Destino Entre Linhas

Memórias em Cinzas

O céu acima de Haru parecia tão cinzento quanto os sentimentos que tomavam conta de seu coração. A cada dia que se aproximava da partida de Aki, a alegria que antes coloria seu mundo dava lugar a uma quietude densa, como se o próprio ar tivesse sido tingido pela ausência que ele ainda nem havia experimentado.

Ele caminhava lentamente pela cidade, absorvendo a paisagem que sempre lhe fora familiar, mas que agora parecia estranha, sem vida. As árvores, outrora verdes e cheias de vida, pareciam ter perdido o vigor. Cada detalhe que costumava passar despercebido agora se destacava, como se o ambiente ao seu redor estivesse espelhando o vazio em seu peito.

Haru parou por um momento, observando o reflexo de seu rosto em uma vitrine. Seus olhos carregavam um cansaço que ele não conseguia disfarçar, e a mente voltava insistentemente aos últimos momentos que passou com Aki. Ele conseguia quase sentir o calor dela, o conforto que seus sorrisos traziam, e por um instante, desejou que tudo não passasse de um pesadelo.

A imagem de Kaito então surgiu em sua mente, e Haru se recordou da promessa que havia feito. Aquela responsabilidade era o fio que o mantinha ligado a Aki, mesmo com a distância iminente. Cuidar de Kaito seria seu jeito de permanecer próximo dela, de não permitir que o amor que compartilhavam se perdesse entre as milhas que os separariam.

Mas enquanto continuava a caminhar, Haru percebeu o peso daquela promessa. Era algo mais profundo que ele jamais imaginou.

Enquanto Haru observava o céu cinzento, uma angústia silenciosa lhe atravessava o peito. Nos dias que antecediam a partida de Aki, ele esperava poder passar mais tempo ao lado dela, mas sabia que isso não era possível. Aki estava ocupada, organizando as malas e resolvendo detalhes para sua mudança. Cada pequeno item que ela guardava para a viagem parecia um passo a mais em direção ao inevitável. A distância entre eles não era só física, mas também emocional — ambos sentiam a tristeza silenciosa de um futuro incerto.

Mesmo sabendo o motivo da ausência de Aki, a realidade pesava sobre Haru, que tinha dificuldade em preencher os dias sem ela. Ele se esforçava para não interromper os preparativos, sabendo o quanto isso era importante para ela e para sua família. No entanto, a espera e o silêncio faziam o tempo parecer ainda mais lento, amplificando a sensação de vazio.

Haru vagava pela cidade, revisitando lugares que guardavam memórias com Aki. Cada esquina, cada banco de praça e cada pôr do sol agora eram marcados por lembranças que ele queria segurar, como se assim pudesse manter Aki perto de si.

Os dias se arrastavam, e Haru se sentia cada vez mais como um espectador em sua própria vida. As risadas que costumavam ecoar em seu coração agora eram apenas ecos distantes, abafados pelo peso da partida iminente. Ele tentava manter-se ocupado, mas a mente sempre o levava de volta a Aki e aos momentos que estavam perdendo.

Numa tarde especialmente cinzenta, Haru decidiu visitar a cafeteria onde costumavam ir. Ao entrar, foi recebido pelo aroma familiar de café fresco e doces, mas a sensação de conforto foi rapidamente substituída pela melancolia. O lugar parecia mais vazio sem a presença vibrante de Aki, e o canto em que costumavam sentar-se parecia gritar por sua ausência. Ele se sentou em uma mesa no canto, olhando pela janela enquanto a chuva começava a cair, criando uma dança triste nas vidraças.

Os pensamentos de Haru vagavam enquanto ele mexia na xícara de café. Por que Aki tinha que partir agora? Ele se questionava se havia algo que poderia ter feito para mudar essa situação. Seria egoísmo querer que ela ficasse apenas por causa dele? Mas a ideia de perder Aki era como um abismo que ele não sabia como enfrentar.

O telefone vibrou em seu bolso, quebrando o silêncio que o envolvia. Era uma mensagem de Aki. "Oi, Haru! Espero que esteja bem. Estou quase terminando de arrumar tudo, e sinto tanto a sua falta." Aquelas palavras, simples e sinceras, fizeram o coração de Haru apertar. Ele respondeu rapidamente, tentando esconder a dor que sentia. "Oi! Estou aqui, pensando em você. Se precisar de ajuda, é só me chamar."