A Despedida

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A casa estava mais silenciosa do que o normal naquela manhã. O som suave das malas sendo arrumadas ecoava pelos cômodos, mas parecia uma melodia triste, como se o próprio ar estivesse retido, esperando o momento de se liberar. Aki estava no seu quarto, de frente para a mala aberta, enquanto guardava as últimas coisas que levaria para os Estados Unidos. Ela tentava manter as mãos firmes, apesar de sentir o peso do momento em cada movimento.

O relógio na parede marcava que o tempo estava se esgotando. Cada segundo era como uma batida no peito de Haru, que estava parado na porta do quarto de Aki, observando-a com um misto de emoções. Ele queria ser forte, queria estar ao lado dela nesse momento, mas as palavras pareciam falhar-lhe na garganta. A única coisa que ele conseguia fazer era ficar ali, observando a bagagem dela, como se ela estivesse carregando também todo o futuro incerto dos dois.

Aki olhou para ele, seus olhos, normalmente tão confiantes, agora carregados de uma tristeza profunda, mas também de uma força silenciosa.

— Você está bem? — perguntou Haru, tentando esconder o tremor na voz.

Aki assentiu, embora seu sorriso fosse suave, quase imperceptível.

— Eu estou... só... pensando. — Ela suspirou, olhando para a mala. — Não consigo acreditar que já chegou a hora. Vai ser tão difícil.

Haru deu um passo à frente, sem saber o que mais dizer. Ele sabia que não podia impedir a viagem de Aki, sabia que ela tinha suas razões, mas isso não tirava o aperto no peito.

— Vai ser difícil para os dois. — Haru falou, a voz carregada de uma sinceridade dolorosa. — Mas... eu só quero que saiba que... vou sentir tanto a sua falta.

Aki ficou em silêncio por um momento, o olhar dela se suavizando. Ela se aproximou dele, pegando suas mãos com delicadeza.

— Eu também vou sentir sua falta, Haru. Mais do que você imagina. — Ela olhou nos olhos dele, seus dedos apertando os dele levemente. — Mas isso não muda o que a gente tem. O que a gente é. Vamos superar isso. Eu sei que vamos.

A casa estava impregnada com uma quietude que parecia quase sobrenatural. O relógio na parede continuava a fazer seu tic-tac implacável, mas o tempo parecia fluir mais devagar agora, como se o universo estivesse relutante em deixar o momento passar. Haru e Aki estavam em silêncio, ainda na sala de estar, esperando que o inevitável acontecesse.

Yumi havia ido até a cozinha para dar mais um último olhar nas coisas que ela preparara para Aki levar. O tipo de gesto que só uma irmã faria — tentando encontrar uma forma de tornar a despedida mais fácil, mesmo que no fundo ela soubesse que isso não era possível.

Haru, por sua vez, estava parado ao lado de Aki, sentindo o peso da despedida pesar cada vez mais. Ele queria dizer algo mais, mas não sabia o que. As palavras pareciam pequenas demais diante de tudo o que ele sentia, e ele não queria que aquele momento fosse ainda mais doloroso.

Aki estava olhando pela janela, observando o céu lá fora. As nuvens passavam lentamente, como se elas também estivessem demorando para se mover, como se sentissem que aquele momento precisava de mais tempo. Ela parecia distante por um instante, como se estivesse olhando para algo além daquele quarto, além da casa, além de tudo o que eles estavam prestes a deixar para trás.

— Você vai sentir minha falta, não vai? — Aki perguntou de repente, a voz baixa, quase tímida. Ela se virou para ele, os olhos buscando alguma confirmação. — Sei que vou sentir sua falta, mais do que eu posso expressar. Mas... e você? Como vai ser para você?

Haru olhou para ela, o coração batendo forte. A dúvida estava ali, cravada como uma lâmina em sua mente. Ele queria ser forte, mas ao mesmo tempo, sentia uma fragilidade, como se cada palavra que ele dissesse fosse uma tentativa inútil de expressar algo que não poderia ser expresso.

— Eu... — ele começou, a voz falhando um pouco. Ele engoliu em seco, tentando organizar os pensamentos. — Eu vou sentir muita falta. Mas acho que... acho que vou sentir a falta de tudo. Não só de você, mas de quem eu sou quando estou com você. Eu... me sinto mais completo quando estamos juntos. Então, sim, vai ser difícil. Não sei se consigo colocar isso em palavras. — Ele riu fraco, tentando aliviar a tensão, mas logo a risa se dissolveu em um suspiro. — Mas, ao mesmo tempo, eu sei que você precisa ir. Eu entendo, Aki. E, apesar de tudo, eu quero que você vá. Só... vai ser um buraco aqui sem você.

