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William chegou à base com o sangue fervendo. Apesar da raiva latente, sabia que precisava manter a compostura e fingir que não sabia de nada. Sua expressão era a de sempre — confiante, quase indiferente —, mas por dentro, ele preparava o psicológico para o que estava por vir. Era quase certo que o Comandante de Ala iria chamá-lo, especialmente depois do que Rob lhe contara sobre o relatório detalhado de Catherine.

Passando pelo corredor, sentiu o olhar de alguns colegas, que provavelmente já haviam ouvido murmúrios sobre o relatório. Era como se Catherine tivesse planejado cada palavra, cada detalhe, para complicar ainda mais sua situação. William sempre confiara em seu instinto, sempre soubera como contornar obstáculos, mas agora... ele se perguntava até que ponto isso poderia afetar seu avanço na hierarquia.

A possibilidade de perder essa chance ― uma promoção que ele vinha buscando há tempos ― por causa de um relatório minucioso e, ao seu ver, mal-intencionado, o deixava furioso. Não conseguia acreditar que, depois de tudo que tinham vivido nas últimas horas, Catherine ainda tivesse sido tão... profissional. Ele riu por dentro, um riso amargo. Profissional demais, talvez.

Mas ele era William Wales, e sabia que precisava manter a calma. Mesmo com toda a confiança que costumava exalar, sabia que um passo em falso agora poderia comprometer ainda mais sua posição.

Assim que entrou na sala de reuniões, viu o Comandante de Ala aguardando, com um semblante rígido. William respirou fundo, ajustando o uniforme e se preparando para a conversa. Finn o observou com uma expressão impassível e fez um leve aceno de cabeça.

― Capitão Wales, sente-se.

William cumprimentou o Comandante de Ala com um aceno formal e sentou-se à frente da mesa. Finn ajeitou alguns papéis antes de pousar o olhar diretamente sobre ele, o tom profissional e direto.

― Recebi dois relatórios sobre a operação envolvendo a aeronave russa, ― começou o Comandante, mantendo o tom estritamente formal. ― E ambos divergem em pontos críticos. O relatório que você submeteu menciona procedimentos de interceptação e tomada de decisão sob a sua perspectiva operacional. No entanto, ― ele pausou, levantando o segundo relatório. ― o relatório da torre de controle, assinado pela Controladora Middleton, detalha uma sequência de insubordinações e ignorância a protocolos diretos que, segundo ela, colocaram a equipe em risco.

William manteve a expressão neutra, mas a tensão aumentava. O Comandante Finn cruzou as mãos sobre a mesa e inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos avaliando cada reação dele.

― Capitão, preciso entender o que ocorreu nessa operação. Como sabe, qualquer diferença entre o relato da cabine e o da torre é grave, especialmente quando envolve decisões autônomas que desrespeitam as ordens do controle.

William assentiu, mantendo o tom respeitoso.

― Comandante Finn, acredito que minha decisão foi baseada no que considerei uma avaliação precisa da situação em tempo real. Eu estava ciente dos riscos, mas o comportamento da aeronave russa estava fora dos padrões previstos. Tomei a decisão de agir para proteger minha tripulação e a missão, mesmo sabendo que divergia do controle.

O Comandante estreitou os olhos, claramente ponderando a resposta.

― Entendo a pressão da cabine, Capitão, mas preciso lembrar que nossa política de cooperação entre cabine e torre é o pilar das nossas operações seguras. Middleton destacou que seus comandos diretos foram ignorados. Ela descreveu a situação como perigosa e evitável, afirmando que você prosseguiu sem coordenação.

William sentiu a irritação crescer, mas conteve-se. Sabia que o Comandante estava em busca de clareza, e qualquer deslize poderia piorar a situação.

TURBULÊNCIA ; 𝗐𝗂𝗅𝗅𝗂𝖺𝗆 𝖾 𝖼𝖺𝗍𝗁𝖾𝗋𝗂𝗇𝖾Onde histórias criam vida. Descubra agora