, olhares de desprezo. O pai, que nunca viu em Samanun mais do que uma extensão de suas próprias frustrações, permanece agora em um caixão coberto por flores murchas. Ela observa a terra fresca, o marcador escuro e liso com seu nome gravado, como se ele ainda pudesse dominar o espaço mesmo na morte.
Samanun não sabe o que esperar desse momento. A sociedade espera que ela sinta a perda, a dor pela ausência. Mas ela não sente isso. Em vez disso, um alívio sutil a envolve, um espaço recém-descoberto para respirar. Ela não precisa mais justificar suas escolhas, não precisa mais se desdobrar em busca de aprovação que nunca veio. E, paradoxalmente, essa liberdade a assusta.
A verdade é que Samanun não conheceu o amor paternal. Desde pequena, suas interações eram marcadas por críticas e expectativas irreais. Ele nunca se preocupou com seus interesses, suas conquistas eram apenas uma oportunidade para ele exibir o que considerava um sucesso. E quando ela falhou, o silêncio era o mais pesado dos castigos. Aqueles anos de ressentimento se acumulam em sua mente, criando um peso que ela se pergunta se conseguirá liberar.
Ela se aproxima da lápide, observa como o nome dele está gravado em letras de bronze. As palavras saltam para ela, e ela se lembra das ocasiões em que ele a chamava pelo nome, não com carinho, mas com um tom de desapontamento. Samanun ri sem humor. Para ele, ela sempre foi uma decepção, um reflexo de tudo o que ele não queria que ela fosse.
- Você se foi, pai. - ela diz em voz alta, sem se preocupar com quem poderia ouvir. - E agora, o que isso muda ? Para você, nada. Para mim, talvez tudo. - ela respira fundo. - Sabe.. depois que o senhor morreu, eu fiquei todos os dias me questionando o porquê de eu estar triste pela morte de um homem que sempre me tratou como um lixo humano.. - ela pausa, enquanto umedece seus lábios com sua língua. - Mas eu lembrei que, apesar de tudo que nós passamos, eu ainda sou a.. sua filha. Confesso que, mesmo o senhor tendo me tratado como se eu fosse apenas um brinquedo, eu ainda sim o amava.. E no fundo, eu queria que você sentisse o mesmo por mim. - Samanun se expressa, sentindo as lágrimas começando a surgir mas logo impediu que elas caíssem. - Porra, pai ! Era tão difícil assim demonstrar nem que seja um pouquinho de carinho por mim ?! Tudo que eu queria as vezes, era poder sentir seus braços em volta de mim enquanto o senhor me dizia que tinha orgulho de mim.. Por que decidiu me enxergar como um erro e não como a sua filha ? - ela respira fundo, fechando seus olhos com força para evitar que seus olhos se marejassem. Ela sente um nó se formando em sua garganta, lhe fazendo sentir aquela sensação que ela tanto odeia. - Eu fiz de tudo, de tudo mesmo, para agradar você. E a única coisa que você fez, foi simplesmente jogar todas suas frustrações sobre mim e arruinar a porra da minha vida. Mas mesmo assim.. eu sempre o enxerguei como o meu pai, mesmo você sendo tudo menos isso.. ainda sim, esperava algo de você.
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Meu Amor • Monsam
RomanceSamanun Anuntrakul, uma mulher de 29 anos e futura herdeira da empresa de seu pai, enfrenta a pressão de se casar para cumprir as exigências dele. Por outro lado Kornkamon Phetpailin, uma mulher de 26 anos e amante do dinheiro, possuía como passate...