Entre Memórias e Presenças

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O céu estava encoberto por nuvens espessas, como se até mesmo o tempo estivesse em luto pela ausência de Aki. Haru caminhava lentamente pela rua, as mãos nos bolsos, os pensamentos pesados demais para serem deixados para trás. A casa de Aki não estava longe, mas cada passo em direção a ela parecia mais difícil do que o anterior.

Ele sabia que precisava ir. Havia prometido cuidar de Kaito enquanto Aki estivesse fora, e Haru era alguém que levava suas promessas a sério. No entanto, o medo de entrar naquela casa o consumia.

— Como vou lidar com isso? — murmurou para si mesmo, chutando uma pedra no caminho.

A última vez que esteve ali, Aki ainda estava por perto. A casa tinha um cheiro que era só dela, um misto de lavanda e algo mais suave, como o calor de um abraço. Haru se perguntava se aquele aroma ainda estaria lá, impregnando os móveis, as cortinas... ele não sabia se seu coração suportaria isso. Cada canto da casa certamente traria memórias — algumas doces, outras dolorosas. Ele temia ser engolido por essas lembranças, temia que elas fossem fortes demais para que ele conseguisse se concentrar no motivo real da visita: Kaito.

Kaito... Ele também devia estar sentindo a ausência de Aki, talvez até mais profundamente do que Haru. O irmão mais velho de Aki era alguém reservado, que sempre mantinha uma postura firme e um olhar tranquilo, mas Haru sabia que, por trás da fachada, havia um coração tão sensível quanto o de Aki.

"Preciso estar lá para ele", pensou Haru, respirando fundo para reunir coragem.

Ao virar a última esquina, a casa de Aki finalmente apareceu à sua frente. O portão de madeira branca estava ligeiramente entreaberto, como se o ambiente todo estivesse esperando pela chegada de alguém que nunca viria.

Ele parou por um momento, encarando a casa. O som de um vento suave balançando as árvores ao redor preenchia o silêncio, mas Haru não conseguia se mover. Sua mente começou a revisitar memórias — ele e Aki rindo na varanda, ela insistindo para que ele provasse seu bolo experimental, as noites em que ele saía tarde e ela ficava acenando na porta até ele desaparecer da vista.

— Você consegue, Haru. É só uma visita... — disse para si mesmo, tentando se convencer.

Finalmente, ele empurrou o portão e entrou, o som do ranger ecoando em seus ouvidos como uma melodia melancólica. Aproximou-se da porta principal e hesitou antes de bater. "Será que Kaito está bem? E se ele não quiser falar comigo? E se a presença dele me lembrar ainda mais da Aki?", pensou, mas afastou as dúvidas com um suspiro pesado.

Com determinação renovada, ele ergueu o punho e bateu na porta.

Haru bateu na porta algumas vezes, mas não obteve resposta. Ele tentou girar a maçaneta e, para sua surpresa, estava destrancada. Empurrou a porta com cuidado, entrando no corredor silencioso que dava para a sala principal.

O cheiro familiar da casa o atingiu imediatamente. Era como se o tempo tivesse parado ali, preservando cada detalhe. Lavanda misturada ao perfume de Aki parecia estar impregnada nas paredes. Haru respirou fundo, sentindo o peso das memórias, mas forçando-se a continuar.

Ele deu alguns passos pelo corredor, notando que tudo estava exatamente como antes, exceto por um detalhe: o som abafado de música vindo da sala. Haru seguiu o som até encontrar Kaito sentado no sofá, de olhos fechados, com fones grandes cobrindo as orelhas. Ele estava recostado, a cabeça apoiada no encosto, e o pé batia levemente no chão ao ritmo da música.

Haru ficou parado por um momento, observando. Kaito parecia calmo à primeira vista, mas havia algo na postura dele que não passava despercebido para Haru. Talvez fosse o aperto nas mãos sobre o braço do sofá ou a forma como os ombros estavam tensionados, mesmo enquanto ele aparentemente relaxava.

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⏰ Última atualização: 17 hours ago ⏰

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