Capítulo 21

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A melodia lenta arrastava Sayuri para um poço sem fundo que sua cama havia se tornado para ela. Sua noite havia sido marcada por pesadelos onde ela via Gaara sem vida em seus braços. Nem mesmo ela sabia o quão traumática havia sido ver o amor de sua vida morrer e não poder fazer nada. Ele estava vivo e ela sabia disso. Então por sua mente vivia lhe pregando peças e a fazendo reviver aquele momento milhares de vezes.

A cama estava fria e a música que tocava em seu rádio não ajudava em nada. Aparentemente sua playlist era marcada por músicas tristes ou melancólicas, o que com certeza não melhorava em nada o seu humor.

Era pra terem me internado
(I was supposed to be sent away)

Mas esqueceram de vir me buscar
(But they forgot to come and get me)

Eu era uma alcoólica funcional até que ninguém
(I was a functioning alcoholic till nobody)

Notou o meu novo estilo
(Noticed my new aesthetic)

Ainda que a música não tivesse nenhuma relação com sua vida naquele momento, a melodia triste a fazia mergulhar em uma crise existencial e ela se sentia como o eu lírico da música. Ela era uma alcólatra que passava seus dias bêbada em suas piores lembranças. Desde que Gaara foi sequestrado, Sayuri não se sentia mais a mesma. Ela questionava suas habilidades e se sentia de alguma forma abandonada em meio às suas próprias dúvidas e... como ninguém sabia da existência delas, ninguém nunca viera tirar Sayuri dali. Ela não culpava a ninguém senão a si mesma.

Todas as minhas manhãs são segundas-feiras
(All my mornings are Mondays)

Estou presa em um fevereiro sem fim
(Stuck in an endless February)

Eu tomei a pílula milagrosa para seguir em frente
(I took the miracle move-on drug)

Os efeitos eram temporários
(The effects were temporary)

Sayuri forçou-se a levantar da cama e se sentou, olhando para as próprias mãos como se não as visse ali. Por um momento ela não se sentiu ela mesma. Era um espaço vazio em meio aos átomos que formavam aquele universo. Uma finitude em meio ao infinito que a rodeava. Que merda ela estava pensando? Sayuri odiava física e não entendia nada. Desde que Sakura lhe ensinara que a medida que se anda, nós empurramos o chão para trás para avançar para a frente. Não fazia sentido. Não, mas ela também não fazia sentido.

Olhou a horas, era oito da manhã e ela ainda estava na cama. Tinha que levantar e embora seus pés não quisessem responder a comando de seu cérebro, ela levantou e seguiu para o banheiro. Havia algo de errado com ela, constatou olhando seu reflexo no espelho. Ela sorriu e seu reflexo no espelho não retribuiu o gesto com um sorriso, ela ouviu o som de algo se quebrando. Era uma parte dela.

Sayuri não entendia. Tudo estava bem. Perfeito. Ela estava em casa. Sua família estava bem e ontem ela havia encontrado todos os seus amigos, mas algo faltava. Sua alegria a deixava pouco a pouco e seus pensamentos esmagavam seu seu coração que ela não sabia estar dolorido.

Sayuri entrou debaixo do chuveiro enquanto a música ainda tocava ao longe.

Thought of calling ya, but you won't pick up
‘Nother fortnight lost in America
Move to Florida, buy the car you want
But it won't start up till you touch, touch, touch me

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Atrasada — anunciou Neji quando viu Sayuri sair da casa e revirar os olhos para ele. — Como sempre.

— E como sempre: eu não perguntei nada— Sayuri forçou um sorriso quando começou a andar do lado dele.

Neji segurou o braço de Sayuri e ela se virou para ele, levemente confusa. Havia algo estranho em seu semblante e seus olhos estavam opacos, quase sem brilho.

Lovely Lily #2 - Sabaku No GaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora