𝟎𝟐

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Um mês antes da transferência de Catherine para Brize Norton

Era véspera de feriado, e a base aérea onde Catherine ainda trabalhava estava agitada, com voos em curso e manobras sendo realizadas para garantir que tudo estivesse sob controle antes do encerramento das atividades do dia. Catherine estava na torre de controle, finalizando seu turno, quando recebeu uma comunicação de uma aeronave que parecia, à primeira vista, ser apenas mais um dos muitos voos da RAF em andamento.

Aqui é o Capitão Wales, pronto para decolagem. Solicito autorização para mudar o plano de voo e iniciar um treino adicional de combate aéreo.

Catherine suspirou, já sentindo que isso não seria fácil. A voz do Capitão tinha um tom autoconfiante que já a irritava antes mesmo de o verdadeiro problema aparecer. Verificando os protocolos e o plano de voo, ela viu que não havia autorização para nenhum treino adicional naquele horário. Com o tráfego aéreo intenso devido ao feriado, as manobras de William não só seriam imprudentes, como atrapalhariam todo o cronograma.

― Capitão Wales, aqui é a torre de controle. Seu plano de voo não permite esse tipo de manobra neste momento. Mantenha o curso e siga para o ponto de destino conforme programado. ― Sua voz era firme, sem deixar espaço para dúvidas.

Do outro lado, houve uma pausa. Catherine imaginou que ele estava digerindo a ordem, mas logo a resposta veio, carregada de confiança e, claro, desafio.

Torre, estou ciente do meu plano, mas vi uma oportunidade de testar uma manobra e acredito que posso realizá-la sem interferir no tráfego. Confie em mim, vai ser rápido.

Catherine revirou os olhos, frustrada. “Confie em mim?” Não em um dia como aquele, com o tráfego intenso e dezenas de aeronaves no ar.

Capitão Wales, isso não é uma questão de confiança. Você está colocando outras operações em risco ao desobedecer o plano de voo aprovado. Mantenha-se no curso ou precisarei reportar sua violação aos superiores.

O silêncio no rádio foi seguido por uma risada baixa, que soou alta e clara nos fones de Catherine, irritando-a ainda mais.

Reportar, hein? Tudo bem, Torre. Eu sou o responsável pela aeronave aqui. A segurança do voo está sob meu controle. A manobra será breve e estarei de volta ao curso em minutos. Você pode anotar isso no seu relatório, se quiser.

Catherine sentiu seu sangue ferver. Não acreditava que ele estava realmente fazendo isso. Ele não só estava desobedecendo diretamente suas ordens, como também estava claramente subestimando a importância da coordenação na torre. Ela apertou os punhos e se preparou para o que sabia que seria uma batalha verbal.

Capitão Wales, deixe-me ser clara: você não tem permissão para alterar o plano de voo. Se realizar a manobra, estarei obrigatoriamente registrando sua infração no sistema e relatando isso ao Comando. Isto não é uma questão de quem controla a aeronave, mas sim de seguir os protocolos da base.

Agora era a vez de William sentir a tensão. Mesmo assim, sua voz voltou pelo rádio com o mesmo tom provocador.

Torre, já ouvi falar que controle de solo pode ser um pouco rígido, mas você está levando a coisa longe demais. Olha, se eu não fizer isso agora, vou perder uma oportunidade rara de treino. Confie na minha habilidade. Eu sei o que estou fazendo.

Catherine se inclinou para a mesa, apertando o botão de transmissão com mais força do que o necessário. Seu tom era gélido.

E eu sei o que estou fazendo, Capitão. Essa não é uma questão de habilidade. Se você não seguir as ordens agora, eu mesma enviarei o relatório completo sobre a sua insubordinação, com detalhes. O espaço aéreo é regulado por um motivo, e você não está acima dessas regras, não importa quão bom piloto pense que é.

TURBULÊNCIA ; 𝗐𝗂𝗅𝗅𝗂𝖺𝗆 𝖾 𝖼𝖺𝗍𝗁𝖾𝗋𝗂𝗇𝖾Onde histórias criam vida. Descubra agora