Aki sorriu com os olhos, não com a boca, como se ela entendesse profundamente o que ele queria dizer. Ela deu um passo em direção a ele, colocando a mão no peito dele.

— Vai ser difícil para os dois. Eu sei disso. Mas, Haru, eu prometo que, quando eu voltar, a gente vai ter tempo para viver tudo o que não conseguimos agora. O que a gente tem é real. Eu sei que a distância vai ser um teste, mas não vou deixar que isso nos destrua. Eu te amo, e isso vai sobreviver a qualquer distância. Eu prometo.

Ela olhou profundamente nos olhos dele, como se estivesse tentando transmitir todo o seu amor através daquele olhar. Era um olhar carregado de dor, mas também de esperança. Ela queria que ele acreditasse nela, queria que ele soubesse que, mesmo na distância, ela carregaria ele consigo.

Haru não sabia se conseguia acreditar completamente naquele momento. Como poderia? Como poderia acreditar que algo tão forte quanto o que eles estavam vivendo agora sobreviveria a quilômetros de separação? Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que a esperança era tudo o que eles podiam ter.

— Eu quero acreditar. — Haru respondeu, a voz quase um sussurro. Ele tomou um fôlego, como se quisesse absorver cada palavra dela. — Eu quero acreditar, Aki, porque... porque eu não sei viver sem você.

Aki olhou para ele mais uma vez, e então, sem dizer mais nada, ela se aproximou e o abraçou. Era um abraço longo, como se ambos quisessem garantir que aquele momento durasse mais do que o tempo permitia. O calor do corpo dela contra o dele, o cheiro familiar de seu cabelo, o conforto do toque... tudo parecia fazer o tempo desacelerar, mas a realidade estava ali, chamando-os de volta.

— Vai ser só por um tempo. Eu vou voltar. — Ela sussurrou em seu ouvido. — E quando eu voltar, Haru, a gente vai fazer tudo certo. Vai ser como se o tempo não tivesse passado.

Haru não respondeu de imediato, apenas se permitiu ficar ali, abraçado a ela, tentando gravar aquele momento na memória. O mundo ao redor parecia desaparecer, e por um segundo, ele imaginou que talvez pudesse ser possível viver dentro daquele abraço para sempre, onde nada mais importava, onde apenas eles existiam.

Quando o momento finalmente se quebrou, Aki se afastou um pouco, seus olhos marejados, mas tentando manter a compostura.

— Eu preciso ir, Haru. — Ela disse, com um sorriso suave. — Não posso mais esperar.

Haru olhou para ela, o coração pesado. Ele sabia que o tempo estava se esgotando. Eles não podiam mais adiar o inevitável. A despedida estava prestes a acontecer.

Aki pegou sua mala e, com um último olhar, ela se dirigiu para a porta. Haru ficou parado ali, assistindo-a, sentindo como se um pedaço dele estivesse indo junto. Ele queria correr até ela, queria pedir para ela ficar, mas ele sabia que ela precisava disso. E, mais do que tudo, ele sabia que ele também precisava deixá-la ir.

Yumi apareceu na porta da cozinha, com um sorriso triste, mas tentando manter a leveza da situação. Ela sabia que não podia fazer muito mais para ajudar, mas tentou, mesmo assim.

— Ei, vai ficar tudo bem. — Yumi disse, com uma tentativa de suavizar o momento, mas sua voz também estava embargada. — Você vai voltar, Aki. Eu sei disso. E quando você voltar, vai ser como se nada tivesse mudado.

Aki sorriu para Yumi, a expressão suavizando. Ela se agachou para abraçá-la, apertando a irmã mais nova contra si.

— Eu vou voltar. E quando voltar, vou trazer panquecas para nós duas. — Ela brincou, tentando arrancar uma risada de Yumi, mas as palavras soaram como um alívio silencioso para ambas.

O carro estava parado lá fora, esperando. O momento havia chegado.

— Então, é isso. — Aki olhou para Haru mais uma vez. — Até logo.

Haru sorriu fraco, o sorriso cheio de dor, mas também de esperança.

— Até logo, Aki.

A porta se fechou atrás dela. O carro arrancou, e Haru ficou ali, parado no corredor, observando a casa que agora parecia vazia de um jeito que nunca sentiu antes.

Aki havia partido.

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